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Semifinais

A semifinal deixa o Brasil monotemático: chegar à final da Copa

Apenas um assunto domina as conversas nas ruas nesta terça-feira pelo país

A torcida se pinta com as cores do Brasil.
A torcida se pinta com as cores do Brasil.PIYAL ADHIKARY (EFE)

De quanto o Brasil vai ganhar da Alemanha? Quatro a zero, respondeu o entrevistado de uma rádio em São Paulo para o locutor que lhe perguntava. O porteiro de um prédio na zona oeste da cidade foi mais modesto: um a zero. Para o taxista, ganharemos na prorrogação. E para outro torcedor, nos pênaltis. Nesta terça-feira o Brasil é monotemático: passar para a final da Copa do Mundo, superando a poderosa Alemanha, cujo time é muito respeitado no país.

Não por acaso, um torcedor apelou para um pouco de superstição: decidiu usar a camiseta da seleção que vestiu quando assistiu ao jogo do Brasil contra a Alemanha na final da Copa de 2002. Na ocasião, a seleção brasileira bateu os alemães por dois a zero, garantindo a euforia do pentacampeonato.

Nas ruas, no metrô, nos ônibus, todos estão com algum elemento verde ou amarelo. Camiseta, brinco, colar, pulseira. Tudo para transformar o astral do dia, para garantir o clima de festa. As empresas ainda liberaram seus funcionários mais cedo – algumas deram folga mesmo –para poder assistir à partida. O que não deixa dúvidas de que existe um consenso, talvez estranho para o resto do mundo: torcer pelo Brasil no futebol é quase um dever cívico.

Sim, à medida que o Brasil foi avançando, o brasileiro foi se rendendo ao feitiço do futebol, vestindo a camiseta da seleção. As mulheres decidiram pintar as unhas de verde e amarelo. Os homens forraram seus carros com bandeiras ou flâmulas do Brasil. E todos, sem exceção, têm uma opinião sobre os jogos, amplamente divulgadas nas mesas de bares ou nas redes sociais. Essa realidade é vista a olho nu em qualquer esquina de qualquer cidade do país. Mas uma pesquisa do instituto Datafolha, realizada em 177 cidades, nos primeiros dias de julho, confirmou essa percepção: se em junho apenas 51% dos entrevistados admitiam apoiar a Copa do Mundo, agora são 63%.

O Brasil desta terça-feira não tem nada a ver com o prenúncio de guerra de manifestações e de um desprezo planejado que haveria por parte da população. Só sendo brasileiro para entender isso. Como bem previa dias antes o escritor Luís Fernando Veríssimo, toda raiva ou revolta com o evento iria se derreter aos primeiros dribles em campo de Neymar ou David Luiz.

Desde que o Mundial começou, no dia 12, a profecia de Veríssimo vem se confirmando. Depois que Neymar saiu lesionado do campo na partida contra a Colômbia, no último dia 4, aumentou a sensação de que a torcida fará diferença. O país passou do medo de perder esta partida decisiva, para o de superação: vencer a Alemanha é uma dívida a ser paga com o craque da camisa 10.

Não temos Neymar em campo, mas ele está por todos os outros lugares: nas redes sociais, com a mobilização dos torcedores por sua recuperação, nos noticiários, nas coletivas de imprensa, onde os jornalistas tentam desvendar quem será seu substituto, e nas arquibancadas, em forma de máscara com seu rosto. Nesta terça-feira, o Mineirão está repleto de Neymar.

O clima de pessimismo exacerbado que ficou desde as manifestações, que vinham embalando o Brasil desde junho no ano passado, simplesmente não existe nos dias de hoje. Segundo um levantamento da Stochos Sports & Entertainment, 77% dos torcedores acreditam hoje que a seleção brasileira vai levantar a taça da Copa do Mundo.

Em março do ano passado, esse percentual era de 66%. Os números dão força também para a confiança. O Brasil perdeu em uma semi-final da Copa apenas uma vez, em 1938, contra a Itália.

O levantamento do Datafolha, porém, ainda mostra que há um contingente relativamente alto, de 27%, dos que se consideram contrários à realização da Copa – eram 35% no levantamento anterior. A população não esqueceu o que pediu nas manifestações. Mas, muitos perceberam que é melhor dar um tempo, uma trégua para celebrar, pois fica difícil resistir ao clima de festa.

No Brasil, aliás, já está se prevendo a depressão pós Copa, uma vez que foram dias de espetaculares partidas, que estimularam reuniões de amigos, churrascos com a família, e uma invasão de estrangeiros neste período. Os visitantes se contagiaram com a festa, e elogiaram a camaradagem dos brasileiros. Nada melhor, depois da surra de críticas a que o país foi submetido nas prévias do Mundial em função dos gastos e da falta de organização. Tudo é verdade, mas é verdade também que o fascínio dos brasileiros com o futebol é um santo remédio para o pessimismo.

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