O governador do Texas envia soldados à fronteira com o México
As organizações não-governamentais dizem que Perry está usando a Guarda Nacional para enfrentar crianças
O governador do Texas, Rick Perry, anunciou nesta segunda-feira o envio de 1.000 soldados da Guarda Nacional à fronteira com o México para combater a entrada no país de imigrantes centro-americanos menores de idade, que inundaram os abrigos do Estado.
Em junho, Perry ordenou que o Departamento de Segurança Pública (DPS) iniciasse operações de controle na fronteira para combater o que descreveu como uma “onda de imigração ilegal”. Dentro do quadro da “Operação Segurança Forte”, ele destina 1,3 milhão de dólares (2,66 milhões de reais) por semana para o reforço de pessoal e tecnologia.
Seu gabinete destacou os resultados dessa operação e atribuiu ao efeito dissuasivo dos agentes na zona da fronteira a queda de 36% no número de apreensões nas últimas três semanas, que caíram de 6.600 para 4.200.
Na reunião entre Rick Perry e o presidente Barack Obama realizada há duas semanas, Perry pediu a ativação de 1.000 soldados da Guarda Nacional para apoiar as operações de segurança, até que 3.000 agentes da Patrulha de Fronteira possam ser treinados e deslocados para a região.
O presidente pareceu aberto à ideia, mas a pôs sobre a mesa dentro do quadro das negociações de um pacote orçamentário adicional de 3,7 bilhões de dólares (8,21 bilhões de reais), apresentado ao Congresso, para lidar com a crise das crianças imigrantes.
Os senadores democratas criticam o governador, vendo a medida como “jogada política”
Enquanto as negociações continuam em Washington, Perry decidiu intervir e enviou os soldados com verbas locais. “A ação que estou ordenando hoje fará frente à crise, multiplicando os esforços para combater a atividade dos cartéis, traficantes e criminosos que ameaçam a segurança dos habitantes do Texas e dos americanos”, afirmou o governador.
A decisão do governador suscitou críticas acirradas. Senadores democratas que acabam de visitar a fronteira a interpretam como medida política. “Os menores centro-americanos estão se entregando à Patrulha de Fronteira”, comentou a senadora Mazie Hirono, do Havaí. “Não vejo como o envio da Guarda Nacional à área vai mudar isso.”
“Se ele pensa que com isso vai barrar o fluxo de crianças, está alucinando”, disse o senador Richard Blumenthal, do Connecticut.
Em 2010 Obama enviou 1.200 soldados da Guarda Nacional à fronteira, onde permaneceram por 11 meses. De acordo com especialistas em segurança da fronteira como Muzaffar Chishti, do Instituto de Política Migratória (MPI), a decisão do presidente não teve repercussões concretas para a segurança da fronteira.
“Eles ficaram ali por tempo limitado porque as pessoas perceberam que sua utilidade para garantir a segurança da fronteira é mínima. Eles basicamente realizam atividades de apoio. Não podem efetuar prisões, por exemplo. Este não é o caso de uma fronteira porosa por onde as pessoas estejam se infiltrando – elas querem ser apreendidas pelos agentes”, explicou.
No âmbito local, legisladores republicanos como Jeff Leach, de Plano, apoiaram a decisão do governador, enquanto democratas como Juan Hinojosa, de McAllen, a qualificaram de uma militarização da fronteira.
Organizações como a Rede de Defesa dos Direitos Humanos na Fronteira, localizada em El Paso, se opuseram à iniciativa de Perry. “É uma decisão deplorável. Ele está enviando soldados para enfrentar crianças. Isso não tem a ver com segurança, mas com as ambições políticas do governador”, disse Fernando García, diretor executivo da organização, aludindo à possível candidatura de Perry às eleições presidenciais de 2016.
Hoje mais de 18.000 agentes vigiam a fronteira, mais ou menos o dobro do número registrado dez anos atrás.
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