Pelo menos 17 morrem em combates entre jihadistas sírios e soldados libaneses
Fundamentalistas ligados à Frente Al Nusra e ao Estado Islâmico entram no Líbano para libertar um de seus líderes preso pelo exército libanês
Os combates entre fundamentalistas islâmicos sírios da frente Al Nusra e do Estado Islâmico (EI) e o Exército libanês deixaram pelo menos 17 mortos, incluindo 11 soldados libaneses, e 30 feridos nas últimas 48 horas. Dezoito policiais libaneses são mantidos reféns pelos fundamentalistas sírios entrincheirados na cidade libanesa de Ersal, a 12 quilômetros da fronteira com a Síria.
Os combates se intensificaram na tarde deste domingo, com uma troca de morteiros entre as posições dos rebeldes e do Exército libanês no topo das montanhas no entorno de Ersal. Os islamitas tomaram o controle de um posto militar libanês.
A captura, pelo Exército libanês no sábado, de Imad Ahmed Jomaa, um líder islâmico ligado ao EI, foi o estopim para que um grande número de milicianos sírios da Al Nusra e do EI – que chegaria a 2.000, segundo algumas testemunhas – entrasse no Líbano para libertar o prisioneiro . Os milicianos tomaram o controle da cidade e da delegacia de polícia local. “Pegaram várias viaturas policiais, as armas que estavam na delegacia e 18 policiais. Tentamos negociar a libertação, mas não vão ceder enquanto não devolvermos seu líder”, relatou por telefone Ahmed Flety, vice-prefeito de Ersal. Em um vídeo postado na Internet, os policiais eram forçados a declarar que desertavam do Exército libanês em protesto contra a ingerência da milícia xiita Hezbollah (aliada do regime de Bashar al-Assad), na Síria.
À guerra de morteiros juntou-se o Hezbollah que, apesar de tentar agir com discrição e ceder o protagonismo ao Exército libanês, ocupa posições-chave nos arredores de Ersal. “O Hezbollah está ocupando as casas abandonadas nas colinas no entorno de Ersal. Agora começarão a lançar morteiros burkan, que são muito potentes, para acabar com os fundamentalistas”, tenta contar Ab Qasam, simpatizante do Hezbollah, cujo testemunho é truncado pelo som ensurdecedor de um morteiro lançado poucos metros atrás dele.
O Exército libanês e o Hezbollah tentam, a partir do território libanês, fechar o cerco aos fundamentalistas entrincheirados em Ersal, enquanto a Força Aérea síria age a partir de seu território, bombardeando as montanhas onde se escondem os rebeldes. Não é a primeira vez que a guerra síria transborda para o território libanês; há meses o conflito reverbera em outros bastiões sunitas no norte do Líbano. “Este ataque foi deliberado. Al Nusra e o EI estão tentando entrar em Ersal há várias semanas. Até agora havia um acordo tácito entre os rebeldes e Ersal de que a entrada de milicianos sírios poria em perigo suas próprias famílias, que buscaram abrigo na cidade como refugiados. Ahmed Jomaa não é nem mesmo um líder importante, mas uma desculpa para trazer a guerra ao Líbano”, disse um funcionário da prefeitura de Ersal em condição de anonimato.
Como se temia e após várias altercações entre os rebeldes e o Hezbollah nos últimos quatro anos, Ersal tornou-se o símbolo da divisão dos libaneses em relação ao conflito sírio e no tabuleiro dos primeiros confrontos diretos entre grupos rebeldes sírios e soldados libaneses. Oásis sunita no meio do Vale do Bekaa, controlado pelo Hezbollah, Ersal se posicionou abertamente a favor dos rebeldes desde o início do conflito. O Hezbollah apoia o regime de Bashar al-Assad.
Enxotados da Síria pelo Hezbollah e pelo Exército sírio, que tentam esmagar os bolsões rebeldes na região de Qalamoun, mil combatentes fundamentalistas se refugiaram nos últimos meses nas montanhas que separam o Líbano da Síria. Diferentemente do que ocorre com outras áreas rebeldes, em Qalamun a Al Nusra e o EI colaboram em operações conjuntas. Desde o início do conflito sírio, em março de 2011, Ersal tem sido simultaneamente ponto de saída de centenas de combatentes libaneses que se juntaram aos rebeldes sírios, e de entrada para 120.000 refugiados sírios que quadruplicaram o número de habitantes da cidade.
Com o recrudescimento dos combates, dezenas de veículos fugiam de Ersal neste fim de semana. A bordo de um caminhão, uma vintena de crianças, mulheres e homens oriundos da cidade conseguiam escapar cruzando os postos militares com os rostos marcados pelo medo e pela falta de sono. “Foi uma noite horrível entre bombardeios e tiroteios. Homens armados controlavam o centro da cidade. Escapamos por milagre”, contou Abu Mazen do alto do caminhão.
Pior sorte tiveram os demais 35.000 libaneses e 120.000 refugiados sírios presos em Ersal. Farah Hemede, libanesa de 42 anos, conta que conseguiu fugir com seus familiares para a casa de parentes longe de Ersal. Os refugiados sírios, sem veículos nem lugar para onde fugir, não têm como sair. “Vários morteiros atingiram o acampamento onde estávamos e várias barracas pegaram fogo. Conseguimos fugir para outro campo mais distante. Chegamos a Ersal um ano atrás fugindo da guerra em Qusair, e agora a guerra volta para nós no Líbano. Já não temos onde nos esconder”, lamentava-se por telefone Abu Mazen, refugiado sírio e pai de quatro filhos.
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