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Sob forte comoção, o Brasil tenta digerir a morte de Eduardo Campos

Em plena corrida eleitoral, o país entra em espera com as atenções voltadas para Marina Silva

Carla Jiménez
Eduardo Campos e Marina Silva em campanha.
Eduardo Campos e Marina Silva em campanha.Divulgação

As olheiras pronunciadas de Marina Silva ao falar da morte do companheiro de chapa, Eduardo Campos, nesta quarta-feira, não deixavam espaço para dúvidas. A tristeza é genuína para uma política que se notabilizou por trilhar seu próprio caminho, com uma história de vida tão sui generis como a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Analfabeta até os 16 anos, Marina, que nasceu em Breu Velho, no Seringal Bagaço, no Estado do Acre, no norte do país, superou a pobreza e trilhou uma carreira política que a fez ser vista como uma alternativa para o “Fla Flu” eleitoral entre PT e PSDB em 2010. Levou 20 milhões de votos, um resultado inesperado para qualquer analista político na ocasião.

A partir de agora, a ambientalista, que fundou o grupo político Rede Sustentabilidade, terá todas as atenções nacionais voltadas para ela, depois de optar por manter a discrição do cargo de vice ao lado de Campos. Foram dez meses de viagens pelo país, vendendo a aliança com o PSB, driblando as combinações que ela rejeitava, como a aliança com o PSDB para o Governo estadual em São Paulo, e sem ceder à tentação de deixar as divergências maiores que o acordo firmado com Campos. “Foram dez meses de intensa convivência, começamos a fiar juntos principalmente a esperança de um mundo melhor e mais justo. Eduardo estava empenhado com essas ideias até os últimos segundos de vida”, disse ela, num pronunciamento curto, ao lado de Carlos Siqueira, primeiro secretário do PSB.

Sabe-se, contudo, que Marina perdeu um companheiro de chapa, mas o PSB perdeu mais do que isso. Eduardo Campos era a maior esperança de uma projeção nacional do partido, que vinha avançando em número de deputados, governos e prefeitos eleitos a cada eleição. A legenda tem dez dias para definir quem vai encabeçar a chapa do partido, e tudo que se sabe é que há dois elementos fundamentais: a comoção com a morte do presidenciável, e a força política de Marina. Ela seria a herdeira natural para assumir a candidatura, mas as desavenças com integrantes do PSB eram conhecidas. Nesta quinta-feira, seu nome ganhou um aliado de peso. O advogado Antonio Campos, irmão do candidato peessebista, disse ao jornal O Estado de S. Paulo, que a ambientalista devia assumir a chapa. “Se meu irmão chamou Marina para ser sua vice, com esta atitude ele externou sua vontade”, disse Antonio Campos.

Seja qual for a decisão, precisará ser tomada com uma delicadeza cirúrgica para não ferir o sentimento do próprio eleitorado do PSB, que está de luto assim como a vice. “Em política aceita-se mais um político desonesto, do que um traidor”, observa o cientista político Fernando Abrúcio. Em outras palavras, Marina era a escolha de Campos, e a comoção em torno da sua morte deixou pouca margem de manobra para o partido. Marina só não seria candidata se ela não quisesse.

Mas a política brasileira vai entrar em compasso de espera, e os próximos dias serão de luto e apreensão, segundo Abrúcio. Tudo fica turvo no cenário político, neste momento em que os presidenciáveis cancelam seus compromissos de campanha, tentando entender o inesperado. Eles terão de refazer programas gravados, que passariam a partir de semana que vem no horário gratuito, e reprogramar suas agendas. Até os institutos de pesquisas, que começariam a ouvir eleitores nesta semana para uma nova sondagem, terão de ficar em suspenso diante do imponderável.

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