O mistério de um corpo esquartejado
A polícia se vê diante de um de seus maiores desafios, descobrir quem foi a vítima de um assassino que espalhou seus membros pelo centro de São Paulo
Essa sinistra história de um corpo esquartejado poderia compor um dos livros de Edgar Allan Poe, um dos episódios do seriado Dexter ou qualquer outra boa obra de ficção policial. Como ainda não teve um desfecho, e é bem mais real do que fantasiosa, acaba alimentando uma série de conversas em bares, padarias, academias e delegacias de São Paulo.
O que chamou a atenção da mídia local e da high society paulistana é a região onde ocorreu o crime, em Higienópolis, bairro nobre, reduto de várias sinagogas, restaurantes premiados e um dos metros quadrados mais caros da cidade (cerca de 9.000 reais). Se fosse na periferia ou em um município dormitório da Grande São Paulo, onde já foram achados até cemitérios clandestinos, dificilmente teria tanta repercussão.
O mistério começou por volta das 9h do domingo passado, quando um morador de rua que buscava materiais recicláveis no lixo encontrou pedaços de duas pernas, dois braços e duas mãos de um homem, com as pontas dos dedos arrancados, dentro de uma sacola de plástico. Assustado, o homem chamou um comerciante local, que ligou para a polícia.
Um fato que intriga os investigadores é que ninguém reclamou o desaparecimento de um familiar.
Três horas mais tarde, a 500 metros dali, outros membros foram encontrados por uma gari dentro de um carrinho de feira. Dessa vez, era o tronco da vítima, enrolado em um vestido vermelho. Parte da pele do peito e do abdômen, onde haveria tatuagens, fora arrancada. No mesmo dia, poucas horas depois, um outro saco, jogado em uma floreira, foi achado por policiais que vasculhavam a região. Agora, com uma coxa. Todos os pedaços do cadáver estavam nos arredores de dois cemitérios vizinhos, o dos Protestantes e o da Consolação.
No início da semana, a polícia torcia para encontrar a cabeça da vítima. Seria a principal chance de identificá-la. As figas e as orações dos investigadores aparentemente deram certo. Ao menos em partes. Um crânio foi achado na quinta-feira, em frente a principal igreja católica e marco zero da cidade, a catedral da Sé. A resposta, porém, não veio. A cabeça estava em um estado avançado de decomposição. Mesmo assim, os policiais disseram que ela seria da mesma pessoa, mas ainda depende de confirmações genéticas.
Sem rumo
Agora, cinco dias após as primeiras partes do corpo aparecerem, a polícia não tem a mínima ideia de quem é a vítima, quem é o esquartejador de Higienópolis e até mesmo se ele é um serial killer.
“É um dos casos mais complicados em que já trabalhei. Não temos pistas do assassino e não sabemos quem morreu. Só sabemos que o morto era um homem de 30 a 40 anos de idade”, disse o delegado Itagiba Franco, que dirige um setor no departamento de homicídios e há mais de três décadas trabalha como policial.
Não há banco de dados informatizado com digitais e muito menos com informações genéticas.
Um fato que intriga os investigadores é que ninguém, por enquanto, reclamou o desaparecimento de um familiar. “O assassino tomou o cuidado para dificultar a identificação. Sem as digitais e se ninguém aparecer para reclamar o corpo fica mais difícil saber quem morreu. Mas estamos esperando a polícia científica para termos alguma informação que nos ajude”, afirmou o delegado Franco.
A dificuldade desse caso demonstra apenas mais um dos defeitos da polícia brasileira. Não há um banco de dados informatizado com digitais e muito menos um com informações genéticas dos cidadãos. Por isso, nesse momento, depende mais de denúncias e testemunhos do que da perícia científica.
Nos últimos dias ao menos quatro filmagens de câmeras de segurança de prédios e da Guarda Civil Metropolitana foram analisadas. Em nenhuma delas é possível ver com nitidez quem era a pessoa que carregava as sacolas e o carrinho de feira com os pedaços de corpos despejados por áreas com características religiosas. O caso parece distante de ser solucionado.
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