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Acaba a cúpula de paz da Síria, sem avanços nem concessões do regime

O mediador da ONU convoca as partes novamente para 10 de fevereiro Os grupos observadores asseguram que 1.870 sírios morreram durante as negociações

O ministro sírio de Relações Exterior, Wallid ao Muallem, durante cúpula de Genebra no dia 31 de janeiro.
O ministro sírio de Relações Exterior, Wallid ao Muallem, durante cúpula de Genebra no dia 31 de janeiro.DENIS BALIBOUSE (REUTERS)

Sem alterar em nada o seu discurso, e com a mesma atitude desafiadora que mostrou desde o começo, a delegação do regime de Bachar el Asad deixou em suspenso nesta sexta-feira o prosseguimento da cúpula de Genebra II, ao término da primeira ronda de negociações. Embora o mediador das Nações Unidas para a Síria, Lakhdar Brahimi, tenha convocado as partes novamente para o dia 10 de fevereiro, os representantes do governo sírio responderam que antes precisam se consultar com Damasco, evitando dessa forma se comprometerem em manter vivo um diálogo que por enquanto não ofereceu nem um só resultado.

O ministro sírio das Relações Exteriores, Wallid al Muallem, acusou nesta sexta-feira a oposição de “falta de maturidade e seriedade”, ridicularizando-a por ter se hospedado em “hotéis de cinco estrelas no estrangeiro, sem saber o que acontece de verdade” nas zonas de guerra. “Queriam vir e que em uma hora lhes entregássemos todo o poder”, acrescentou ele em sua entrevista coletiva. “Vivem uma ilusão.”

Enquanto isso, 1.870 sírios morreram durante os sete dias que duraram as negociações, sendo pelo menos 40 por falta de alimentos e medicamentos nas zonas sitiadas pelo regime, conforme denunciou nesta sexta-feira o Observatório Sírio de Direitos Humanos, filiado à oposição. Desses mortos, 498 eram civis.

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Em princípio, esperava-se do regime que mostrasse em Genebra II uma atitude prudente e comedida, como parte da sua tentativa de obter legitimidade no cenário internacional depois de uma série de avanços no campo de batalha.

No entanto, desde o início da cúpula de paz na pequena localidade de Montreux, com continuação em Genebra, os enviados de El Asad demonstraram uma agressividade exasperada com relação aos demais participantes e inclusive com os dirigentes da ONU que os haviam convocado. Buscaram denegrir os opositores com os quais negociam, ao chamá-los de “traidores” e “agentes a soldo do inimigo”; acusaram a Turquia e Arábia Saudita de “ampararem o terrorismo” por apoiarem os rebeldes e, finalmente, nesta sexta-feira, culparam os Estados Unidos pelo fracasso das negociações, devido às “ingerências”, conforme declarou o chanceler Muallem na sua entrevista coletiva.

Já a oposição presente em Genebra II conseguiu, pelo menos, que a imprensa oficial síria mostrasse seus representantes dialogando com os emissários de El Asad, numa atitude muito mais sóbria e comedida que a do regime. Evitando as estridências do seu homólogo, o presidente da Coalizão Nacional Síria, Ahmad al Jarba, disse nesta sexta-feira que o regime nunca esteve a favor de um “compromisso sério”. “O fato de ter aceitado se sentar à mesa de negociações será o princípio de seu fim”, disse Jarba em nota lida a jornalistas.

O presidente da Coalizão Nacional Síria, Ahmad Jarba, depois do fechamento conversas.
O presidente da Coalizão Nacional Síria, Ahmad Jarba, depois do fechamento conversas.MARTIAL TREZZINI (EFE)

O Grupo de Amigos de Síria, um amálgama de potências regionais e ocidentais – entre as quais se incluem os EUA, a Arábia Saudita e a Turquia – que apoia a oposição moderada, acusou o regime de “ser responsável pela falta de avanços nesta primeira rodada de negociações”, segundo um comunicado emitido após uma reunião dos seus delegados em Genebra nesta sexta-feira.

Um dos pontos discutidos na conferência Genebra II foi o do terrorismo islâmico. Um numeroso contingente jihadista combate não só ao regime como também os oposicionistas moderados ligados ao Exército Sírio Livre. Entretanto, não houve nenhum ponto de acordo, porque o regime insiste em classificar todos os rebeldes como terroristas, sem distinções.

O único e tênue avanço da conferência de paz foi, até agora, a promessa do regime de permitir a saída de 500 famílias sitiadas há mais de 18 meses no centro da cidade de Homs. E por enquanto a promessa fica por cumprir, porque, conforme disse Muallem nesta sexta-feira, há grupos armados nessa localidade síria que querem criar corredores humanitários “para sair com suas armas para outras cidades”.

Brahimi, o mediador da ONU, admitiu nesta sexta-feira, após os sete dias de negociações diretas, que não tinha resultados para apresentar. “É um início muito modesto”, disse. O único avanço foi, conforme declarou, “que ambas as partes se acostumem a se sentarem em uma mesma sala, a detalhar suas posições e escutar o outro”. Não é muito, em um conflito que dura quase três anos e já custou a vida de pelo menos 130.000 pessoas.

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