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O erro que derrubou a cotação mundial do suco de laranja

Um cálculo superestimado da safra, feito pelo Governo brasileiro, causou um prejuízo de 400 milhões de dólares para o setor

Pomar de laranjas no Estado de São Paulo.
Pomar de laranjas no Estado de São Paulo. Citrus BR

Maior produtor global de suco de laranja, o Brasil tem na cadeia da citricultura uma importante fonte de geração de riquezas. Seus pomares localizados nos Estados de São Paulo e de Minas Gerais são responsáveis por produzir quase a totalidade de uma oferta que representa 80% do comércio global da bebida, geram 200 mil empregos e uma receita de 2,5 bilhões de dólares. Uma falha no cálculo da estimativa da safra de laranja feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão ligado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), porém, causou um forte prejuízo ao setor, estimado em 400 milhões de dólares pela Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), principal entidade representante do setor.

O suco de laranja é uma commodity e como tal tem seu preço definido pela Bolsa de Valores. Entre os meses de maio e novembro deste ano, suas cotações na Bolsa de Nova York, a referência para o produto, caíram de 1500 dólares por tonelada de suco concentrado e congelado para 1200 dólares. O motivo foi a previsão de safra de laranja divulgada em maio pela Conab, realizada em parceria com o Instituto de Economia Agrícola de São Paulo (IEA), que apontou uma produção de 340 milhões de caixas.

A expectativa de uma grande oferta em 2013, somada ao fato de que no ano de 2012 a produção tinha tão sido grande que os estoques brasileiros conseguiam sozinhos abastecer o mercado mundial durante 35 semanas, reduziu as possibilidades de negociação dos produtores e processadores de suco brasileiros com os compradores internacionais – a União Europeia compra 70% do suco de laranja brasileiro.

“Na cabeça do comprador internacional a situação era: seus estoques estão altos, a demanda mundial está caindo por causa da concorrência com as bebidas energéticas e o chamado néctar e o governo brasileiro prevê mais uma grande safra. Ou seja, seu produto vale não tanto”, afirma Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR. De acordo com ele, há um bom relacionamento entre o setor e o governo e a previsão equivocada foi ruim para os dois lados. “Sabemos que não foi algo intencional, mas é preciso ter mais cuidado”, diz ele.

A ‘mancada’ da Conab fica pior ainda se é levada em consideração a pauta de exportações brasileiras, que conta com uma fatia de 70% relacionada a commodities, ou seja, matérias-primas, como minério de ferro, soja e suco de laranja. Até novembro, o saldo da balança comercial pendia para o lado positivo por apenas 89 milhões de dólares. Neste mês, a Conab revisou sua previsão, aproximando-a à que a CitrusBR mantinha desde o mês de maio, de 268 milhões de caixas.

Para José Augusto de Castro, presidente da Associação dos Exportadores do Brasil (AEB), em médio prazo, a falha deve desestimular o plantio, levando os produtores a buscar cultivos mais atraentes. “É difícil imaginar que alguém queira investir um tostão na produção de laranja diante deste cenário”, afirmou.

E essa é uma tendência que já está em formação: dados da Conab indicam que, de junho de 2010 até dezembro de 2013, 38% dos citricultores haviam abandonado seus pomares.

De acordo com Marco Antonio dos Santos, presidente da Câmara Setorial de Citricultura do Ministério da Agricultura, o ministro da Agricultura, Antônio Eustáquio Andrade Ferreira, se encontrou com representantes da cadeia citrícola para discutir o levantamento de safra. “Tivemos uma primeira reunião em que propusemos a possibilidade de um levantamento realizado por uma empresa privada, mas não conseguimos agendar uma segunda reunião”, disse ele.

A Conab, por sua vez, se defendeu por meio de uma extensa nota enviada ao EL PAÍS. Nela, diz que: “seus levantamentos mostram um retrato das condições de plantio no momento da coleta das informações." Na sequência, a Conab afirma que as duas reduções subsequentes de expectativa de safra tiveram como causa “o clima, que impactou de maneira negativa as condições do plantio da laranja, e o aumento dos custos de produção”.

O que chamou atenção do setor é que a Conab costuma ser certeira em seus prognósticos, considerados referência para a área agrícola. Santos afirma que o mais incrível da superestimativa é que ela não respeitou o ciclo bianual da laranja, que é similar ao do café, em que num ano as árvores atingem níveis de produtividade maiores do que nos anos seguintes.

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