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COPA DO MUNDO 2014

‘Vira-casacas’ brasileiros não têm vida fácil no retorno ao país

Além de sofrerem goleadas, o atacante Diego Costa é vaiado e o zagueiro Pepe, expulso. Ao todo, cinco brasileiros defendem equipes estrangeiras no Mundial, um a menos que em 2010

Diego Costa após sofrer o pênalti contra a Holanda.
Diego Costa após sofrer o pênalti contra a Holanda.JAVIER SORIANO (AFP)

Bastava o brasileiro Diego Costa tocar na bola que uma vaia ensurdecedora, acompanhada de xingamentos, ecoava pela Arena Fonte Nova, em Salvador (nordeste brasileiro). O atacante, que se naturalizou espanhol e defende La Roja, foi tratado como um traidor pela torcida brasileira presente ao estádio no jogo contra a Holanda, na última sexta-feira.

A sua família, na arquibancada, também foi vítima das ofensas, o que fez com que a mãe do jogador deixasse a Arena Fonte Nova chorando. “A gente ficou triste. Não tem outra palavra, ficamos muito tristes", contou Jayr Costa, irmão do atacante, ao site brasileiro UOL.

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Ao todo, cinco brasileiros defendem equipes estrangeiras neste Mundial, um a menos que em 2010. Mas é o atacante da Espanha que mais desperta a ira da torcida, porque chegou a ser convocado pelo Brasil quase que ao mesmo tempo em que foi convidado pela Roja. Como as chances na seleção brasileira haviam sido escassas, optou pelo país europeu visando à Copa.

Diego Costa ainda é o maior exemplo de que a vida dos que nasceram no Brasil e jogam por outras seleções na Copa não tem sido mesmo fácil também dentro de campo.

Oriundo de Lagarto, no Estado de Sergipe (Nordeste), ele até que começou bem, ao cavar o pênalti que colocou a Espanha em vantagem contra os holandeses. Mas pouco pôde fazer para evitar os 5 x 1 do rival. Em meio às vaias, acabou substituído por Fernando Torres no segundo tempo.

Logo após o duelo, Diego Costa continuou a ser “perseguido” nas redes sociais, mas de forma bem humorada. “Se foi ruim para a Espanha, imagina para o Diego Costa, que ainda entendeu tudo o que torcida cantou (em português)”, dizia um post do site de humor Olé do Brasil no Twitter.

Na mesma rede social, o também satírico Humor Esportivo afirmou: “Diego Costa já começa a Copa fazendo o impossível: tomando mais vaias que a (presidenta) Dilma (Rousseff)”.

Outro brasileiro naturalizado, Pepe, natural de Maceió, no Estado de Alagoas (nordeste), também foi vítima de uma goleada, e ainda recebeu nesta segunda-feira, nos 4 x 0 da Alemanha, o primeiro cartão vermelho desde que passou a defender Portugal, em 2007.

Por causa disso, o jogador do Real Madrid desfalcará a equipe lusa no duelo decisivo para a classificação às oitavas, contra os Estados Unidos, no próximo domingo.

O primeiro 'brasileiro' campeão

A atuação de brasileiros por seleções estrangeiras está longe de ser uma novidade em Copas do Mundo. Na última edição do torneio, na África do Sul, em 2010, foram seis, por exemplo. Além do já citado Pepe (Portugal), disputaram o torneio Deco (Portugal), Liedson (Portugal), Cacau (Alemanha), Marcos Tanaka (Japão) e Benny Feilharber (EUA). No Mundial anterior, na Alemanha, esse número havia chegado a cinco, incluindo o volante Marcos Senna (Espanha).

Alguns deles deixaram o seu nome marcado na história, como Anfilogino Guarisi (Filó), nascido em São Paulo e campeão mundial pela Azzurra na Copa de 1934, a segunda da história, disputada na própria Itália. Outro caso curioso é o de José João Altafini (Mazzola), campeão mundial pelo Brasil em 1958 e que defendeu a seleção italiana quatro anos depois, no Chile.

Como treinador, o meia Didi, bicampeão mundial com o Brasil em 1958 e 1962, comandou ainda o Peru na Copa de 1970, no México. A Didi é atribuída a expressão “jogo bonito”, além do arremate “folha seca”, em cuja trajetória a bola se assemelha a uma folha caindo. A seleção brasileira venceu os peruanos por 4 x 2 e avançou às semifinais, antes de ser tricampeã.

No lance que levou à expulsão, ainda no primeiro tempo e com o placar já em 2 x 0 para os alemães, o zagueiro disputou a bola com Müller –autor de três gols no jogo– e, ao limpar a jogada, colocou a mão no rosto do rival, que foi ao chão. O luso-brasileiro tocou a bola e foi reclamar de forma ríspida com o alemão, desferindo uma leve cabeçada nele na frente do juiz.

Bem mais discretos, os dois brasileiros que atuam pela Croácia não saíram do banco de reservas justamente contra a seleção de seu país natal na estreia do Mundial, na última quinta-feira.

O meia Sammir, nascido em Itabuna (Bahia) e que defende o time espanhol Getafe, e o atacante Eduardo da Silva, oriundo do Rio de Janeiro e atualmente sem clube, nada puderam fazer para evitar a derrota por 3 x 1 para a equipe do técnico Luiz Felipe Scolari.

Por fim, o único ‘brasileiro estrangeiro’ com algum motivo para comemorar nesta primeira rodada da fase de grupos da Copa está na Itália: o volante Thiago Motta, que atua pelo Paris Saint Germain, da França.

Nascido em São Bernardo do Campo, no Estado de São Paulo, o jogador chegou a defender uma equipe sub-23 do Brasil, mas foi liberado pela FIFA em 2011 para defender a Azzurra. Na vitória por 2 x 1 sobre a Inglaterra no sábado, o volante entrou em campo no lugar do meia Verratti logo após o segundo gol e ajudou a segurar o placar.

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