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Mais de 360.000 deslocados pelas fortes chuvas no Brasil, Paraguai e Argentina

As tempestades atípicas para esta época do ano transbordaram os rios: nunca antes uma cheia havia afetado tanta gente em Assunção

Alejandro Rebossio
Duas crianças em um bairro de Assunção na última sexta-feira.
Duas crianças em um bairro de Assunção na última sexta-feira.A. CRISTALDO (EFE)

Mais de 360.000 sul-americanos tiveram de ser retirados de suas casas nos últimos dias por conta de inundações no Paraguai, no sul do Brasil e nordeste da Argentina. Chuvas intensas, atípicas para esta época do ano na região, causaram o transbordamento dos rios Paraguai, Uruguai, Iguaçu e, em menor escala, do Paraná e outros afluentes. O Paraguai é o mais atingido: por volta de 300.000 pessoas ficaram desabrigadas no país, das quais 75.800 vivem em Assunção, que nunca antes em sua história havia sofrido uma inundação com tantos afetados. Nos estados brasileiros de Santa Catarina e Rio Grande do Sul as pessoas desabrigadas somam 50.749. Na Argentina, há 13.000, sobretudo nas províncias de Misiones e Formosa, e também alguns em Corrientes e Chaco.

“É muito doloroso perder tudo da noite para o dia. Fizemos tanto sacrifício para conseguir e perdermos tudo...”, lamentava para a agência EFE Divia Riquelme, de 24 anos, uma das afetadas em Assunção, sentada com seus dois filhos na frente do abrigo montado por seu companheiro em um prédio militar. Os afetados da capital paraguaia foram precisamente os pobres que vivem nas margens dos rios. Muitos perderam suas casas feitas de materiais precários e as autoridades vaticinam que não poderão voltar ao local no qual estavam antes pois estão previstas fortes chuvas no final deste ano por conta do fenômeno climático El Niño.

Desta forma, muitos afetados começaram a armar com madeiras, lonas, plásticos e chapas metálicas, algumas doadas pela Secretaria de Emergência Nacional, novas casas perto dos centros de deslocados colocados em bases militares. Os que tinham moradias de tijolos de dois andares permaneceram no andar mais alto por temor de roubos nos bairros nos quais agora só é possível circular com botes. Mas não é somente as margens dos rios que estão com problemas, já que o Rio Paraguai continuou subindo nesta segunda até 7,15 metros em Assunção e a água começa a chegar nas zonas centrais da cidade.

No Paraguai há mais de 300.000 os deslocados; no Brasil, 50.000 e, na Argentina, 13.000 e três mortos

“Vivemos como animais e ainda pior com esta chuva. Parece um lamaçal de porcos. Nossa casa está cheia de goteiras, é um desastre”, se queixou para a EFE outra das deslocadas, Carina González, de 39 anos e quatro filhos. Carina protesta porque há somente de 45 a 50 banheiros para 8.098 afetados. O presidente do Paraguai, Horacio Cartes, declarou que seu Governo iria garantir que não faltasse “nenhum recurso” para a Secretaria de Emergência Nacional para ajudar os prejudicados, mas este órgão admitiu para a EFE que o país ficou sem sanitários móveis disponíveis.

Muitos dos desabrigados em Assunção ficaram sem emprego porque trabalhavam em estaleiros, que foram alagados, ou recolhiam sucata que levavam a centros de distribuição, que também foram afetados. Em outras áreas do país, mais de 200.000 paraguaios também sofrem por causa das chuvas.

No Brasil, 40.000 pessoas ficaram desabrigadas em 37 municípios de Santa Catarina, dos quais 14 decretaram estado de emergência para poder apressar o auxílio às vítimas. O mesmo fizeram os Governos desse Estado e do Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina, o rio Itajaí chegou a 9,28 metros. No Rio Grande do Sul há 10.749 afetados em 59 localidades, mas não em Porto Alegre, onde Alemanha e Argélia jogaram nesta segunda-feira pelas oitavas de final da Copa.

Na Argentina, há menos desabrigados do que nos países vizinhos, mas já ocorreram três mortes, todas na província de Formosa. A presidenta Cristina Fernández de Kirchner ordenou o envio de mantimentos, colchões, mantas e outros itens de primeira necessidade aos afetados, e ela não descarta viajar à região, conforme anunciou nesta segunda-feira o chefe do Gabinete de Ministros, Jorge Capitanich. Esse funcionário também prometeu incluir pessoas que perderam suas casas no plano federal de moradias, que em 11 anos de governos kirchneristas já resultou na construção ou reforma de 769.000 moradias. Em Formosa, mais de 8.000 pessoas precisaram abandonar seus lares. Há desabrigados na capital provincial, Formosa, e na localidade de Clorinda, vizinha a Assunção, entre outras. O Governo provincial decretou estado de emergência por causa da “enchente extraordinária” do rio Paraguai. O mesmo fez o Governo da província de Misiones, onde 6.500 habitantes ficaram embaixo d’água. O governador missioneiro, Maurice Closs, estimou em 61 milhões de dólares (135 milhões de reais) os prejuízos econômicos na sua província. Na vizinha Corrientes há 300 desabrigados. Essas inundações se somam às que no começo de junho deixaram nove mortos e milhares de desabrigados nos três países, também por causa de chuvas repentinas que causaram o transbordamento dos rios Iguaçu e Paraná.

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