“Os acampamentos nos deram uma ampla participação nos protestos”
Jussara Basso, uma das porta-vozes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, promete sair às ruas "quantas vezes for necessário" até conseguir os objetivos da organização
No terceiro dia consecutivo de protestos em São Paulo, a manifestação que teve participação massiva do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) foi concluída com a ameaça de "parar a Copa" caso não sejam liberados mais recursos para a moradia social. A 20 dias da Copa do Mundo, os movimentos sociais estão agitando as ruas das principais capitais do país. Jussara Basso, uma das porta-vozes do MTST e participante do protesto desta quinta-feira, confirma a intenção do movimento de se somar a outras frentes para engrossar as reivindicações contra o evento esportivo, com o argumento central dos excessivos gastos em detrimento de outras áreas que necessitam investimento federal, como moradia, saúde e educação.
Pergunta. O que significa a manifestação de hoje para o movimento?
Resposta. Mais de 20.000 pessoas saíram com a bandeira do movimento hoje. Estamos mostrando a indignação do povo em relação à Copa. Estamos reivindicando participação popular em um evento do qual as pessoas pobres não vão participar. Elas estão conscientes dos gastos públicos e da falta de verba para moradia, transporte público, saúde de qualidade e educação.
P. Guilherme Boulos, um dos líderes do movimento, disse em seu discurso durante o protesto que depois dessa manifestação de hoje virão mais. Qual é a previsão?
R. Estamos participando da Copa sem povo, tô na rua de novo, uma campanha que ocorre dentro da Frente de Resistência Urbana, que abrange vários movimentos que têm como objetivo sair às ruas para demonstrar nossas insatisfações em relação aos gastos abusivos com o evento, com o despejo de famílias e o preço exorbitante dos aluguéis. Sairemos às ruas quantas vezes for necessário.
P. Além da moradia, o MTST abraçou alguma outra bandeira durante os protestos?
R. A polícia está sempre armada quando há manifestações, também não concordamos com isso. Hoje eles não tinham contingente suficiente para fazer um corredor, mas estiveram na frente e atrás do protesto, com um cordão de isolamento. Os trabalhadores informais estão sendo proibidos de trabalhar, estamos atentos e não concordamos com esse tipo de regimento e leis que estão tentando criar para determinar onde e quando e como podem vender, assim como onde e quando e como podemos nos manifestar por conta da Copa...
P. Qual a principal reivindicação do movimento?
R. Hoje as pautas do movimento são uma lei que controle o aumento do valor dos aluguéis e que melhorem as condições do Minha Casa Minha Vida. Queremos que as famílias que ganham três salários mínimos também consigam participar do programa do Governo por uma moradia, porque atualmente elas não se encaixam no perfil, que é de zero a 1.600 reais. Também queremos uma lei federal para regulamentar os despejos forçados, que as pessoas não sejam retiradas de suas casas sem ter outro lugar para ficar.
P. A ameaça de que no dia 12 de junho não vai ter inauguração da Copa vai ser cumprida?
R. Até agora fomos avaliando conforme nossas propostas vão avançando. As manifestações ocorrem e não pensamos nelas com mais de uma semana de antecedência. E sempre que saímos as ruas tentamos recuperar todas as pautas.
P. Entre elas, as pautas da segunda grande ocupação depois da Nova Palestina, no Jardim Ângela, a da Copa do Povo...
R. Recebemos ordem de despejo na área ocupada próxima ao Itaquerão [zona leste de São Paulo]. Mas a massificação da Copa do Povo, que conta já com cinco mil famílias, está bem organizada. Para ter uma ideia, é uma área particular de 150.000 metros quadrados que pagava 57 reais por mês de imposto à prefeitura. Conforme a legislação é uma área rural. A sonegação é nítida. A Nova Palestina apenas tem que resolver uma questão do zoneamento. É preciso que o plano diretor seja votado, e isso está previsto para a próxima semana. E aí encaminharemos nossa proposta de edificação.
P. E ocupar essas áreas gera algum resultado para o MTST e as famílias que participam? Houve avanços?
R. Já conseguimos o espaço do Jardim Salete, que ocupamos em 2004 e hoje estamos construindo 17 prédios populares, com 1.020 apartamentos.
P. Há previsão de ocupar mais áreas da cidade?
R. A falta de moradias em São Paulo é um grande problema e as ocupações do MTST estão ganhando força. Graças aos acampamentos conseguimos essa ampla participação nas manifestações que organizamos nas últimas três semanas, toda quinta-feira. Queremos que haja Copa, mas também a [Copa] dos direitos de nós, cidadãos.
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