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Os jornalistas libertados na Síria: “Foi difícil, os combates estavam bem perto”

Os quatro profissionais, que foram recebidos em Paris por suas famílias e o chefe do Estado da França, relatam o seu cativeiro em poder de um grupo de jihadistas europeus

Hollande com os jornalistas libertados e os filhos de um deles.
Hollande com os jornalistas libertados e os filhos de um deles.GONZALO FUENTES (REUTERS)

Livres, aturdidos, aliviados e felizes, Edouard Elias, de 23 anos; Didier François, de 53; Nicolas Hénin, de 37, e Pierre Torres, de 29 anos, chegaram neste domingo a Paris depois de passarem 10 meses sequestrados na Síria. Os quatro jornalistas, dois jovens fotógrafos e dois experientes repórteres de guerra, foram recebidos na pista de aterrissagem de Villacoublay entre abraços e lágrimas de alegria por seus familiares, seus colegas de trabalho, o presidente François Hollande e o ministro de Assuntos Exteriores, Laurent Fabius. Hollande, em meio a uma profunda crise de popularidade, assegurou que se trata de “um dia de alegria para a França”. E Didier François, o mais velho dos quatro profissionais, que havia raspado a longa barba que cresceu durante o cativeiro, afirmou: “É uma grande felicidade, um imenso alívio. Temos a sorte de ser franceses”.

Os repórteres agradeceram assim os esforços empreendidos pelo Governo e pelos serviços secretos para conseguir sua libertação. Os quatro jornalistas foram sequestrados em grupos de dois, com algumas semanas de diferença e acabaram enclausurados com outros reféns em uma prisão improvisada pelos jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL, na sigla em inglês); segundo contou Didier François, jornalista enviado pela rádio Europe 1, os prisioneiros passaram “dez meses e meio em um porão sem ver a luz, e um mês e meio acorrentados uns aos outros”.

Didier François, que acabou se tornando o porta-voz do grupo, agradeceu “a generosidade e a mobilização” do Executivo socialista. E, em suas palavras, pairavam as incertezas sobre o destino dos reféns que ficaram na Síria. Hollande lembrou que Paris não tem notícias sobre Gilberto Rodriguez Leal, um jornalista sequestrado no Mali em novembro de 2011 junto com Serge Lazarevic.

Hollande afirmou também à Europe 1 que a “França não paga resgates. É um princípio muito importante para que os sequestradores não se vejam tentados a empreender outros sequestros”. O presidente acrescentou que “tudo foi feito com base em negociações, em conversas”. “E não quero ser mais preciso, porque ainda temos dois reféns no Sahel”.

O grupo jihadista que sequestrou os quatro jornalistas franceses na Síria foi criado em 2013, e segundo informam as autoridades de Paris é composto principalmente de combatentes estrangeiros. O chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, disse que entre seus integrantes há “franceses, belgas, italianos, europeus de modo geral, que marcharam para a Síria para fazer a jihad”.

O relato de Didier François à Europe 1 revela que os sequestrados passaram “muita tensão e estresse”. “Em um país em guerra, nem sempre é fácil ter alimentos, água e luz. Às vezes era difícil, os combates estavam bem perto e tinham de nos trasladar em condições um pouco surpreendentes”.

Nicolas Hénin, de 37 anos, colaborador do Le Point e da TV Arte, que encontrou sua mulher e seus dois filhos nesta manhã, contou que durante o período de cativeiro os reféns foram trasladados várias vezes: “Passei por uma dezena de prisões. A maior parte do tempo com Pierre Torres. Vivemos uma longa travessia de cárcere em cárcere”.

Hénin confirmou que tentou escapar de seus captores três dias após ser sequestrado, e que correu durante uma noite inteira pelo campo antes de ser detido de novo por seus captores. Trataram vocês bem?, perguntaram a ele. “Nem sempre. Não foi fácil”.

Os jornalistas desmentiram também as informações que asseguravam que na sexta-feira foram levados por seus sequestradores até a fronteira turca com os olhos vendados e algemados. Segundo Hénin, o grupo atravessou a fronteira “com a cabeça descoberta e as mãos nos bolsos”.

Agora, os quatro heróis terão de se acostumar a viver em liberdade outra vez. Segundo advertiu o ex-refém Jean-Louis Normandin, que passou por um longo sequestro no Líbano, precisarão de um tempo longo: “O choque do regresso e a intensidade das emoções são muito fortes”.

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