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As passagens de ônibus custam 20% do salário de um trabalhador

Os sistemas de transporte público latino-americanos poderiam concentrar melhor os subsídios para que os usuários com menos recursos também possam usar o ônibus

Um ônibus Transmilenio de Bogotá, Colômbia.
Um ônibus Transmilenio de Bogotá, Colômbia.I. Schaefer/Banco Mundial

Usar o transporte público em algumas cidades da América Latina pode ser uma verdadeira via crucis. Unidades velhas, perigosas e contaminantes, que não passam com suficiente frequência nas horas de pico, têm tarifas caras ou percursos que não circulam pelos lugares onde não há grande demanda.

Em resposta a esta situação, surgiram sistemas de transporte público com ônibus de alta capacidade, eficientes, pouco contaminantes e integrados ao resto da rede.

Trata-se de uma tendência continental. O Transmilenio de Bogotá, a Ecovía de Monterrey, o sistema de ônibus de trânsito rápido de Curitiba, no Brasil, por exemplo, foram todos concebidos pensando nestes princípios.

O problema, no entanto, é que tanto em sistemas modernos quanto nos mais tradicionais, pagar pelo transporte público é uma carga importante para milhões de latino-americanos de poucos recursos. As tarifas, em muitos casos, consomem ao redor de 1/5 da renda dos usuários de baixa renda.

Victoria Gómez, por exemplo, usa o Transmilenio de Bogotá todo dia para ir ao trabalho. "Gasto entre 70 e 90 mil pesos mensais", diz Gómez, que qualifica o serviço com uma única palavra: "caro". Isso equivale a uns 50 dólares por mês (113 reais), uma quantidade considerável se levamos em conta que o salário mínimo da Colômbia encontra-se na faixa dos 318 dólares mensais (720 reais).

Na verdade, o Transmilenio não é muito mais caro que o transporte tradicional. A diferença é que nos ônibus convencionais o usuário pode negociar um desconto porque faz o pagamento em dinheiro e diretamente com o motorista.

Não é estranho ouvir nos ônibus da cidade a frase: "dá para me levar por mil pesos?" Quer dizer, 400 pesos (0,20 dólares ou 0,45 reais) a menos que a tarifa oficial. Segundo uma investigação do Banco Mundial, 23% dos usuários destes ônibus negociam este "subsídio informal" com os motoristas.

No Transmilenio, ao contrário, os usuários não podem negociar um desconto com o motorista da unidade porque todos os pagamentos são feitos com um cartão inteligente pré-pago.

O desafio para estes novos modelos de transporte é precisamente esse: como fazer para que as pessoas que não podem pagar a passagem tenham acesso ao mesmo transporte eficiente, limpo e de alta qualidade que os demais.

Em muitas cidades, certos grupos de usuários como estudantes e aposentados começam a receber descontos. "Mas nos países da região onde a pobreza e a desigualdade são altas, estas políticas não resolvem porque não chegam aos mais pobres", diz a especialista em transporte Camila Rodríguez.

Rodríguez afirma que a tecnologia atual pode servir para colocar em prática uma solução bem implementada que atenda às necessidades dos pobres.

Na capital colombiana, por exemplo, os usuários de baixa renda do novo transporte público que se encaixam dentro de certo parâmetros, recebem um desconto equivalente a 40% para 21 viagens por mês.

Para identificar os beneficiários deste desconto é usada a mesma ferramenta de Familias en Acción, um programa que distribui dinheiro a famílias pobres com a condição de que seus filhos frequentem a escola e visitem o médico regularmente.

Os especialistas dizem que conseguiram implementar este apoio em Bogotá porque o sistema já existia e era mais fácil determinar os beneficiários do subsídio. Além do mais, o uso dos cartões inteligentes pré-pagos, tornou mais eficiente o monitoramento do uso dos subsídios e evitou abusos.

Na verdade, os especialistas destacam três pontos importantes para se levar em conta:

"Os avanços conseguidos em Bogotá são muito importantes e promissores para criar uma política de subsídios para o transporte público que realmente esteja dirigido aos pobres", diz Rodríguez.

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