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Calor e selva na zona urbana de Manaus

Capital do Amazonas reúne boa gastronomia com diversas opções de passeios para quem gosta de natureza

Ponte sobre o rio Negro.
Ponte sobre o rio Negro.Embratur

Nem vestindo todas as suas roupas de inverno e ligando a calefação um turista vindo de longe da linha do Equador teria ideia do calor de Manaus. Faltaria o sol ardendo na pele, o sol que queima e anuncia uma chuva forte e rápida, e que nunca vem para aplacar o calor. Mesmo os nativos não se acostumam com ele, embora, acredite, a maioria prefira mil vezes o calor de até 40º C às temperatura abaixo de zero do gelado inverno europeu. O cuidado para quem vem de países com inverno rígido é usar roupas leves, de preferência de algodão, e um filtro solar confiável.

No período da Copa, junho, o calor em Manaus é um dos mais altos do ano. É nesta época que acontece a transição entre as estações chuvosa e seca na cidade. As temperaturas mínimas variam entre 23 e 19 graus (geralmente pela manhã e madrugada) e as máximas oscilam entre 31 e 34 graus, à sombra, segundo dados do 1º Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

A segurança que tanto preocupa os portadores de euros ou dólares é normal como em qualquer cidade brasileira, ou seja, a cidade não é 100% segura como nenhuma capital do mundo. Como o turista comum não vai circular pelos bairros mais violentos de Manaus, até porque por lá não há mesmo nenhuma atração turística, os cuidados com a segurança são os usuais como em qualquer cidade: dinheiro bem guardado e muita atenção às máquinas de filmar e fotográficas. O mesmo cuidado que alguém teria em qualquer cidade turística, repito.

O transporte público, assim como a buraqueira nas ruas, para mim são o pior de Manaus. Embora agora a prefeitura se esforce nesse momento em maquiar os arredores da Arena Amazônia, mas só os arredores. Também assustará o turista a falta de uma política de castração de animais de rua, que fazem com que a cidade tenha muitos, mas muitos mesmo, cães e gatos abandonados. Isso o turista que se aventurar pela cidade vai observar e chama a atenção. Agora, para circular em Manaus, eu, se fosse turista, só andaria de carro (com ar condicionado). A frota de ônibus é velha, bem velha. O táxi é caro, sim, a bandeirada hoje começa em R$ 4. E, jamais, eu arriscaria um moto-taxista, figura comum em Manaus. O trânsito daqui é muito, muito selvagem.

Nos pontos turísticos básicos, como o Teatro Amazonas e o Largo São Sebastião, passeios guiados pela selva urbana e o Mercado Municipal, em uma pequena parte do centro histórico de Manaus (a maior parte, infelizmente, não foi restaurada), a segurança costuma ser boa, com guardas tipo Cosme e Damião circulando. E essa segurança certamente dobrará no período da Copa do Mundo.

Por isso, palavra de nativa, não há motivo para pânico no quesito segurança: é só ter atenção aos seus pertences, porque dá para relaxar e aproveitar as belezas da terra, da mesma forma que você relaxaria para passear em qualquer lugar turístico – friso de novo. Eu, pelo menos, nunca descuidei de máquina fotográfica ou de minhas compras em qualquer lugar que visitei no mundo e sempre voltei para casa me sentindo abençoada.

Comer em Manaus, para quem gosta de provar os pratos típicos, é para mim o segundo “melhor“ da cidade. Há restaurantes para todos os gostos e bolsos. Alex Atala, afinal, veio buscar nessa terra suas inspirações de temperos para pratos conhecidos mundialmente. A recriação da tradicional comida amazônica, em pratos criativos e sensacionais, podem ser encontradas em restaurantes mais sofisticados e caros, como o Banzeiro e os charmosos Zefinha Bistrô e Waku Sese (este dentro de um shopping), ou pratos típicos e baratos em um restaurante por quilo no centro, o Tempero Amazônico. Neste ano, dois restaurantes de pratos regionais estilo fast food inauguraram em dois shoppings da cidade, o Vitrine Amazônica e o Caboquinho. Para o turista que se sentir sufocado no calor úmido da cidade um shopping todo no ar condicionado é uma ótima opção.

Por fim, o melhor da cidade para esta nativa é a beleza natural e única do verde da selva e seus bichos. E ainda há muito a ver nos arredores. Uma torre de 42 metros sobre a selva urbana no Museu da Amazônia (Musa) deve ser inaugurada em março. A contemplação de cima será certamente deslumbrante: a rain forest, densa, de inúmeros tons de verde. Mesmo que a torre não esteja inaugurada, a área do Musa, no Jardim Botânico Adolpho Ducke, é de visita imperdível. Há trilhas pela floresta que devem sempre ser feitas com guias, que o próprio parque disponibiliza. Recentemente foram inaugurados um orquidário e um borboletário. Com sorte, nas trilhas, o turista pode ver macaquinhos, araras, tucanos, preguiças, todos onde devem estar, em seu habitat.

Em reforma nas duas últimas administrações da cidade, a Ponta Negra, uma praia do rio Negro que banha a capital, é o melhor passeio grátis para um turista. Eu não recomendaria o banho, já que o terceiro laudo do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia, sobre o aterro na maior área de lazer de Manaus disse que a superfície da beira do rio continua irregular, com desníveis abruptos e depressões (buracos), colocando em risco a vida dos banhistas. Já passear pela orla e observar o por do sol sob o rio Negro é maravilhoso. Tem um hotel, o Tropical Business, que tem um restaurante no topo que brinda o turista com uma vista espetacular, mas com um menu de poucos pratos típicos. Normalmente, há policiais circulando à noite pela praia e ainda não chegou por aqui a moda do arrastão. Ainda.

Como acredito que um turista de fora do País venha a Manaus mais pelas belezas naturais, vale ainda, com dinheiro no bolso (porque turismo na selva é mesmo muito caro), dar um giro por Anavilhanas. Há hotéis de selva de luxo, como o Anavilhanas Jungle Lodge, mas há opções mais baratas. Dá também para passar o dia, comer umas costelas de tambaqui num restaurante na beira do lago e ver os botos cor de rosa sendo alimentados por tratadores. Só vai ser difícil nadar com os botos porque recentemente começaram a valer uma série de regras para evitar o estresse dos bichinhos explorados em passeios turísticos.

E, por favor, se assistir a algum bicho sendo maltratado ou explorado em seus passeios pelo Amazonas, denuncie. Tem nativo que se irrita quando é perguntando se circulam cobras ou jacarés pela área urbana de Manaus. Eu nunca me irritei. Sempre respondi que, infelizmente, não circulam bichos pela área urbana de Manaus porque a cidade cresceu comendo a selva, sem respeitar o meio ambiente e cujos governantes continuam no mesmo erro, agora com a fantástica Avenida das Torres, que corta umas três zonas da cidade, às custas da morte de muitos animais e sob os protestos tímidos dos ambientalistas.

Enfim, como nativa que se auto-exilou por onze anos e está de volta há outros onze, considero Manaus uma cidade igual a todas as capitais brasileiras que conheço (todas): bem maquiada nos pontos turísticos e com uma periferia sem cuidados. Mas é uma cidade quente no calor humano também, pois o amazonense é acolhedor e simpático e, sem citar outras cidades onde há fama de malandragem e esperteza, o amazonense costuma ser honesto e é pávulo disso (pávulo é uma palavra típica que significa orgulhoso). Só que, infelizmente, o inglês ainda é bem pouco falado por aqui, mesmo em lugares turísticos. Traga seu dicionário de português.

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