“Os chilenos são ótimos fregueses”
Os brasileiros sonham em repetir as vitórias sobre o Chile Felipão, porém, teme o efeito 'surpresa' da Copa deste ano
Com o isopor recheado de cervejas, Rita se posiciona num dos melhores cantos da rua Aspicuelta, na Vila Madalena, o bairro paulistano que se tornou ponto de encontro de milhares de jovens para assistir aos jogos da Copa. Vende para toda sorte de turistas, mas reconhece que alguns clientes são melhores que outros. “Os chilenos são ótimos fregueses”, diz ela. A frase soa engraçada, uma vez que a gíria futebolística indica que freguês é quem costuma perder.
Não por acaso, quando o locutor anunciou que a Croácia havia feito um gol de honra na seleção mexicana, os torcedores brasileiros que assistiam à partida do Brasil e Camarões em um bar da região aplaudiram de maneira entusiasmada. O gol croata reduzia o saldo mexicano (3 x 1), enquanto a seleção brasileira fechava o placar em 4 x 1, um resultado que garantia o Chile, e não a assustadora Holanda, como adversário no próximo sábado.
Os brasileiros passam, assim, a torcer contra La Roja sul-americana, depois de terem apoiado a sua seleção desde o início desta Copa. Logo após a partida do Brasil, um grupo de brasileiros cantava “Chi-chi-chi le-le-le, Viva Chile!” para uma dupla que passava falando espanhol perto deles, revelando o carinho pelo próximo adversário.
Em campo, porém, é outra história. Essa partida é moleza para o Brasil, avisava o garçom Juarez. Se fosse a Holanda, porém, seria difícil... Difícil prever o resultado ou difícil passar para a próxima fase da Copa? “A gente não passaria dos holandeses, não!”, diz ele. Os endiabrados laranjas que golearam a Espanha, e venceram a Austrália e o Chile estão colocando medo nos brasileiros, que tentam evitar a todo custo o confronto nesta etapa do torneio.
Mais vale consolar-se antecipadamente com a memória das vitórias em momentos decisivos contra La Roja sul-americana. Quando foram anfitriões do Mundial, em 1962, os chilenos sofreram nas mãos, ou melhor, nos pés de um gênio do futebol. Na semifinal disputada entre os dois países, o craque da vez foi Garrincha, que fez dois dos quatro gols da vitória sobre o Chile, que ao menos conseguiu marcar dois. Pelé havia se machucado e não entrou em campo.
Em 1998, o Brasil novamente marcou quatro no placar, nas oitavas de final, contra apenas um do Chile. Na última edição da Copa, na África do Sul, os chilenos novamente perderam de 3 x 0. As derrotas para os brasileiros também povoam o inconsciente coletivo dos chilenos. E ontem, depois da derrota para a Holanda por 2 x 0, os fantasmas voltaram novamente. Um torcedor chileno, que destoava da maré amarela durante a transmissão do jogo do Brasil contra Camarões num bar da região, admitia que seria bem difícil passar pelo país anfitrião do Mundial de 2014. Mas por que não acreditava que poderia ser diferente? “1962, 1998, 2010...”, foi a resposta do jovem, que vestia a camiseta de Valdívia, para justificar seu pessimismo.
O técnico Luiz Felipe Scolari, porém, está longe de cantar vitória. Em dezembro, ele já dizia que não queria cruzar a terra de Neruda tão cedo. “Prefiro qualquer outro. É muito chato de jogar, é um time bem organizado, ... e o sistema deles não encaixa com nosso sistema. É melhor jogar com um europeu”, disse ele numa entrevista para a Rede Globo em dezembro do ano passado. Nesta segunda-feira, ele repetiu a preocupação. “Vai ser uma partida muito complicada, muito difícil. Vocês estão acompanhando a Copa do Mundo e sabem que tem muita seleção que está surpreendendo”, reforçou.
É essa mensagem que o técnico deve reforçar entre os jogadores, que tendem a se sentir seguros demais depois de uma goleada. O Chile, por sua vez, deve entrar mais humilde depois da derrota para a Holanda, o que pode favorecê-los. Algo que faz os chilenos sonharem com um novo Maracanazo... Os brasileiros, porém, só esperam que as palavras de Rita se façam profecia: os chilenos podem continuar sendo ótimos fregueses.
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