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Londres gastou milhões no antigripal Tamiflu sem provas de sua eficácia

Sua utilidade é duvidosa segundo um estudo apoiado pelo 'British Medical Journal'

Agências Emilio de Benito
Londres / Madri -
Produção de oseltamivir (Tamiflu), em 2009.
Produção de oseltamivir (Tamiflu), em 2009.Gorka Lejarcegi

O Governo britânico desperdiçou 677,8 milhões de euros em Tamiflu e Relenza na década passada, medicamentos antivirais que supostamente servem para combater as gripes aviária e suína, mas cuja eficácia não foi provada. O jornal The Guardian publicou a notícia nesta quinta-feira, por um relatório da Fundação Cochrane com o apoio do British Medical Journal

O documento, baseado em provas médicas internas do próprio Governo britânico, questiona se estes medicamentos combatem a doença e além disso publica que os antivirais têm alguns efeitos secundários prejudiciais, como náuseas e vômitos. Os autores do documento se queixam que em 2009 a falta de dados dificultou o trabalho da fundação para "verificar a segurança e a eficácia de Tamiflu".

Os pesquisadores divulgaram os resultados na rede para que estes possam ser verificados independentemente e reivindicam a natureza dos mesmos em relação aos relatórios supostamente financiados pelas grandes companhias farmacêuticas. Fiona Godlee, editora do British Medical Journal, que publicará estudos da fundação, acha que a decisão de comprar grandes quantidades de medicamentos em 2009 era lógica pelo risco de pandemia, mas em declarações ao The Guardian afirma que o ideal seria que o dinheiro se investisse no Sistema de Saúde nacional. 

Alguns países europeus utilizaram o medicamento como prevenção de uma possível pandemia das gripes suína e aviária. O comitê científico da Agência Europeia do Medicamento (EMEA), constituído pelas agências nacionais dos países membros, opinou em 2009 a vida útil do fármaco Tamiflu, fabricado pelos laboratórios Roche, seria ampliada pela "situação de emergência de saúde pública relacionada com o risco de pandemia de gripe".

Tom Jefferson, especialista em epidemiologia citado por Efe, afirma que para aliviar os sintomas da gripe receitaria paracetamol e não um antigripal.

O laboratório Roche sustenta que o relatório é errôneo, e que os medicamentos são vitais para os pacientes com gripe. "A metodologia não está clara e as conclusões poderiam ter implicações potencialmente sérias", afirmou ao The Guardian o diretor médico da empresa no Reino Unido, Daniel Thurley.

O Tamiflu era um medicamento muito pouco utilizado até que se desatou o alarme pela gripe das aves H5N1 em 2003, uma patologia que ainda circula entre as aves da Ásia e continua causando esporadicamente vítimas mortais (dos 664 infectados, 391 morreram, segundo a última contagem da Organización Mundial da Saúde), e houve um segundo momento de auge com o H1N1 (a má nomeada gripe A).

Sempre houve polêmica sobre sua eficácia. No dia 18 de março, The Lancet publicou um estudo sobre 29.000 casos graves de gripe nos quais se demonstrava que entre os adultos hospitalizados (isto é, os casos graves de gripe) durante a epidemia de gripe A (H1N1) de 2009-2010, a mortalidade se reduziu 25% caso recebessem inibidores da neuraminidase (o grupo de fármacos ao qual pertence o Tamiflu) nos dois primeiros dias.

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