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A versão da polícia reaviva a ira racial em Ferguson

O chefe dos policiais acusa o jovem morto de roubo a uma loja e depois se contradiz

Manifestantes protestam no local onde morreu Michael Brown.
Manifestantes protestam no local onde morreu Michael Brown.R. R. (EFE)

O efeito apaziguador gerado na tarde de quinta-feira pela transferência da supervisão dos protestos em Ferguson da polícia local para a polícia estadual de Missouri, mais conciliadora, evaporou-se na sexta-feira das ruas desta localidade humilde de St. Louis. O estopim foi o primeiro relatório da polícia local sobre a morte, no sábado, do jovem negro desarmado, atingido por vários disparos de um policial. O incidente desencadeou os maiores protestos da comunidade negra – que representa dois terços da população – na área metropolitana de St. Louis, Meio Oeste dos EUA, em quase um século.

Depois de se recusar durante uma semana, alegando razões de segurança, o chefe de polícia de Ferguson, Tom Jackson, revelou na sexta-feira o nome do agente – Darren Wilson – que matou Michael Brown, de 18 anos, como exigiam as centenas de pessoas que protestavam desde sábado pedindo “justiça” e acusando a polícia – apenas três dos 53 agentes são negros – de atuar frequentemente por motivos racistas. O policial que atirou está há seis anos no cargo e não tem antecedentes disciplinares. A polícia não divulgou sua cor, mas testemunhas do tiroteio citadas pela imprensa local dizem que é branco.

A satisfação dos manifestantes com a divulgação de identidade, entretanto, durou poucos segundos. Nos trechos do relatório dos fatos divulgado pela polícia, Brown é identificado como suspeito de um assalto a loja de conveniência situada a cinco minutos da rua onde foi morto. Esse detalhe e a divulgação de supostas fotos do jovem no momento do roubo enfureceram rapidamente as dezenas de pessoas concentradas na manhã de sexta-feira no epicentro dos protestos, um posto de gasolina que foi incendiado no domingo e de onde o chefe de polícia fez o breve anúncio à imprensa. A família de Brown condenou as acusações de roubo, de acordo com seu advogado.

O mesmo policial caiu em contradição horas depois. Afirmou que o agente que atirou em Brown desconhecia a suspeita de envolvimento em assalto. Mandou-o parar só porque o jovem caminhava no meio da rua e atrapalhava o trânsito. Em relação à divulgação de imagens supostamente comprometedores, limitou-se a dizer que foram divulgadas a pedido da imprensa.

O diretor de polícia deixou rapidamente o local entre vaias. O consenso entre os manifestantes foi que a pessoa retratada nas imagens da câmera de segurança não era Brown porque, dizem, era menos corpulento e não usava sandálias quando morreu. “A fotografia é falsa e é muito suspeito que tenham demorado tanto tempo para achá-la”, bradava Gerald, um homem negro de 33 anos que estava com outras 200 pessoas no posto de gasolina gritando o slogan do mais recente surto de tensão racial nos EUA: “Sem justiça, não há paz”.

Os documentos – com alguns detalhes apagados – que a polícia forneceu à imprensa indicam que Brown era suspeito de roubar cigarros no estabelecimento localizado na mesma avenida em que fica o posto de gasolina. Os funcionários da loja depredada, cuja fachada está coberta com tábuas, não quiseram fazer declarações.

O relatório não detalha como o jovem morreu, nem estabelece uma relação entre o suposto roubo e sua morte. Em sua declaração, o chefe de polícia não especificou se existe uma conexão. Segundo a polícia, o rapaz atacou um policial; por outro lado, o amigo que o acompanhava diz que ele foi baleado com os braços para o alto. Diante da rua onde morreu o jovem – repleta de velas e mensagens – Anthony, primo de Brown, alertava que se o policial que atirou não for para a cadeia, “será o fim de St. Louis”.

Na sexta-feira à tarde, a indignação de Anthony e outros moradores diante da acusação de roubo pressagiava que os protestos noturnos seriam menos festivos e mais reivindicativos do que os da noite anterior. A decisão de retirar, nesse dia, a polícia local de Ferguson e substituí-la por agentes estaduais comandados por um chefe negro apaziguou os ânimos. Os 50 policiais – majoritariamente brancos, com equipamento militar, rifles e provisões de gás lacrimogêneo – e seus veículos blindados foram substituídos por poucos membros das forças de segurança a pé que conversavam com os manifestantes.

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