Kerry e Lavrov buscam ajustar posturas para traçar uma rota na Ucrânia
Os EUA buscam frear futuras incursões militares de Moscou, enquanto a Rússia aposta por uma organização federal do país vizinho
Sem vias claras de encontrar uma solução definitiva à crise da Ucrânia, mas com a esperança de concretizar o ajuste de posturas que permita apaziguar a tensão e traçar uma via de consenso até uma solução diplomática, se reuniam este domingo em Paris o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e seu homólogo russo, Sergei Lavrov. A prioridade para Moscou é se assegurar que o país vizinho se organize de maneira federal, enquanto que os Estados Unidos buscam assegurar a economia ucraniana e frear os potenciais anseios expansionistas do Kremlin em território ucraniano.
“Creio que a palavra federação deixou de ser um tabu em nossas negociações”, afirmou o Ministro de Relações Exteriores russo no domingo durante uma entrevista exibida em um canal russo, declarações que foram consideradas um esboço das aproximações que apresentou a Kerry. Para o Kremlin é essencial que a Ucrânia dê a suas províncias uma maior autonomia através de uma reforma em sua Constituição, uma solução que permitiria a Moscou manter sua influência sobre as regiões do leste e do sul do país contra as inclinações ocidentais do atual Governo e os futuros candidatos às próximas eleições presidenciais de maio.
Nessa reforma constitucional que garante que a Ucrânia se constitua em um Estado federal, Lavrov também insiste que se incorpore uma garantia firme de que Kiev não ingressará na OTAN. O chefe do Comando Supremo Aliado da organização, o general Phlip Breedlove, regressou neste domingo de Washington frente “a falta de transparência” dos movimentos russos na fronteira ucraniana, assegurou o Pentágono.
Nas múltiplas reuniões que mantiveram no último mês, Kerry apresentou a seu homólogo russo várias opções a fim de traçar uma rota que chegue à estabilização da Ucrânia que contemplam a progressiva descentralização política do país e o início de um diálogo direto entre Kiev e Moscou. De acordo com a Administração norte-americana, no encontro de domingo o secretário tem previsto apresentar, além disso, o envio de observadores internacionais ao país e insistir na retirada de tropas russas na Crimeia e do resto da fronteira com a Ucrânia, uma condição que, até agora, Lavrov tem se mostrado reticente em aceitar.
Washington parece mais preocupado agora em desativar a ameaça de uma nova intervenção militar do Kremlin na Ucrânia do que insistir nas queixas contra a reclamação de legitimidade da anexação da Crimeia, como demonstra o fato de que na última chamada entre os dois líderes não se mencionara a região. “Uma concessão encaminhada para começar uma maior cooperação por parte de Moscou para resolver a crise e suavizar os receios de futuras invasões”, afirma Jack Matlock, embaixador dos EUA na Rússia entre 1987 e 1991. Para a Administração norte americana a reunião de Paris servirá de cenário para comprovar o grau de compromisso com uma solução diplomática que Putin pareceu apoiar durante sua conversa com Obama.
Enquanto Putin insiste em confirmar os temores de uma nova incursão militar na Ucrânia, incrementando a presença de suas tropas na fronteira com a Ucrânia paralelamente ao andamento das conversações, o Ocidente joga a isca de aplicar novas sanções que se estenderiam a vários setores chaves de sua economia, como a indústria de petróleo e de gás.
Nos últimos dias, tal como assegurou Lavrov neste fim de semana, se produziram avanços significativos e o fato de que Karry cancelara subitamente seu regresso a Washington para reunir-se com o ministro russo evidencia a possibilidade de alcançar pontos de acordo é mais plausível hoje que quando começou a crise. Altos funcionários da Administração norte-americana diminuíram as expectativas do encontro, destacando a disparidade de descrições oferecidas entre a chamada de ambos os líderes na qual se concordou em relançar o diálogo sobre o futuro da Ucrânia. Enquanto a versão da Casa Branca enfatizava a solução diplomática e pedia para Moscou abandonar sua presença militar no país e não realizar novas incursões, a do Kremlin destacava o trato oferecido às minorias por extremistas de Kiev.
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