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Christine Lagarde é acusada em um caso de corrupção do Governo de Sarkozy

A Justiça francesa acusa a atual diretora-geral do FMI de negligência no ‘caso Tapie’

Gabriela Cañas
Christine Lagarde, no último mês de julho.
Christine Lagarde, no último mês de julho.Andrew Harrer (Bloomberg)

A justiça francesa acusou por "negligência" a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, de 58 anos, por sua participação no chamado ‘caso Tapie’, quando era ministra das Finanças de Nicolas Sarkozy. O assunto pelo qual é investigada Lagarde, que declarou à agência France Presse que não pensa em deixar o cargo, é  a concessão, em 2008, de 403 milhões de euros (1,2 bilhão de reais) que o Governo Sarkozy pagou como indenização pelos alegados prejuízos sofridos pelo empresário Bernard Tapie, amigo do então presidente da República, na venda da Adidas pelo Crédit Lyonnais. O montante da ajuda pública a Tapie foi decidido por uma comissão de arbitragem que o juiz Serge Tournaire qualificou no passado como um “simulacro”.

O ‘caso Tapie’ é um dos vários escândalos de corrupção que perseguem Nicolas Sarkozy. Cinco pessoas estão sob investigação formal por suspeita de fraude em grupo organizado: o próprio Bernard Tapie, beneficiário da ajuda pública; Maurice Lantourne, seu advogado; Pierre Estoup, um dos juízes da comissão de arbitragem; Stéphane Richard, ex-chefe de gabinete de Lagarde, e Jean-François Rocchi, presidente do consórcio que geria os fundos do Crédit Lyonnais.

Lagarde, que compareceu pela quarta vez perante os juízes como testemunha na última terça-feira,  foi acusada na mesma noite e declarou que, além de não se demitir de seu posto, recorrerá da decisão judicial. A acusação coloca em uma delicada situação a carreira política de Lagarde. Nesta quarta, Lagarde declarou à rede de televisão BFM que voltava imediatamente a Washington para retomar seu trabalho e que é "infundada" a acusação judicial de não ter sido vigilante sobre o procedimento que permitiu a ajuda pública a Tapie, acrescentando que durante três anos de investigação se tinha chegado à conclusão de que ela não havia cometido nenhuma irregularidade.

O ‘caso Tapie’ é intrincado e persegue Sarkozy e sua ministra Lagarde há anos. O bilionário francês Bernard Tapie, uma das maiores fortunas do país, vendeu a Adidas em 1993 ao banco semipúblico Crédit Lyonnais. Era a condição imposta por François Mitterrand para nomeá-lo ministro. Em pouco tempo, o banco vendeu a Adidas e obteve ganhos importantes, o que levou Tapie a denunciar o caso e obter, em primeira instância, a indenização de 135 milhões de euros por danos, acrescidos de juros. A Suprema Corte, porém, anulou a decisão.

Em 2008, seu grande amigo Nicolas Sarkozy, para o qual Tapie havia pedido o voto um ano antes, ressarciu com acréscimos os alegados prejuízos do empresário. O Ministério das Finanças formou uma “corte de arbitragem”, que decidiu pagar a Tapie 403 milhões de euros pelo litígio, o que escandalizou boa parte da população.

Em 2011, o Ministério Público acusou Lagarde de escolher uma mediação privada em vez de recorrer à via judicial, o que teria dado maior neutralidade ao processo. Também a criticou por “estar ciente da parcialidade de dois dos três árbitros” que participaram da mediação e de incluir a figura do “dano moral”, que favoreceu ainda mais os interesses de Tapie.

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