Encontrados no Mali os destroços do avião com 116 pessoas a bordo
A aeronave fazia a rota entre Burkina Faso e Argel, na África Quatro países rastreavam a região
Os restos do avião da Air Algérie que transportava a 116 pessoas a bordo e que desapareceu na quinta-feira foram encontrados ao sul da cidade de Gao, no Mali, perto da fronteira com Burkina Faso, segundo informaram nesta madrugada fontes oficiais malinenses. França, Argélia, Níger e Mali participaram na busca do avião. Pouco depois de decolar (entre meia e uma hora), o voo AH5017, procedente de Ouagadougou (Burkina Faso) e com destino a Argel, desapareceu dos radares e perdeu o contato com as autoridades de aviação civil argelinas.
O desaparecimento do avião, um MD-83, propriedade da empresa espanhola Swiftair, mas operado pela Air Algérie, está cheio de pontos obscuros em uma semana de grande sensibilidade com tudo o que se refere a incidentes em voos depois da derrubada de um avião na Ucrânia e o acidente de outro em Taiwan.
SEPLA: “A responsabilidade final é sempre do operador”
A Swiftair arrendava o aparelho da Air Algérie dentro de uma modalidade de contrato conhecida como wet lease, que inclui o aluguel da aeronave, da tripulação e, geralmente, do seguro de voo, embora isto só possa ser confirmado pelas empresas envolvidas.
Eduardo Cadenas, diretor de relações institucionais do Sindicato Espanhol de Pilotos de Linhas Aéreas (SEPLA), explica que as responsabilidades civis devem ser determinadas depois que forem conhecidos os termos do contrato entre a Swiftair e a Air Algérie. “A responsabilidade final é sempre do operador”, diz Cadenas. “Outra coisa é que no contrato elementos como a manutenção pode estar nas mãos de um ou de outro, ou até mesmo com uma terceira parte. Dependendo do contrato, as responsabilidades serão compartilhadas ou caberão a uma ou outra parte, de acordo com as condições”.
O responsável pela investigação de uma ocorrência desta natureza, normalmente, é o país em cujo território ocorreu o acidente ou a desaparição. A Swiftair é uma pequena empresa com 30 aeronaves de média ou baixa tonelagem. A maior parte de sua frota é de carga. Segundo o SEPLA, também opera regularmente para companhias como a Air Europa e a Air Algérie, ou organizações como a OTAN.
O voo decolou da capital de Burkina Faso à 1h17 (22h17 horário de Brasília) e deveria chegar a Argel às 5h11 (1h11 em Brasília). A última coisa detectada nos radares, quando sobrevoava o Saara do Mali, ainda a 500 quilômetros da fronteira com a Argélia, foi uma inesperada mudança de rumo sobre o itinerário previsto. A televisão estatal malinense, citando fontes oficiais, garantiu nesta madrugada que os restos do aparelho foram localizados ao sul de Gao e que o presidente Ibrahim Bubacar Keita visitará o local na sexta-feira.
Pela falta de uma explicação oficial, da Air Algérie, das autoridades argelinas ou da empresa espanhola, essa modificação da rota levou vários especialistas a considerar a hipótese de um imprevisto meteorológico.
Segundo esta teoria, a aeronave não conseguiu suportar alguma forte inclemência meteorológica ou as perturbações causadas pelo que os pilotos veteranos da região conhecem como FIT (Frente Inter Tropical). Não se sabe se isso teria obrigado a um pouso forçado ou provocado o acidente.
A outra hipótese mais citada - sem a apresentação de nenhuma prova - é que o MD-83 sofreu algum ataque com míssil ou bomba colocada em seu interior. Alguns analistas descartam esta tese argumentando que um avião em pleno voo e à velocidade de cruzeiro é muito difícil de alcançar da terra com um míssil portátil como os que costumam utilizar as guerrilhas. Por seu lado, as autoridades de Burkina Faso se apressaram em demonstrar que o aeroporto de sua capital conta, há muito tempo, com detectores de explosivos e que, portanto, nenhuma bomba poderia entrar na aeronave.
O que não é especulação é que a zona onde o avião desapareceu é famosa por seus múltiplos problemas. Aviões militares da França, que contribuiu com 50 pessoas nas buscas e parece ter a posição mais pessimista, estão procurando indícios do aparelho no norte do Mali, entre Gao e Kidal, a 500 quilômetros ao sul da fronteira com a Argélia, em uma região desértica na qual as forças militares francesas protagonizaram em 2003 uma intervenção contra as milícias islâmicas do Movimento pela Unidade da África do oeste (Mujao).
O tipo de aeronave, um MD-83, fabricação em 1996, é considerado muito velho por alguns especialistas e mais frágil que um Boeing 727 na hora de enfrentar as turbulências geradas pelos choques das massas de ar tropical continental, quente e seco, contra o ar tropical marítimo, fresco e úmido, que os mais veteranos localizam nesse cruzamento aéreo do deserto.
As autoridades argelinas demoraram para comunicar dados confiáveis sobre os passageiros, inclusive as nacionalidades. Finalmente, foi divulgado que dentro da nave viajavam 51 franceses, 24 pessoas de Burkina Faso, 8 libaneses, 6 argelinos, 5 canadenses, 4 alemães, 2 luxemburgueses e pelo um passageiro da Nigéria, Egito, Suíça, Ucrânia, Romênia, Mali, Bélgica e Camarões. Foi informado que havia três ocupantes ainda não identificados. E toda a tripulação, os dois pilotos e os quatro assistentes de cabina, eram espanhóis.
As cenas de dor se reproduziram em diferentes continentes. Na Argélia, o governo montou rapidamente uma célula de crise e o ministro se deslocou até o aeroporto da capital, onde atendeu alguns familiares. O governo francês de François Hollande também se mobilizou e o presidente compareceu finalmente frente à magnitude da tragédia para demonstrar que seguia diretamente os acontecimentos.
Na Espanha, o Ministério de Fomento também criou um gabinete de crise, enquanto a Navegação Aérea e a Aviação Civil contataram as autoridades de Burkina Faso, Mali e Argélia para coletar informações. O Ministério das Relações Exteriores também alertou suas embaixadas na África.
Na Argélia alguns meios de comunicação identificaram como um dos passageiros do vôo o comandante Debaili Lotfi, muito popular e conhecido por ser filho de um líder político veterano da Frente das Forças Socialistas.
Agora, segundo as normas da aviação, o país onde caiu a aeronave deve conduzir a investigação. Se julgar que não tem condições de realizar a tarefa, poderá delegá-la a outra autoridade.
A França mobiliza “todos os seus recursos” no local
A França mobilizou “todos os seus recursos” militares e civis na área para localizar os destroços da aeronave operada pela Air Algérie, que desapareceu na fronteira entre o Mali e a Argélia. “Tudo parece indicar” que o aparelho que fazia a rota de Ouagadougou para Argel com 116 pessoas a bordo – incluindo 51 franceses a caminho da França – “caiu”, disse na quinta-feira o presidente francês, François Hollande. Em Paris, os procuradores abriram uma investigação preliminar por homicídio culposo. Segundo fontes diplomáticas, a França ofereceu à Espanha que também tome parte nesta causa, informa Miguel González.
“As buscas durarão o tempo que for necessário, é preciso fazer todo o possível para encontrar o avião”, disse Hollande, depois de convocar uma reunião de crise com o premiê Manuel Valls e vários ministros. Hollande confirmou que se perdeu contato com o aparelho logo depois de a tripulação anunciar que faria um desvio de rota por causa do mau tempo. “Acho que de todas as famílias estão angustiadas e quero transmitir a elas a solidariedade minha e de toda a nação”, disse o presidente.
Entre os recursos mobilizados estão dois aviões Mistral pertencentes à missão francesa no Mali, que sobrevoaram na quinta-feira a área do possível acidente em busca dos destroços. As operações cobriam uma vasta zona do território malinês na região de Gao, disse o ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius. “Apesar da busca intensa, ainda não foram encontrados vestígios da aeronave”, acrescentou o ministro. Desde que se soube da notícia, o Ministério das Relações Exteriores criou uma unidade de crise para coordenar informações entre os diferentes ministérios.
A notícia foi recebida com grande comoção na França, país de cidadania de quase metade dos passageiros. A maior parte faria escala em Argel com destino a Paris, Lyon e Marselha. Equipes de assistência médica e psicológica se instalaram nesses aeroportos para atender as famílias das vítimas que vinham em busca de informações. Como disse na quinta-feira o diretor-geral da Aviação Civil, Patrick Gandil, o avião da empresa espanhola Swiftair tinha passado por uma revisão há “dois ou três dias” em sua escala em Marselha. “Estava em boas condições”, disse ele.
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