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A mão de Moscou

Viacheslav Surkov pode estar desempenhando um papel chave em uma nova estratégia do Kremlin

Pilar Bonet

Os representantes oficiais russos não se cansam de acusar o Ocidente de interferir nos assuntos internos da Ucrânia, mas os emissários do Kremlin e as organizações de “técnicos políticos” que trabalham para a Administração presidencial em Moscou, da forma mais discreta possível, vão e vêm de Moscou à Ucrânia. Sua tarefa mínima é “pegar pelas mãos os amigos” ucranianos e a tarefa máxima, “organizar um projeto comum”, segundo se deduz de conversas com representantes desse espectro político nas regiões orientais da Ucrânia.

O Partido das Regiões (PR), que integrava o grupo pró-Rússia da Ucrânia em um projeto pró-ucraniano, deixava pouca margem aos “técnicos políticos” do Kremlin assumirem outro projeto alternativo. Os partidos pró-Rússia eram minúsculos e estavam brigados entre si, como demonstra o caso da Crimeia, onde a “Ruskaia Obshina” (a comunidade russa) e a “Ruskoe Edinstvo” são uma minoria insignificante no parlamento da república autônoma e “Russki Blog” (O bloco russo) nem sequer está representado nele.

Meios jornalísticos de Kiev e de Simferopol acham que Viacheslav Surkov, o antigo vice-chefe da Administração presidencial da Rússia, pode estar desempenhando um papel chave em uma nova estratégia do Kremlin para tentar unir estes setores agora que o RP está desprestigiado inclusive em suas regiões de origem.

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Oficialmente, Surkov é representante de Putin para temas de Ossétia do Sul e Abkházia, os dois territórios separados da Geórgia que a Rússia reconheceu como países independentes, depois da guerra com a Geórgia em agosto de 2008. No entanto, Surkov visitou várias vezes a Ucrânia nos últimos meses e tudo indica que este país é o verdadeiro objeto de seu trabalho. Em janeiro, Surkov encontrou-se na Crimeia com os máximos dirigentes da autonomia, segundo afirma o semanário Zérkalo Nedelii. Além disso, entre os últimos dias de janeiro e 20 de fevereiro, o maquiavélico servidor público esteve duas vezes, pelo menos, em Kiev, segundo uma fonte dessa cidade. “E esteve na administração presidencial de Viktor Yanukovich”, afirma a fonte, segundo a qual Surkov poderia ser tido entrevistado com Viktor Medvedchuk, um político ucraniano muito próximo de Putin que financiou uma campanha para evitar que a Ucrânia assinasse o tratado de associação com a UE.

Surkov, que no passado foi considerado como o cérebro da política interna russa, é experiente na manipulação feita nos bastidores, na organização de esquemas retorcidos e na elaboração de planos para situações difíceis. Nos meios pró-Rússia do leste da Ucrânia se queixam de que Moscou os ignorou durante muito tempo e que tiveram negados meios e ajuda. Agora, acham que a situação vai mudar e se preparam para demonstrar que vale a pena organizar os pró-Rússia do Leste do país. Estas tentativas tiveram um balanço de quase uma centena de feridos no sábado em Járkov.

Nessa cidade, a bandeira russa foi fincada temporariamente sobre o edifício da administração provincial, depois que o prédio foi tomado dos partidários do Euromaidan que o ocuparam depois do desaparecimento de Yanukovich. Houve incidentes do mesmo tipo em Donetsk e os pró-Rússia mostraram suas facetas na cidade de Odessa e Lugansk. Os pró-Rússia da Ucrânia estão buscando um líder e há quem pense que esse líder poderia se chamar Vladimir Putin.

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