O Hamas se recusa a estender o prazo da trégua sem garantias
Israel propõe que a Alemanha e a União Europeia supervisionem a passagem entre Gaza e o Egito
O ministro israelense das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, propôs hoje que a Alemanha e outros países da União Europeia enviem inspetores às passagens fronteiriças de Gaza. É a primeira vez que uma proposta concreta de Israel inclui a supervisão internacional. “Não queremos governar lá novamente”, descartou o chanceler. O que está na mesa de negociação não é a abertura completa exigida pelo Hamas, mas permitiria aliviar o bloqueio. Em entrevista ao jornal alemão Bild, Lieberman argumenta que esta missão comum pode ajudar a “prevenir uma catástrofe econômica e humanitária” em Gaza. Descarta a presença de militares ou policiais em solo no local, mas não de “inspetores” que “controlem o comércio entre os palestinos e os Estados vizinhos”. “A UE pode nos ajudar a encontrar uma solução duradoura para Gaza”, disse ele, pedindo que a Alemanha – com a qual a relação de Israel é especialmente intensa – “assuma sua responsabilidade” como líder mundial.
Desde 2005, após a saída dos colonos e das tropas israelenses, a União Europeia mantém a missão EUBAM Rafah para supervisionar a passagem de pessoas entre Gaza e Egito. Sua atividade foi suspensa em 2007 com a chegada do Hamas ao poder, mas a missão ainda existe. Tem sede em Tel Aviv, quatro funcionários da UE, cinco locais, um orçamento de 940.000 euros (2,8 bilhões de reais) e mandato até junho de 2015, segundo a sua página de internet. “Manteve a sua capacidade de posicionar-se rapidamente quando as condições políticas e de segurança permitirem”, acrescenta.
O escritório da UE em Tel Aviv confirma que a Alemanha, a França e o Reino Unido já pensam em reativar a missão. De Berlim, o ministro das Relações Exteriores, Frank Walter Steinmeier, acrescenta que estão sendo realizadas “várias reuniões” para saber quem e como poderia participar nesse controle dos postos fronteiriços, informa a Reuters.
A imprensa israelense explica que essas mesmas nações estariam impulsionando um plano para Bruxelas coordenar a reconstrução de Gaza, o que, segundo estimativa das Nações Unidas, custaria cerca de 5 bilhões de euros (15 bilhões de reais). A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) agradece a oferta, mas lembra que o controle dessas obras ficará a cargo do Governo de unidade palestino, “que não é o Hamas, que não é o que Israel decidir, mas que é formado por tecnocratas independentes”. Esse gabinete já está em contato com a ONU e “várias ONGs internacionais” para planejar a reconstrução.
Em uma verdadeira corrida contra o tempo, os mediadores egípcios tentaram na quinta-feira convencer os representantes do Hamas a reduzir suas exigências e concordarem em prorrogar em mais 72 horas a trégua entre o movimento palestino e Israel, que termina às oito da manhã (2h em Brasília). Incapazes de chegar a uma solução duradoura para o conflito de 28 dias devido ao abismo entre as demandas palestinas e israelenses, os esforços diplomáticos se concentraram em estender o prazo de negociação.
"O objetivo do Egito é estender a trégua com o acordo de ambas as partes e começar as negociações para um cessar-fogo permanente e a suavização das restrições na fronteira”, declarou uma fonte oficial egípcia próxima às negociações iniciadas quarta-feira no Cairo. Como ambas as partes evitam o contato direto – Israel considera o Hamas um grupo terrorista e o movimento palestino não reconhece o Estado judeu –, os funcionários do serviço de inteligência egípcio, que atuam como mediadores, transmitem o posicionamento e as propostas de uma delegação para outra. No Cairo há um enviado do Departamento de Estado, Frank Lowenstein, para ajudar as partes no processo de diálogo.
Na quarta-feira, o governo israelense respondeu positivamente à proposta egípcia de estender a trégua por mais 72 horas. O Hamas rejeitou. A milícia islâmica insiste em receber garantias quanto à aceitação de suas exigências antes de se comprometer com um novo cessar-fogo. O Hamas exige a suspensão do bloqueio a Gaza, a libertação de prisioneiros palestinos detidos desde junho e a construção de um porto e um aeroporto.
Israel, que aceita uma flexibilização do bloqueio a Gaza, fez da desmilitarização da Faixa sua principal exigência nas negociações. A ideia, que recebeu o apoio público do secretário de Estado norte-americano, John Kerry, foi duramente criticada pelo principal negociador do Hamas, Musa abu Marzuq. “As armas da resistência palestina são a única garantia de qualquer acordo, e os Estados Unidos podem não ser seus fiadores. O embargo a Gaza foi decisão sua e suas armas a destruíram”, tuitou o líder islâmico. Os mediadores egípcios estão tentando convencer os dois lados a deixar as questões mais espinhosas para uma fase mais avançada do processo de negociação.
Para o presidente dos EUA, Barack Obama, não será possível alcançar uma solução para Gaza enquanto Israel não concordar em aliviar a situação dos habitantes de Gaza, informa Silvia Ayuso de Washington. Obama advertiu que o Hamas deve parar seus ataques e acrescentou: "No longo prazo, será preciso reconhecer que Gaza não pode sustentar-se enquanto permanecer isolada do mundo e for incapaz de oferecer alguma oportunidade, empregos e crescimento econômico a sua população”, disse Obama. O presidente norte-americano também alertou Israel para o perigo de deixar o presidente Mahmoud Abbas, e portanto a Cisjordânia, fora das negociações no Egito.
“Não sinto simpatia alguma pelo Hamas. Mas sinto grande simpatia pelo trabalho realizado pela Autoridade Palestiniana em cooperação com Israel e a comunidade internacional”, disse Obama, acrescentando que o Governo Abbas “provou ser responsável” e que “está preparado para chegar a uma solução de dois Estados”. O presidente norte-americano reconheceu que o conflito em Gaza “enfraqueceu” Abbas.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.