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“Sei quem matou a minha mãe, mas não posso dizer”

Um filho de Jean McConville explica como o IRA levou a viúva em 1972 para executá-la

Imagem de arquivo do presidente do Sinn Féin, Gerry Adams, preso pelo assassinato de Jean McConville em 1972.
Imagem de arquivo do presidente do Sinn Féin, Gerry Adams, preso pelo assassinato de Jean McConville em 1972.RICHARD DREW / POOL (EFE)

Enquanto Gerry Adams continuava preso, desde esta quarta-feira à noite, em uma delegacia de Belfast para ser interrogado pelo sequestro e assassinato de Jean McConville em 1972, um dos 10 filhos desta viúva de 37 anos explicava esta manhã no programa Today de BBC Radio 4 como viveu aqueles momentos. “Sei quem matou minha mãe, mas não posso dizer. Vi eles pela rua, mas se digo à polícia quem foi matarão a mim ou a alguém da minha família. Nunca falei”, relatou Michael McConville, que tinha 11 anos quando uma dúzia de homens e mulheres entraram em sua casa para levar sua mãe. Na semana seguinte, o levaram também para amedrontar-lhe e assegurar o silêncio da família.

O agora presidente do Sinn Féin, Gerry Adams, se apresentou de forma voluntária nesta quarta-feira à tarde em uma delegacia do Serviço de Polícia da Irlanda do Norte (PSNI em suas siglas em inglês) depois que vários artigos foram publicados, nos quais se assegura que um membro do IRA já falecido lhe envolveu nesse crime em declarações a uma universidade norte-americana, que está elaborando um trabalho sobre os conflitos da Irlanda del Norte. Adams passou a noite nas dependências policiais e continua declarando. Antes de entrar na delegacia negou qualquer relação com o assassinato de McConville, que o IRA não reconheceu até 1999 e cujos restos não foram localizados até 2004, enterrados em uma praia da República da Irlanda.

Jean McConville nasceu em uma família protestante do leste de Belfast, mas se casou com um homem católico que servia no exército britânico, com quem teve 10 filhos. A princípio viviam em um bairro protestante mas, acossados pelos vizinhos, se mudaram a uma zona católica no oeste de Belfast. Ele morreu de câncer em 1971.

A jovem viúva e seus filhos tiveram que se mudar de casa depois que os vizinhos a acusassem de ter ajudado um soldado britânico ferido. Seis semanas depois, em dezembro de 1972, apanhou na entrada de um bingo. Na noite seguinte foi sequestrada em sua casa por membros do IRA que a acusavam de passar informações aos serviços secretos britânicos.

“Meus irmãos e irmãs e eu ficamos muito angustiados quando vimos aqueles homens voltarem, porque tinham deixado a minha mãe cheia de cortes e toda roxa com a surra que lhe deram”, relatou Michael na BBC.

Uma semana depois, também lhe levaram. “Me bateram com cassetetes nas pernas e nos braços. Colocaram uma arma na minha cabeça e disseram que me iam disparar. Disseram que se eu falava algo a alguém sobre o IRA voltariam e atirariam em mim ou em alguém da minha família”, explicou. “Soube que minha mãe estava morta umas duas semanas depois, quando um homem do IRA veio e nos deixou sua bolsa e seu anel de casamento”, acrescentou Michael McConville.

“Nunca disse a ninguém o que vi. Ainda não disse. Não falei para a polícia. Se eu falo agora à polícia, atirarão em mim ou em algum dos membros da minha família ou meus filhos. A gente acha que tudo isto se dissipou. Mas não é assim”, acrescentou. “Desde meu ponto de vista e o da minha família, é terrível saber quem fez isso e não poder levá-los à justiça. Eu vi eles pela rua e quando lhes vejo, o meu sangue ferve”.

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