Dezenas de cadáveres sem identificação são descobertos em uma vala no Texas
O local fica em uma área por onde passam imigrantes que cruzam a fronteira a partir do México

Uma equipe de arqueólogos encontrou uma vala comum com pelos menos 52 corpos não identificados na cidade de Falfurrias, no Estado norte-americano do Texas. Os restos humanos estavam em sacos plásticos ou até sem proteção, o que deixou chocadas autoridades e a opinião pública. O condado de Brooks iniciou uma investigação e está discutindo como responder às críticas de vários congressistas, que classificaram como “inaceitável” e “sem precedentes” a quantidade de cadáveres e as condições em que foram sepultados.
A região de Falfurrias é conhecida no Texas pelo alto movimento de imigrantes que entram nos Estados Unidos pelo México. “Quando se pronuncia esse nome [Falfurrias], é provável que tenhamos más notícias”, disse Rafael Larraenza, diretor da Desert Angels (“Anjos do Deserto”), uma organização dedicada a buscar pessoas perdidas na tentativa de cruzar a fronteira. A má fama da cidade se deve à sua geografia selvagem e à sua malha social, o que se traduz na alta possibilidade de que uma pessoa sem documentos venha a morrer por desidratação ou em mãos de organizações criminosas.
Benny Martínez, porta-voz da polícia do condado de Brooks, onde fica Falfurrias, confirmou ao EL PAÍS que representantes da entidade e do governo local se reuniram em Austin, na terça-feira, para determinar que tipo de medidas devem adotar neste caso. “Precisamos saber exatamente quem esteve envolvido no enterro desses corpos e investigar o ocorrido. Até lá não poderemos especular sobre o que aconteceu”, afirmou.
Um grupo de estudantes de antropologia, liderados por Lori Baker, professora da Universidade de Baylor, está realizando a exumação dos corpos há duas semanas, como parte do projeto “Reunindo Famílias”, executado em conjunto com a Universidade Estatal do Texas e a Universidade de Indianápolis.
Os pesquisadores fizeram 52 exumações, mas encontraram muito mais corpos do que esperavam, ainda que não se saiba o número exato. A equipe de Baker está conduzindo o projeto desde 2013, em uma tentativa de identificar centenas de pessoas que perderam a vida ao cruzar a fronteira. Até agora, eles tinha conseguido fazer a exumação de outros 110 corpos. O escritório de Baker afirmou que o grupo está trabalhando ativamente na identificação dos cadáveres encontrados mais recentemente.
Em 2012, o condado de Brooks começou a realizar exames de DNA para identificar as vítimas, conforme estipulado na lei do Estado. Mas por causa da quantidade de corpos descobertos na região, as autoridades dependem de esforços como o “Reunindo Famílias” para alcançar os resultados desejados.
Baker e sua equipe se surpreenderam com a maneira como os corpos estavam enterrados – alguns em sacos plásticos e outros sem nenhuma proteção, em uma parte do cemitério Sacred Heart Burial Park. A imprensa local fez menção à agência funerária Angel Howard-Williams, a quem a polícia encarrega de cuidar dos corpos que ninguém reclama. Mas até o momento seu possível envolvimento no caso ainda não está claro.
Autoridades locais, como o senador democrata Juan Hinojosa, da cidade de Mc Allen, e o representante do mesmo partido Terry Canales insistiram com o início imediato de uma investigação. “Não há dúvidas de que um crime ocorreu aqui, e precisamos proteger este local para evitar que as provas sejam danificadas ou destruídas”, disse Canales. O legislador afirmou ainda que o Texas deve mostrar ao mundo que ali não se mancha a honra dos mortos.
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