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A guarda de fronteira dos EUA mostra a crianças como atirar

Agentes norte-americanos ensinam os menores a disparar bolas numa silhueta humana em frente à cerca fronteiriça com o México

Inés Santaeulalia
Duas crianças disparam pintura numa silhueta em San Ysidro (EUA) em 2013.
Duas crianças disparam pintura numa silhueta em San Ysidro (EUA) em 2013.

A atividade consiste em olhar à dupla cerca que separa os Estados Unidos e o México, apontar a arma e disparar bolas de pintura. O objetivo é uma silhueta de homem vestida com umas calças largas e uma t-shirt. O entretenimento para crianças fez parte da celebração que a Fundação Roberto J. Duram, criada por vários agentes fronteiriços em memória ao agente Duram, falecido em 2002, realiza há 10 anos na zona fronteiriça de San Ysidro (Califórnia) para lembrar os agentes mortos.

Várias fotos, algumas publicadas no perfil de Facebook do evento e outras dadas a conhecer pelo Comitê de Serviços Amigos Americanos, mostram aparentemente menores de idade, ajudados por supostos agentes fronteiriços, fazer alvo na silhueta no dia 8 de junho de 2013, última edição da celebração. As crianças, com umas idades que poderiam ir de cinco anos à adolescência, segundo as imagens, têm a opção de escolher a arma entre um arsenal disposto sobre uma mesa antes de disparar.

"A pessoa que me proporcionou as fotos esteve presente ao evento mas prefere manter no anonimato. É uma pessoa de minha total confiança", diz o diretor do Comitê que se dedica a trabalhar com pessoas sem documentos, Pedro Ríos, a EL PAÍS desde San Diego (EUA) em conversa telefônica. Este jornal pôs-se em contato por e-mail com a Fundação para tentar confirmar a celebração do evento, mas não recebeu resposta.

O encontro anual, de nome San Diego Falhem Agents Memorial, tem como eixo central uma corrida de cinco quilômetros para adultos e de uma milha para crianças ao longo da cerca fronteiriça. A celebração apresenta-se em sua página como um dia familiar com numerosas atividades para os menores como pinturas de cara, oficina de arte ou jogos com balões de helio.

Em nenhum local da página de Internet menciona-se um jogo com armas, mas segundo testemunhas a atividade realiza-se ao menos desde 2012, como pode ser visto nas fotos do próprio evento compartilhas/compartilhadas em Facebook. A novidade do ano passado é que se vestiu à silhueta com roupas largas e se colocou justo em frente à dupla cerca fronteiriça. Entre as imagens que figuram na rede social se vê apararentemente adolescentes no evento do ano 2013 e uma criança que poderia ter entre sete e dez anos disparando à silhueta na celebração de 2012. O resto de imagens, nas que aparecem crianças que aparentan pouca idade, foram difundidas pelo Comitê de Serviços de Amigos Americanos.

"É uma séria falta de sensibilidade que permitam a menores de idade usar uma figura que representa um migrante, quando a uns 100 metros dali agentes da patrulha fronteiriça têm estado envolvidos em atos onde migrantes perderam a vida", denuncia o diretor do Comitê.

Este jornal solicitou informação à Patrulha Fronteiriça mas à hora da publicação deste artigo não recebia resposta.

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