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A rocambolesca história de William J. Vahey, professor pedófilo

O FBI lança um alerta internacional para identificar possíveis vítimas de um professor de história nicaraguense que drogava seus estudantes para fotografá-los nus

Carlos S. Maldonado
Vahey em 2013 (esq) e 2004, em fotos do FBI.
Vahey em 2013 (esq) e 2004, em fotos do FBI.AP

O Colégio Americano de Manágua, um centro de estudos onde a classe alta da Nicarágua matricula seus filhos, foi o cenário de uma história que mantêm o país em alerta, depois de soubessem que um de seus professores mais queridos, o norte-americano William J. Vahey, professor de História e Geografia, era na verdade um pedófilo, "um predador atroz", em palavras de uma porta-voz do FBI. Suas vítimas poderiam superar o número de 90 crianças, espalhadas nos países onde Vahey trabalhou.

Na terça-feira dia 23 de abril, o FBI publicou em seu site um release onde pede assistência pública para identificar as vítimas de Vahey, "um predador internacional de crianças". O documento oficial explica que o homem, de 64 anos, trabalhou desde 1972 como professor em colégios particulares que mantêm o sistema de estudos norte-americano em vários países, como o Colégio Americano de Manágua. As autoridades conheceram a verdade que o carismático Vahey escondia graças a um "roubo providencial", como catalogou a imprensa nicaraguense: sua empregada doméstica roubou um computador e um pen drive da casa do professor.

Ele teria ido até a direção da escola para perguntar sobre o procedimento que deveria cumprir para mandar a trabalhadora embora, mas disse que não queria fazer uma denúncia policial. A mulher foi despedida em novembro, mas dia 11 de março voltou à escola e pediu uma reunião com a direção de Recursos Humanos. A encarregada ficou espantada ao abrir o pen drive em seu computador e ver as fotos das crianças, entre 12 e 14 anos. As autoridades decidiram encarar Vahey.

No entanto, antes da denúncia da empregada doméstica, ocorreu um fato rocambolesco, que não levantou suspeitas da direção do Colégio Americano. O professor Vahey havia desaparecido misteriosamente e foi uma ligação de sua esposa, desde Londres, que alertou as autoridades da instituição de ensino. Vahey se comunicava habitualmente por Skype com ela, durante os finais de semana, mas naquele sábado de novembro ela ficou esperando. Depois do alerta, as autoridades do colégio decidiram enviar um professor até o apartamento do professor: Vahey estava jogado em sua cama, aparentemente sem vida. A notícia correu rapidamente pelo colégio e os estudantes mostraram sua dor pela desaparição do professor. No entanto, horas mais tarde, ocorreu o inesperado: Vahey "ressuscitou".

Os médicos forenses que examinaram o homem constataram que tinha sinais vitais, o que lhes fez decidir a levá-lo a um hospital da capital, onde acordou. As autoridades não explicaram as causas da suposta morte e, segundo uma informação publicada pela revista Confidencial de Manágua, se limitaram a dizer que "seu sangue apresentava um alto nível de toxinas, por causas desconhecidas". A revista cita professores do colégio que especulam que o professor pode ter tentado suicídio depois do roubo do computador e do pen drive.

Depois de receber alta, Vahey viajou aos Estados Unidos para fazer novos exames, dos que ainda não se sabe os resultados. O homem voltou ao país para se reintegrar ao trabalho, em janeiro de 2014. Explicou que sua "morte" ocorreu por ter sido picado por uma aranha venenosa.

A vida no Colégio Americano continuou normalmente, até que o roubo da ex-empregada de Vahey permitiu que as fotos se conhecessem. Ele reconheceu perante as autoridades do colégio que "foi abusado quando criança e admitiu que abusou de menores durante toda a sua vida", segundo o release do FBI, que agrega: "Admitiu, além disso, que dava remédios para dormir aos menores antes do abuso sexual". O FBI analisou fotos com data desde 2008 com pelo menos 90 vítimas, apesar de que o órgão crê que podem ser mais. Vahey já havia sido preso na Califórnia em 1969 com seis acusações de abuso infantil. Foi considerado culpado por uma das acusações e condenado a seis meses de prisão seguidos de cinco anos em liberdade condicional. Nas décadas seguintes se dedicou a trabalhar em escolas norte-americanas em países como Reino Unido, Espanha, Venezuela, Indonésia, Arábia Saudita, Grécia, Irã e Líbano. Vahey acompanhava os estudantes a viagens esportivas ou encontros acadêmicos internacionais.

Depois de conhecer a história de seu professor, os responsáveis pelo COlégio Americano, com medo do escândalo e da imagem negativa que o caso daria da instituição, decidiram não denunciar Vahey à polícia da Nicarágua. Ao invés disso, foram à Embaixada dos Estados Unidos em Manágua, que entrou em contato com o Departamento de Justiça norte-americano. Uma delegação do FBI viajou ao país para investigar o caso. Vahey deixou a Nicarágua em 12 de março, rumo a Miami. Em 21 de março se suicidou em Luverne, no estado de Minnesota. Aparentemente foi informado pelo FBI que estava sendo investigado por abusar de menores.

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