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O FMI sugere ao BCE a compra de ativos em grande escala contra a baixa inflação

Christine Lagarde propõe que essa injeção se concentre na dívida soberana

Claudi Pérez
Christine Lagarde conversa com Mario Draghi.
Christine Lagarde conversa com Mario Draghi.Reuters

A atividade econômica na Europa não recuperou ainda os níveis anteriores à crise. O estorvo da dívida continua. A inflação é baixa, inclusive nos países do centro. E o desemprego é e continuará sendo durante anos inaceitavelmente alto. Apesar deste panorama, os políticos europeus há meses decretaram o fim da crise. Com este diagnóstico, ouvem-se vozes de alarme cada vez mais estridentes. A mais clara talvez seja a do Fundo Monetário Internacional (FMI), que alertou a eurozona dos riscos da deflação e exigiu do Banco Central Europeu (BCE) “compras de ativos em grande escala” – no estilo da Reserva Federal norte-americana – ante um horizonte de estagnação secular, ou da década perdida à japonesa. Uma mudança em toda a regra que inclua aquisições de dívidas públicas massivas para sair deste labirinto de baixíssima inflação, frágil recuperação, desemprego elevado e altas doses de endividamento público e privado

A diretora geral do Fundo, Christine Lagarde, apresentou as conclusões do informe do FMI sobre a eurozona aos ministros do euro, reunidos em Luxemburgo para o Eurogrupo. Lagarde explicou que a recuperação está tomando fôlego e que a confiança volta gradualmente após anos de reformas estruturais e consolidação fiscal, graças em grande parte à ação do BCE. Mas após os agrados sempre vêm os golpes baixos: o Eurobanco “deve considerar as compras massivas de ativos

se a inflação se mantiver obstinadamente baixa”. É difícil saber o que significa esta obstinação. Mas o IPC da eurozona está em 0,5% - muito longe do percentual do mandato de Mario Draghi, de 2% - e deu surpresas desagradáveis na baixa desde novembro do ano passado.

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O FMI há meses enfrenta a Alemanha pela política econômica, tanto fiscal como monetária, da eurozona. Mas as compras de ativos em grande escala – denominado quantitative easing – são uma espécie de maldição na Alemanha: as entidades patronais bancárias há meses alertam sobre os efeitos negativos desta medida extraordinária, apesar de que tanto os Estados Unidos como o Reino Unido e Japão embarcaram nestas aquisições para combater a Grande Recessão. Em nenhuma das áreas econômicas comparáveis a eurozona a saída da crise é menos complicada. Porque apesar dos indubitáveis riscos, o FMI sublinha que as compras de ativos à americana “elevarão a confiança, melhorarão os balanços das empresas e das famílias, e estimularão os empréstimos bancários”. “No geral, têm um grande impacto potencial significativo na demanda e na inflação”, segundo o Fundo.

O FMI pisou em todos os calos possíveis. No meio do debate aberto por Itália e França sobre a necessidade de flexibilizar as regras fiscais da eurozona, e após a habitual repreensão da chanceler alemã, Angela Merkel – contrária a abrir esta caixa – a instituição com sede em Washington ecoou o senso comum: “Depois de vários anos de consolidação fiscal [leia-se austeridade], a política orçamentária para a zona do euro está próxima de ser neutra. Conseguiu um equilíbrio correto entre o apoio à demanda e a redução da dívida. Mas se forem produzidas grandes surpresas negativas que impactem o crescimento, isso não deve dar lugar à medidas adicionais de saneamento”. Este parágrafo é chave, porque em várias etapas desta crise a resposta europeia foi a contrária: no meio da recessão, e tendo em vista que alguns países eram incapazes de cumprir suas metas de déficit, a receita eram mais e mais cortes.

Este debate está de novo em cima da mesa. A Itália, através do primeiro ministro Matteo Renzi – um dos grandes vencedores das eleições europeias – quer que a política fiscal deixe de ser uma camisa de força que sufoque o crescimento. Inclusive a grande coalizão alemã se divide sobre este assunto: Merkel se opõe a mudar o pacto de estabilidade, mas o vice-chanceler socialdemocrata, Sigmar Gabriel, deixou claro seu apoio às demandas de Roma e Paris. O FMI também está do lado da trabalhista. O ministro espanhol, Luis de Guindos, foi hoje suficientemente ambíguo para não estranhar-se com a Alemanha, mas não se opõe a uma mudança de tom na política econômica europeia que favoreceria a Espanha: “No seu devido tempo falou-se de pacto fiscal, e o que faz falta agora é um pacto pelas reformas para o crescimento. A Espanha não questiona o pacto de estabilidade. A consolidação fiscal e as reformas são imprescindíveis, mas a política fiscal deve ser aplicada no ritmo adequado e ser combinada com medidas para favorecer o crescimento”.

Longe de retrucar a diretora geral do FMI, o comissário europeu de Assuntos Monetários, Olli Rehn, manteve seu discurso habitual em favor da rigidez fiscal e aproveitou para mandar um recado paras as duas maiores economias do euro. “Tendo em vista seus altos níveis de dívida pública, o melhor serviço que a França e a Itália podem fazer para o equilíbrio do emprego na eurozona é intensificar as reformas estruturais”. Em tom decididamente ambíguo, Rehn deixou entrever certa crítica ao Governo alemão para quem pediu que “faça algo” para sustentar a demanda doméstica; “particularmente aumentando o investimento público e privado”.

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