_
_
_
_

A Rússia é afastada do G8 depois da anexação da Crimeia

Começa em Haia a Cúpula de Segurança Nuclear O presidente dos Estados Unidos e seu homólogo chinês, Xi Jinping, procurarão, junto a outros 56 líderes mundiais, formas de evitar o terrorismo nuclear

Isabel Ferrer

A Rússia não pode continuar pertencendo ao grupo de países mais industrializados do mundo, G8, se continuar violentando a soberania nacional da Ucrânia. Por isso, Moscou não assistirá à próxima reunião do grupo, que passará a se chamar G7 e se reunirá em junho em Bruxelas, e não em Sochi, como estava previsto. O giro europeu do presidente norte-americano, Barack Obama, que começou hoje na Holanda e chegará depois à Bélgica e à Itália, para terminar na Arábia Saudita, deu assim um reviravolta por conta de uma crise mais própria da Guerra Fria.

França, Alemanha, Reino Unido, Japão, Canadá e a própria Itália apoiam a firmeza dos EUA. Por enquanto, isso é tudo, porque o G7 só “está preparado para impor umas multas” que não estão especificadas. Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, e José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, apoiaram a decisão de apartar por agora a Rússia. O único que não parece não perceber isso é Putin, o presidente russo. Sergei Lavrov, seu ministro de Relações Exteriores, desdenhou o gesto de seus ainda sócios, qualificando-os de “clube informal sem autênticos membros; o importante é o G20”, disse, em Haia, sede da Cúpula Nuclear, onde todos coincidiram e que se tornou obscura pela crise da Crimeia. “Se nossos sócios ocidentais acham que o modelo do G8 já não presta, não pensamos em nos ater a isso. Não é um problema para nós não ir. Trata-se de colaborar, não de capitalizar uma relação quando é preciso, para depois ignorá-la, em nome de razões de política doméstica”, acrescentou o ministro, quando soube que o afastamento poderia ser definitivo se seu país mantiver o pulso da Crimeia.

A acidentada viagem de Obama mostrou as mudanças operadas na diplomacia, mais do que nunca em mãos dos líderes internacionais. O presidente admirou primeiro em Amsterdã “A ronda da noite”, o quadro emblemático de Rembrandt. A seguir, pediu reduzir o arsenal mundial de urânio e plutônio para evitar o terrorismo nuclear. Por fim, passou à alerta: A Rússia deve saber que meu país e a UE estão de acordo em apoiar ao Governo e ao povo da Ucrânia”, disse.

Crimeia, perdida talvez para sempre, o objetivo de evitar que a Rússia abra em canal a Ucrânia resultará mais caro para os europeus que para os Estados Unidos. Muito menos dependente do fornecimento russo de energia, Washington busca a fórmula para se auto-abastecer, entre outras coisas, extraindo gás ardósia por meio do polêmico sistema de “fracking”. Para Itália, França e Alemanha, não é tão fácil. Grande parte da energia de uso diário chega da Rússia, e a firmeza de umas possíveis multas que atinjam profundamente o econômico, pode ser malogrado por culpa da má situação financeira europeia.

Em plena tensão internacional, o encontro nuclear -que termina nesta terça-feira- favoreceu assim um frenético jogo de encontros bilaterais. Antes de se reunir com o G7, Obama falou com o presidente chinês, Xi Jinping. Aproximar posturas com Pequim, que costuma se alinhar com Moscou, é essencial para Washington. Daí as reveladoras declarações do mandatário norte-americano ao despedir-se de Xi: “Acho que podemos trabalhar juntos no terreno do direito internacional e o respeito da soberania nacional”, disse. Algo enigmático, Xi Jinping afirmou que via “mais espaço para a cooperação entre ambos os países”. Pouco antes, David Cameron, primeiro-ministro britânico, advertia Putin de que “o Governo russo deve mudar de rumo”. Por sua vez, Angela Merkel, chanceler alemã, reforçou que o “G8 já não existe nestes momentos”.

Sergei Lavrov aproveitou também para dialogar com o seu par ucraniano, Andriy Deshchitsia. Era a primeira vez que o faziam desde a anexação da Crimeia à Federação Russa, e Deshchitsia chegou com duas petições claras: a retirada do Exército russo e a busca de uma solução pacífica para o conflito. A Assembleia Geral da ONU debaterá na próxima quinta-feira uma resolução apresentada pela Ucrânia denunciando a legitimidade do referendo do último 16 de março.

Putin conseguiu a expulsão de um fórum que agora prefere ignorar por ter quebrado o princípio da soberania nacional. O mesmo que sustenta as relações internacionais desde o século XVII. Também, por reviver o trágico fantasma da reunificação étnica na Europa. Ter feito isso com a Ucrânia, uma das antigas repúblicas da União Soviética, prejudica ainda mais a situação. Moscou prometeu respeitar a integridade territorial de sua vizinha, em troca de que lhe entregasse as armas nucleares ali armazenadas durante a Guerra Fria. Na segunda-feira, no entanto, as tropas ucranianas recebiam a ordem de se retirar da Crimeia em uma cena similar à de uma outra era política.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_