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A Colômbia que não vota

Participaram do segundo turno apenas 16 milhões de 33 milhões de eleitores cadastrados

Cédulas para votar nas eleições da Colômbia.
Cédulas para votar nas eleições da Colômbia.AFP

Os habitantes de Barú, uma ilha no Caribe colombiano, muito perto de Cartagena, decidiram se abster de votar. Ficaram em suas casas durante as eleições legislativas de março, depois no primeiro turno da eleição presidencial, no final de maio, e repetiram a dose neste domingo, como protesto pelo esquecimento em que são deixados por seus governantes. “Sem água, sem estrada e sem educação, Barú não participa da votação”, foi a mensagem que exibiram alguns moradores em cartazes.

Essa é uma das manifestações do desencanto dos eleitores colombianos com seus políticos. Nos últimos 16 anos, os que saem para votar não passam de 49%. Entretanto, nesta última eleição presidencial o índice de abstenção disparou e chegou no primeiro turno a 60%, recuando ligeiramente no segundo, para 53%. “Eu não gosto de nenhum dos dois, então não vou votar”, disse Ángelo, de 25 anos, na manhã de domingo. Ele está junto a um quiosque de arepas, uma torta típica feita de milho, num bairro de escritórios em Bogotá. Ao seu lado está Laura, de 22 anos, que também não vota. Para ele, o candidato de oposição no segundo turno, Iván Zuluaga, representava “a volta do [ex-presidente Álvaro] Uribe, e [o atual mandatário, Juan Manuel] Santos não tem feito nada. Não há segurança na rua, toda a política é corrupção”, criticou.

Nos dois turnos da eleição presidencial, a apatia de sempre se somou à guerra suja entre Santos e Zuluaga, que afinal se refletiu no elevado número de abstenções (votaram neste domingo menos de 16 milhões dos 33 milhões de eleitores registrados). Acrescente-se a isso ainda o voto em branco, que passou dos habituais 2% para 6% no segundo turno, recuando para 4% na rodada decisiva. Um dos políticos que defenderam essa decisão foi o senador Jorge Enrique Robledo, do Polo Democrático (esquerda), para quem aliar-se a Santos ou a Zuluaga, como fez a maior parte da esquerda e a própria ex-candidata presidencial do partido dele, Clara López, significaria trair sua consciência.

A Colômbia é o país da região com maiores índices de abstenção eleitoral. Os analistas concordam que o descrédito em relação aos partidos políticos se soma a uma falta de conexão entre os políticos e as necessidades reais das pessoas. Foi essa razão que levou a garçonete Lorena, de 20 anos, a também não votar. “Eles prometem coisas que não podem cumprir. Só se preocupam com a paz com as FARC, mas não falam da violência que vivemos na rua, onde há roubos e assassinatos todos os dias”, diz.

A percepção de insegurança também influi. Apesar de as FARC terem declarado um cessar-fogo durante os dois turnos da votação presidencial, o uribismo denunciou que não havia garantias para o exercício do voto em certos lugares do país nos quais grupos armados pressionavam eleitores. Assim ocorreu no domingo em Chocó, no Pacífico, onde integrantes do ELN, a outra guerrilha com a qual o Governo começou a negociar, impediram a abertura das seções de votação. Apesar das garantias do Governo de que controla a ordem pública em todo o país, casos como o de Chocó levaram alguns eleitores a preferirem ficar em suas casas.

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