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Israelenses e palestinos iniciam negociações sobre Gaza no Cairo

As duas delegações, com mediação do Egito, buscam nesta sexta-feira uma solução duradoura

Um jovem palestino em um edifício destruído na Faixa.
Um jovem palestino em um edifício destruído na Faixa.MAHMUD HAMS (AFP)

A atual trégua entre israelenses e as milícias palestinas é a parte fácil da solução. Calma em troca de calma, para que o silêncio permita escutar o que as partes têm a dizer. O complicado é fazer com que essas exigências se encaixem onde existe um abismo. O relógio corre contra o tempo e a extensão do cessar-fogo parece ser a única via para dar tempo para a diplomacia. Ambas as partes estipularam um prazo de 72 horas a partir das 8h na hora local na terça-feira para negociar uma saída duradoura, mas parece muito árduo resolver nesse prazo um conflito de anos.

Israel defende ampliar a trégua, enquanto o Hamas afirma que não há acordo

Israel e os mediadores egípcios concordam em ampliar o prazo. "Esperamos que o cessar-fogo possa ser estendido para dar uma opção real às negociações, que seja ampliado o quanto possível e se transforme em um cessar-fogo permanente", declarou nesta quarta-feira o ministro de Relações Exteriores egípcio, Sameh Shukry. Enquanto isso, Moussa abu Marzuz, um dos representantes do Hamas nas negociações no Cairo, afirmou em sua conta no Twitter que não há acordo para prorrogar a trégua.

As exigências dos grupos islâmicos já são "de todo o povo palestino". O presidente Mahmud Abbas e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) adotaram as demandas. Implicam a retirada total de Israel de Gaza, o fim do bloqueio imposto em 2007 — quando o Hamas tomou o poder —, a libertação de presos das facções — principalmente os mais de 500 presos em junho nas buscas depois do desaparecimento e assassinato de três jovens judeus na Cisjordânia— e ajuda internacional para a reconstrução.

Israelenses e palestinos iniciam a negociação sobre Gaza no Cairo (legendas em espanhol).Foto: reuters_live | Vídeo: REUTERS LIVE!

Israel pede a completa desmilitarização da Faixa palestina e medidas que impeçam um rearmamento. "Com isso, será possível um período mais longo de estabilidade e segurança para o país", afirma Mark Regev, porta-voz do Governo de Benjamin Netanyahu. Izzat Rishq, uma autoridade do Hamas, responde que seu braço armado vai "acabar com quem se atreva a tomar as armas da resistência".

Netanyahu mostrou satisfação de que "a situação é melhor e mais segura do que era antes da operação", uma afirmação baseada na destruição de túneis e nos danos causados sobre os comandos e arsenais dos grupos islâmicos. "Nosso objetivo foi e continua sendo proteger os civis [israelenses]", lembrou. O primeiro-ministro defendeu os ataques como "proporcionais", disse lamentar a morte de civis e acrescentou: "Eles não eram nosso objetivo, nem nosso inimigo. A tragédia de Gaza vem da tirania e do fanatismo do Hamas".

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Ambas as partes reconhecem que é possível conseguir uma solução que atenda as exigências dos dois lados. Os Estados Unidos defenderam, por meio de seu secretário de Estado, John Kerry, a abertura de passagens que ajudem a enviar bens básicos para Gaza, a reconstrução da zona e uma maior "liberdade" aos moradores da região. Esse aval de Washington poderia levar a uma abertura da passagem entre Gaza e o Egito. Fontes palestinas confirmam que a inteligência egípcia avaliou a situação e, com o empurrão norte-americano, poderia concordar.

Hamas, sabendo que o fim completo do bloqueio é uma quimera, pede passagens concretas, como um porto e um aeroporto. A solução poderia ser uma supervisão internacional — cogita-se da UE. Os principais analistas israelenses reconhecem que deixar Gaza nas mãos do novo Governo de unidade palestino, embora inclua o Hamas, também seria a opção mais viável.

Os israelenses, com o apoio dos EUA, sabem que a desmilitarização não pode ser total e imediata, mas pode ser implementada também no marco desse novo Gabinete palestino, que tem entre seus propósitos acabar com as milícias e integrar seus membros às forças policiais. Netanyahu vincula esse desarmamento à permissão de acesso ao que seja necessário para reconstruir Gaza. Os danos superam os cinco bilhões de euros (cerca de 15 bilhões de reais). Se não houver atrito entre as partes, podem decidir manter a trégua atual até que, no padrão clássico da região, volte a acontecer uma crise importante.

Obama indica que Gaza precisa de um alívio do bloqueio

Silvia Ayuso

O presidente Barack Obama ofereceu nesta quarta-feira todo o apoio dos Estados Unidos às negociações entre palestinos e israelenses que começaram no Cairo depois da trégua negociada em Gaza. Durante uma coletiva de imprensa em Washington, reafirmou a necessidade de garantias para Israel que não haverá mais ataques do Hamas a partir da Faixa, mas também destacou a importância desta conversa, que dará aos habitantes de Gaza "alguma esperança" para o futuro.

“A longo prazo, é preciso reconhecer que Gaza não pode se manter sozinha enquanto permanecer isolada do mundo de forma permanente e seja incapaz de proporcionar alguma oportunidade, empregos e crescimento econômico à sua população”, disse Obama. São necessárias medidas para que os “cidadãos normais e atuais” de Gaza “tenham alguma sensação de esperança” para o futuro, insistiu.

Obama se mostrou convencido de que há “fórmulas possíveis” para conseguir satisfazer a necessidade de segurança israelense com uma “abertura” para a população de Gaza, mas reconheceu que isso requer que os políticos estejam dispostos a assumir “riscos” e uma “lenta reconstrução da confiança”, algo “muito difícil”, reconheceu depois de semanas de conflito.

Além disso, fez uma especial menção à importância de “envolver” a Autoridade Palestina Mahmud Abbas na negociação política com Israel porque, alertou, o conflito “enfraqueceu” uma Cisjordânia que também “poderia ter perdido a confiança”. “Temos que reconstruir isso”, enfatizou Obama.

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