A Justiça liberta o suspeito de chefiar a rede de revenda de ingressos
Raymond Whelan, diretor de uma empresa ligada à FIFA, foi liberado após pagar uma fiança de 5.000 reais e dar garantias de que não deixará o Rio
O diretor-executivo da empresa Match Services, Raymond Whelan, preso ontem pela polícia brasileira no hotel Copacabana Palace, foi liberado às cinco da manhã (horário de Brasília) desta terça-feira, depois de entrar com um pedido de habeas corpus, pagar uma fiança de 5.000 reais e dar garantias de que não deixará a cidade. A Match é uma empresa associada à FIFA e que possui direito exclusivos para a venda e gestão de pacotes de ingressos de luxo para a Copa do Mundo de 2014 e é controlada pela Infront, empresa que tem como um de seus acionistas Philip Blatter, sobrinho do presidente da FIFA, Joseph Blatter, e que está hospedado também (junto com a cúpula da entidade) no mesmo hotel na praça de Copacabana.
Whelan, de 64 anos, é o principal suspeito de encabeçar a rede internacional de revenda de entradas da Copa desarticulada na semana passada no Rio e em São Paulo, que antes de chegar a Whelan já havia causado a prisão de 11 pessoas. A polícia considera já ter provas de que Whelan e Fofana organizaram um negócio ilegal de revendas de entradas para os jogos da Copa do Mundo, e os lucros por jogo poderiam chegar a dois milhões de reais; o grupo teria 30 pessoas. A Match informou que Whelan, responsável pelos registros em hotéis da Copa do Mundo, continuará trabalhando na organização do torneio e se mudará para a Barra da Tijuca, onde também há um escritório da Fifa.
O recurso que deu a liberdade a Whelan foi aceito pela juíza Marília Castro Neves Vieira, que considerou a prisão ilegal e arbitrária. O passaporte do britânico foi entregue à Justiça como gesto de boa vontade; espera-se que ele preste depoimento nas próximas horas. Whelan esteve preso por doze horas em uma cela especial do 18º DP na Praça da Bandeira, no centro da cidade . Aparentemente surpreso por ter sido preso, o britânico negou ter qualquer relação com o empresário argelino naturalizado francês Mohamadou Lamine Fofana, preso na semana passada, apesar da polícia (com autorização judicial) ter registrado 900 contatos telefônicos entre os dois homens, ambos estreitamente ligados ao futebol brasileiro. A polícia considera que Whelan, que mora no Brasil há mais de dois anos, era o responsável pela entrega de parte das entradas que depois eram revendidas ilegalmente por Fofana e sua rede.
Segundo o delegado responsável pela investigação, Fabio Barucke, um dos homens detidos havia confessado que esta é a quarta Copa do Mundo em que eles exerciam esta atividade. “O lucro era tão alto que eles podiam esperar de uma Copa até a outra”, afirmou. Os suspeitos enfrentam acusações de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e comércio ilegal. Na suíte de Whelan no hotel, os agentes da polícia apreenderam dinheiro, vários telefones celulares, ingressos para a final da Copa do Mundo, um computador e documentos, segundo o jornal O Globo. Whelan foi também um dos consultores contratados pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para colaborar na preparação do evento quando a entidade ainda era dirigida por Ricardo Teixeira, que hoje vive em Miami e foi culpado pela FIFA de haver recebido subornos milionários junto de seu ex-sogro e ex-presidente da FIFA, João Havelange.
Os suspeitos enfrentam acusações de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e comércio ilegal
Ontem o hall do Copacabana Palace tinha várias celebridades, desde o príncipe Albert de Mônaco até ex-jogador alemão Oliver Kahn, o argentino Claudio Cannigia e o presidente da FIFA, que depois da prisão pediu apressadamente aos jornalistas para que “por favor, falassem de futebol”. Tanto a Match quanto a FIFA reagiram nesta manhã assegurando sua “plena colaboração” com as autoridades brasileiras em uma operação (chamada "Jules Rimet") que ocupou as capas de jornal na semana decisiva do campeonato. A responsável da FIFA pela relação com os meios de comunicação, Delia Fischer, criticou os “rumores e informações não checadas” publicados na imprensa e pediu “rigor e profissionalismo” aos jornalistas, antes de negar que Phillip Blatter tenha um cargo na empresa Match Services. A noticia da desarticulação da quadrilha causou um visível terremoto na FIFA, que havia repetido à exaustão que a luta contra a venda ilegal de ingressos era uma das principais apostas do órgão regente do futebol nesta Copa, com constantes apelos para o combate a essa atividade “ilegal”. Vale destacar que a própria polícia, cuja investigação começou há três meses, manteve a FIFA distante para evitar vazamento de informações.
Entre as pessoas investigadas por sua possível relação com o caso estão Humberto Grondona, filho de Julio Grondona (vice-presidente da FIFA e máximo responsável pela Associação de Futebol Argentino desde 1979) e vários ex-jogadores brasileiros, como o ex-técnico Dunga, o ex-zagueiro da seleção Junior Baiano, os campeões mundiais de 1970 Carlos Alberto e Jairzinho, e Roberto de Assis, irmão e representante de Ronaldinho, todos eles com contato recente e comprovado com Fofana.
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