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O escândalo da espionagem impulsiona a iniciativa de unir Brasil e Europa por cabo

O projeto trata de buscar vias que não passem pelos EUA para a transmissão de dados sul-americanos

Luis Doncel

Duas das mulheres mais poderosas do mundo sofreram nos últimos meses do mesmo problema. Os serviços de segurança dos Estados Unidos espionaram, entre outros muitos líderes, a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, e a chanceler alemã, Angela Merkel. Escutas levadas a cabo por um país amigo serviram para convencer Rousseff da necessidade de dotar de maior segurança às comunicações, ideia sobre a qual girou o encontro UE-Brasil ocorrido nessa segunda-feira 24 em Bruxelas.

“Queremos comunicações que sejam seguras e nas quais a UE e o Brasil possamos confiar”, assegurou a mandatária brasileira junto aos presidentes da Comissão, José Manuel Barroso, e do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. Com sua visita à capital comunitária, Rousseff quis impulsionar um projeto que unirá por um cabo pelo Atlântico os 5.600 quilômetros que separam a cidade brasileira de Fortaleza de Lisboa. “Temos que respeitar a privacidade, os direitos humanos e a soberania das nações. Não queremos que nossos negócios possam ser espiados”, acrescentou a presidenta.

Fontes europeias apontaram que o principal obstáculo com qual o projeto terá que lutar será encontrar os cerca de 185 milhões de dólares (cerca de 440 milhões de reais) necessários para o financiamento. O consórcio encarregado da obra, que tem início previsto para a primeira metade deste ano, estará formado pela operadora brasileira Telebras, a empresa espanhola Islabank e um fundo de investimento brasileiro, segundo as fontes. O cabo de nova construção vai competir com o que agora envia os dados de América do Sul aos Estados Unidos através de Miami, operado pela espanhola Telefónica. A comunicação de fibra óptica mais longa que agora está operativa é a que une a Alemanha com o leste da Ásia.

A notícia de que os EUA tinham grampeado o telefone de Rousseff disparou a tensão até o ponto em que a presidenta brasileira suspendeu, em setembro do ano passado, uma visita oficial a Washington. O projeto de cooperação com a Europa se apresenta como um movimento vital para um país como o Brasil, cujos canais de comunicação por cabo passam sem exceção pelos Estados Unidos.

A colaboração entre Brasil e Europa para impulsionar a agenda digital não acaba com a visita de Rousseff a Bruxelas. No próximo mês de abril ocorre em São Paulo um encontro multimídia para desenvolver uma melhor governança da Internet, na qual os representantes europeus se reunirão com os brasileiros na busca de um objetivo pelo qual Merkel já pediu. A chefa de Governo alemã propôs há uma semana a criação de uma rede de dados europeia que evite o envio das informações digitais por servidores informáticos norte-americanos.

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