A esquerda assiste à campanha eleitoral colombiana do banco de reservas
A batalha e as acusações entre Santos e Zuluaga sobre o diálogo com as FARC sepulta os candidatos progressistas
O barulho provocado por hackers, vídeos e espionagem reduziu a campanha eleitoral colombiana às acusações entre o presidente, Juan Manuel Santos, e o uribista Óscar Iván Zuluaga. O processo de paz em Havana é o tema que diferencia os dois candidatos de direita –o primeiro o tem como símbolo, o segundo o suspenderia— e que tem polarizado o debate. Nessa disputa não só ficam encurralados os temas que preocupam de forma mais aguda os cidadãos, como a previdência, o emprego ou a educação, como também fica em segundo plano o discurso progressista, com a Aliança Verde e seu candidato Enrique Peñalosa (centro-esquerda) ou o Polo Democrático (esquerda), da aspirante Clara López.
“O tipo de escândalos que rodeiam essa eleição é indignante”, opina Peñalosa, de 59 anos e ex-prefeito de Bogotá (1999-2001). “Distraem a atenção e inclusive implicam riscos legais sérios”, comenta por telefone, sobre os supostos vazamentos de informação militar secreta ao candidato uribista. No meio da guerra suja, ele continua com a sua estratégia de fazer campanha em bicicletas e destacar a luta contra a corrupção, em defesa da educação e da previdência.
Licenciado em Economia e História pela Universidade norte-americana de Duke, nas ruas Peñalosa é identificado como um bom prefeito, que impulsionou o Transmilênio, uma rede de ônibus articulados que constitui o principal meio de transporte público da capital, sempre congestionada e ainda sem metrô. Ele era um dos aspirantes mais bem posicionados nas pesquisas para disputar contra Santos a presidência há duas semanas. Oscilava entre o segundo e terceiro postos. Mas à medida que começaram a brotar os escândalos, Peñalosa e seu programa estancaram, enquanto Zuluaga e sua retórica de mão de ferro contra a guerrilha começaram a subir.
Peñalosa se retrata como uma opção aos políticos tradicionais, que são, segundo a sua visão, Santos e Zuluaga. “Os dois são obras de [Álvaro] Uribe”, diz, referindo-se ao ainda muito popular ex-presidente conservador (2002-2010) e crítico do processo de paz. Ele fala isso porque Santos foi ministro da Defesa de Uribe quando a guerrilha sofreu os golpes mais duros e porque Zuluaga é o herdeiro político do próprio Uribe. Uma briga, no fundo, entre primos políticos conservadores. Nas intrincadas alianças colombianas, inclusive Peñalosa (com uma trajetória independente) alinhou-se com Uribe nas eleições à prefeitura de 2011, algo do qual agora tenta se distanciar.
Peñalosa prevê que, caso qualquer um dos dois conservadores seja eleito, Santos e Zuluaga “passarão quatro anos se destruindo e se defendendo assim como fazem em campanha, e “isso não é o que a Colômbia precisa”, afirma. “As prioridades de nossa campanha são a igualdade e a educação, a única área em que prometemos um incremento de gasto público, sem fazer promessas fáceis como os demais. Como prefeito, criei 200.000 vagas nas escolas em três anos, e colégios de luxo em bairros pobres, além de uma rede de bibliotecas. Trata-se de construir igualdade”, assegura.
As propostas da esquerdista Clara López, uma economista de 64 anos com formação em Harvard, também têm esbarrado no lamaçal da guerra suja, da qual disse também que os que estão envolvidos nela não merecem governar. Tem um apoio de cerca de 10% nas últimas pesquisas, similar ao que agora tem Peñalosa: ambos oscilam entre o terceiro e quarto lugares. Enfatiza a correção da desigualdade, propõe uma mudança de modelo econômico para se buscar o pleno emprego e que se garanta a educação e a saúde como direitos.
A quatro dias das eleições, não houve um só debate com os cinco candidatos. Santos cancelou um, Zuluaga outro. Dois estão programados, para a quinta-feira e a sexta-feira, o que representa talvez a última oportunidade para os candidatos progressistas abrirem um espaço em meio à polarização.
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