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O futebol grita não ao racismo

Em resposta à banana atirada contra Alves, Neymar cria uma campanha que fervilha nas redes sociais

Imagem de TV do momento em que Alves come a banana.
Imagem de TV do momento em que Alves come a banana.

O racismo não é estranho ao futebol. Parece que nunca foi. Inclusive nos anos 70, o moçambicano Eusebio, o Pantera Negra, cansado dos preconceitos raciais, explodiu: “Brancos ou negros, todos temos o futebol sob a nossa pele”. Mas na Liga, inevitavelmente, ocorre a cada ano um episódio do mesmo tipo. Ou com os ofensivos gritos simiescos; ou com o lançamento de amendoins ou bananas. O último caso ocorreu no domingo, com Daniel Alves no estádio El Madrigal, quando lhe atiraram uma banana. O lateral azul-grená a recolheu e deu uma mordida, sinal de indiferença mas, ao mesmo tempo, de reprovação. “É preciso encarar assim, com humor. Não vamos mudar isso facilmente. Faz 11 anos que sofro isso na Espanha e temos que dar risada desses atrasados”. Um gesto que de imediato foi elogiado pelo inglês Gary Lineker, ex-jogador internacional e do Barça, nas redes: “Brilhante a reação de Alves. Tratar a praga racista com total desdém!”.

Nada de novo na Liga, já que no mês passado radicais do Atlético gritaram “Marcelo é um macaco” quando os reservas da partida foram se aquecer no Bernabéu. O mesmo lateral do Real Madrid foi protagonista de outro episódio com Sergio Busquets. A UEFA abriu um processo contra o meia do Barcelona por supostamente chamar Marcelo de “macaco”, embora não tenha sido punido. Faz um ano, Nosa, jogador do Betis, comemorou com um gesto obsceno um gol contra o Sevilla. Horas mais tarde, desculpou-se no Twitter: “Peço desculpas pelo gesto, mas não vou tolerar o abuso racial que estava recebendo de alguns torcedores estúpidos”.

O Villarreal anulou para sempre a carteirinha de sócio do indivíduo que atirou a banana

Regra comum na Espanha, como bem expressado em casos mais chamativos, como nos tempos de Roberto Carlos (Real Madrid) e Eto’o, atacante do Barcelona, que em 2006 ameaçou abandonar a partida se os insultos racistas no La Romareda, campo do Zaragoza, continuassem.

Já que, ao contrário da Inglaterra, não há câmeras direcionadas ao público que identifiquem os que praticam os insultos —apenas são utilizadas se há algum caso de lançamento de objetos ou agressão—, Neymar decidiu lançar uma campanha no Twitter com os hastags #todossomosmacacos e #nãoaoracismo. E, como tem 10,4 milhões de seguidores em sua conta, a fotografia postada por ele alastrou-se como pólvora, mostrando o jogador e seu filho, cada um com uma banana. Muitos outros e do mesmo modo o seguiram: Agüero (Manchester City) e Marta —cinco vezes Bola de Ouro—, os jogadores do Chelsea Óscar, David Luiz e Willian, Hulk, atacante do Zenit, e toda sua família e o próprio Roberto Carlos... Até o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, tirou uma foto com uma banana. “É preciso tomar medidas e punir de forma enérgica para coibir este tipo de preconceito, pois se trata de uma verdadeira mancha ao futebol espanhol”, escreveu o ex-jogador Bebeto. “É lamentável o episódio sofrido por Alves na Espanha”, acrescentou Lavezzi (PSG). “Uma banana para o racismo!”, Fred, companheiro de Alves na seleção, escreveu no Facebook.

Neymar, com seu filho, mostrando uma banana.
Neymar, com seu filho, mostrando uma banana.

Não demorou para o Barcelona solidarizar-se com o lateral: “Apoiamos a mensagem de Respeito e Não ao racismo da UEFA, e encorajamos a todos os clubes a continuar lutando contra o flagelo representado pela agressão contra qualquer atleta em função de sua raça.” Do mesmo modo, o Barcelona isentou o Villarreal de qualquer culpa e agradeceu a atitude do clube em relação ao assunto. Graças aos agentes de segurança presentes no El Madrigal e à colaboração dos torcedores amarelos, o time local identificou o autor que jogou a banana. O clube presidido por Fernando Roig anulou a carteirinha do sócio do Villarreal para sempre. Não forneceu, no entanto, a identidade do indivíduo que se encontrava no canto norte do El Madrigal, lugar onde fica um pequeno reduto de cerca de 50 integrantes que preocupam a direção do clube.

Além disso, é o segundo incidente polêmico que ocorre no El Madrigal na atual temporada, depois do lançamento de uma lata de gás lacrimogênio no último dia 15 de fevereiro na partida entre o Villarreal e o Celta, que obrigou a suspender o jogo por 20 minutos e levou 14.000 torcedores a abandonar o estádio. A autoria do ato de vandalismo ainda é desconhecida.

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