O PT cede e tira das mãos de um militar a Comissão de Direitos Humanos
Jair Bolsonaro, político favorável à pena de morte, era o candidato mais provável para presidir a Comissão
O Partido dos Trabalhadores decidiu assumir o comando da Comissão de Direitos Humanos e Minorias para evitar que o deputado do Partido Progressista (PP), Jair Bolsonaro, militar conhecido pelas suas posições extremistas, ocupasse a presidência.
A decisão foi confirmada em uma reunião que os representantes dos principais partidos tiveram com o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). O PT selou uma espécie de acordo com o PP pelo qual ficará com a Comissão de Direitos Humanos e deixará na mão do partido de Bolsonaro as Comissões de Trabalho e Turismo.
A troca é a resolução da chantagem orquestrada pelo PP. Com a intenção de ficar com a Comissão de Minas e Energia, o partido resolveu colocar Bolsonaro como candidato para que o PT, que tem direito a três das 21 comissões, sacrificasse a comissão que o PP cobiçava com o objetivo de evitar um novo mandato polêmico após a presidência do pastor Marco Feliciano (PSC).
“Quando me lancei candidato foi porque havia possibilidade dessa comissão ir para o nosso partido. Eu conversei com vários parlamentares do meu partido e todos concordaram, ninguém quer ir para lá. No meio do caminho, quando a imprensa divulgou que eu seria candidato, o PT resolveu entrar no jogo. Aí meu partido propôs a troca dessa Comissão pela de Minas e Energias”, disse Bolsonaro em entrevista a este jornal publicada nesta segunda.
Pelo sistema de divisão - os maiores partidos escolhem as comissões que interessam e depois vão fazendo um rodízio- finalmente, foi o PMDB quem escolheu primeiro a estratégica Comissão de Minas e Energia que o PP queria, mas as pastas de Trabalho e Turismo não são nada depreciáveis. “Com certeza, Bolsonaro não será indicado para nenhuma delas, precisa de um perfil mais técnico para assumir essas comissões”, avalia António Augusto Queiroz, autor do livro 'Por Dentro do Governo' e membro Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP).
Segundo o deputado federal Jean Wyllys (PSOL), a Comissão de Direitos Humanos foi escolhida em décimo-sexto lugar, e não foi pelo PT. Foi "o Partido Trabalhista Brasileiro que escolheu a comissão, não porque se identifique com seu tema, mas porque viu, aí, a chance de utilizá-la como moeda de troca. O líder do PTB fez questão de deixar claro de que não se comprometeria a não colocar na presidência da comissão algum deputado fundamentalista ou contrário às minorias. Viu-se então que se estava diante de uma nova ameaça", explica Wyllys no seu perfil de Facebook. Foi nesse momento, diz Wyllys, quando o líder do PT resolveu ceder à pressão externa e a dos próprios deputados do PT e trocou a Comissão Transportes pela de Direitos Humanos, para evitar uma presidência tão prejudicial para imagem do Governo como a do pastor Feliciano.
“A ausência do PT nessa Comissão trouxe um enorme desgaste e agora vai promover a reaproximação do PT aos movimentos sociais”. O afastamento do PT dos movimentos sociais é uma crítica frequente feita ao partido.
Segundo o próprio Bolsonaro, ele era dos poucos que disputava essa vaga, dado que a temática dos direitos humanos é uma das menos relevantes para os partidos. A bancada evangélica, que desistiu de lutar pelo comando da Comissão, tinha demonstrado sua simpatia pelo candidato.
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