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Obama anuncia o envio de forças ao Iraque para combater o jihadismo

O presidente dos EUA falou na Casa Branca após uma reunião com sua equipe de segurança

Marc Bassets
O presidente Obama comunica sua decisão.
O presidente Obama comunica sua decisão.MANDEL NGAN (AFP)

Os Estados Unidos enfrentam dois adversários no Iraque. O primeiro é militar: os jihadistas sunitas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), que nas últimas semanas tomaram cidades importantes naquele país do Oriente Médio. O segundo adversário é político: o primeiro-ministro iraquiano, Nuri al Maliki.

O presidente dos EUA, Barack Obama, redobrou ontem a pressão sobre o premiê iraquiano para que forme um novo Governo com os curdos e os árabes sunitas – as outras duas grandes comunidades do Iraque, além dos árabes xiitas –, ou então que abandone o poder. O secretário de Estado John Kerry viajará em breve à região para se reunir com líderes locais e com Al Maliki.

“Não cabe aos Estados Unidos escolher os líderes do Iraque”, avisou Obama em uma entrevista coletiva na Casa Branca, depois de se reunir com sua equipe de segurança nacional. “Mas está claro que só os líderes que governarem com um programa inclusivo serão capazes de unir de verdade o povo iraquiano e superar esta crise”, acrescentou.

A Administração Obama atribui às políticas sectárias DE Al Maliki, um ex-protegido de Washington, parte da culpa pelo atual caos, considerando-o um obstáculo para a resolução do conflito. O presidente descartou uma intervenção armada norte-americana para apoiar um grupo contra outro, e disse que não haverá nenhuma solução militar no Iraque, muito menos dirigida pelos EUA.

A Casa Branca exclui uma mobilização de tropas. Tampouco prevê uma intervenção aérea imediata. A única medida militar é, por enquanto, o reforço da colaboração com as Forças Armadas iraquianas.

Obama anunciou na coletiva o envio ao Iraque de até 300 assessores militares, membros das forças especiais de EUA que ajudarão o Exército iraquiano diante do avanço dos jihadistas do EIIL. Os militares se somam aos 275 militares que a Administração Obama já mobilizou para proteger a embaixada dos EUA na capital do Iraque.

O presidente Obama informou que seu país formará com o Iraque centros de operações conjuntas em Bagdá e no norte do Iraque. Os EUA, disse ele, reforçaram as operações de inteligência e vigilância, inclusive a aérea, no país.

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O envio das forças especiais, que no futuro poderiam servir para localizar alvos de possíveis bombardeios, é um gesto limitado, mas significativo. Os EUA já têm centenas de forças especiais em missões no Oriente Médio e África. E, após retirar as tropas do Iraque em 2011, deixaram um contingente de 200 militares encarregados de adestrar as forças iraquianos no uso do material e armamento que os norte-americanos haviam deixado no país.

Mas o Iraque é um caso particular. A invasão de 2003 e o posterior fiasco da ocupação tiraram qualquer apetite dos EUA para o envio de tropas terrestres a esse país. Com a retirada de três anos e meio atrás, os norte-americanos acreditavam ter virado a página. Agora, as forças dos EUA retornam, ainda que princípio não seja para combaterem.

Há dúvidas sobre o caráter das forças especiais que ajudarão o Exército iraquiano e especificamente sobre a eventualidade de que abram as portas a uma maior presença, como ocorreu no Vietnã nos anos sessenta. Na época, os assessores que a Administração do presidente John F. Kennedy enviou foram o prenúncio de uma escalada que levou à maior catástrofe da política externa de EUA antes do Iraque.

Agora Obama condiciona qualquer entrada em combate a um acordo político prévio. E ele não existirá sem a colaboração do primeiro-ministro iraquiano, seja Al Maliki ou seu sucessor.

A pressão para que o premiê peça demissão vem crescendo em Washington. “Sinceramente, o Governo Al Maliki deve sair de cena se quisermos algum tipo de reconciliação”, disse no Congresso a senadora Diane Feinstein, presidente da Comissão de Inteligência do Senado.

O embaixador dos EUA em Bagdá, Robert Beecroft, e o responsável do Departamento de Estado para o Iraque e o Irã, Brett McGurk, teriam manobrado com líderes sunitas, como Usama Nujaifi, e xiitas, como Ahmad Chalabi, para substituir Al Maliki, segundo fontes iraquianas citadas pelo The New York Times. McGurk negou ao mesmo jornal a existência dessas manobras.

“Minha opinião, compartilhada por muitos sunitas e xiitas, é que esse primeiro-ministro já causou suficiente estrago”, disse a um grupo de jornalistas em Washington, na quinta-feira, o ex-diplomata Samir Sumaidaie, que foi embaixador do Iraque em Washington entre 2006 e 2011 e continua residindo na capital dos EUA.

Sumaidaie, assim como Obama, acredita que, antes da intervenção militar da maior potência mundial, os líderes iraquianos deveriam chegar a um acordo político.

O ex-diplomata, primeiro embaixador do seu país em Washington em 15 anos, é cético sobre a possibilidade de os EUA bombardearem para ajudar o governo iraquiano a deter o EIIL. “Minha preocupação é que qualquer envolvimento norte-americano possa ser interpretado no contexto sectário desta guerra e se revele contraproducente”, disse.

Al Maliki é mais um da lista de protegidos dos EUA que acabaram criando problemas para Washington. O mais recente foi o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, o homem do presidente George W. Bush após o 11 de Setembro, mas que, com o passar dos anos, se tornou um aliado incômodo para Obama.

Um antecedente mais distante é o presidente sul-vietnamita Ngo Dinh Diem, protegido dos EUA até que o Governo Kennedy o considerasse um obstáculo à paz, auxiliando um golpe de Estado que o derrubou.

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