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O Banco Central da Argentina volta a vender dólares para evitar desvalorização

As reservas de divisas estão no menor nível dos últimos sete anos

Francisco Peregil
Um homem passa em frente a um banco na sexta-feira.
Um homem passa em frente a um banco na sexta-feira.reuters

O Governo argentino tenta fazer com que o dólar oficial não custe mais de 8 pesos (2,40 reais). Ou seja: que a queda sofrida entre quarta e sexta-feira pare por aí e não se aprofunde. Para conseguir pisar no freio em plena ladeira abaixo, o Banco Central teve de desfazer-se, em 48 horas, de boa parte de suas reservas. Na quinta-feira, vendeu 100 milhões de dólares e na sexta-feira, 160 milhões. A boa notícia é que, com essa venda e com o anúncio, feito sexta-feira, de que a partir de segunda-feira as pessoas físicas poderão comprar dólares no mercado oficial, o Governo conseguiu que o dólar oficial ficasse nos 8 pesos e que o dólar blue, o do mercado negro, baixasse em um só dia de 13 para 11,70 pesos. A má notícia é que o Banco Central só dispõe agora de 29 bilhões de dólares em reservas, um nível que não se registrava havia sete anos. E a partir de segunda-feira, se o Governo cumprir sua palavra e permitir que os cidadãos comprem dólares, as reservas podem continuar diminuindo.

Boa parte dos líderes de oposição criticou na sexta-feira a medida do Governo, embora muitos deles viessem pedindo havia meses que o Executivo acabasse com o que a imprensa batizou de "cepo cambial" (as restrições à compra de dólares). Mas a maioria dos políticos oposicionistas afirma que essa medida é um mero paliativo que não resolve o problema central da economia argentina, a inflação.

O deputado de oposição Sergio Massa, que era um dirigente governista até que decidiu criar seu próprio partido nas eleições legislativas de outubro, assinalou: "Houve muitos vaivéns na política econômica nos últimos 20 dias. Não se encara com seriedade o problema central, que é a inflação. Esse anúncio vai aumentar a pressão dos preços sobre os salários e quem sai perdendo é o aposentado e o trabalhador, não o empresário que anda especulando." Depois de uma reunião de emergência com sua equipe econômica, Massa divulgou um comunicado no qual dizia: "É evidente que o Governo não tem capacidade para enfrentar a inflação. E as decisões que têm sido adotadas só agravam o problema. Não há coerência, os critérios são mudados reiteradas vezes, e a inflação alta, a perda de reservas e as tensões cambiais são consequência da falta de um programa econômico consistente."

O deputado socialista Hermes Binner qualificou de grave o "esvaziamento" das reservas do Banco Central. "Não se trata de apertar um botão, mas de ter uma política coerente que contemple as reservas, a emissão de moeda, a política cambial e a necessidade de saldar as dívidas." Alfonso Prat Gray, que foi presidente do Banco Central (2002-2004) no Governo de Néstor Kirchner e agora é deputado de oposição, declarou ao jornal Clarín: "A crítica que faço a eles é que estão olhando os sintomas e não a questão de fundo que é a inflação, deveriam ter um programa para baixar a inflação. Passaram estes dois meses tentando fechar os canais por onde saíam os dólares, com impostos sobre o turismo, dificultando as compras pela internet. Mas não tomaram nenhuma medida para estimular a oferta e agora voltam a aumentar a pressão sobre as reservas."

Há numerosos economistas da oposição que não acreditam que o Governo vá facilitar muito a compra de dólares. Até segunda-feira não serão conhecidos os detalhes da medida governamental. Se realmente não houver entraves excessivos para a compra, é previsível que se freie a escalada do dólar no mercado negro. Mas minguarão as reservas do Banco Central. Desde que o Executivo de Cristina Kirchner começou em outubro de 2011 a impor restrições para a compra de dólares, o Banco Central perdeu 22 bilhões de dólares de suas reservas. Boa parte desse dinheiro foi destinada ao pagamento de dívidas. Mas outra parte foi usada para evitar que o dólar blue continuasse ganhando valor frente ao peso.

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