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A hora do clima na América Latina

A Rede Ibero-americana de Escritórios de Mudanças Climáticas forma um grupo de negociação para a próxima cúpula de Lima Venezuela dará um caráter social à reunião preparatória de 2014

Juana Viúdez

É a hora da América Latina. Os descafeinados resultados da Conferência do Clima de Varsóvia deixam nas mãos de Lima, onde ocorrerá a próxima reunião dos 194 países da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a responsabilidade de conseguir um grande pacto global de redução de emissões de carbono que permita que a temperatura da terra não chegue a aumentar dois graus no próximo século. Este ambicioso acordo deve substituir a partir de 2020 o Protocolo de Kyoto, um famoso pacto, porém criado com menores ambições já que, em sua segunda, fase só conseguiu compromissos de países que somam 15% das emissões globais, principalmente os da União Europeia. Os países ibero-americanos já estão se movendo para que, em 2014, se escutem e se abordem medidas para chegar ao grande pacto global para frear o aquecimento entre todos os países, e que entre essas medidas se preste especial atenção a sua realidade.

O ministro do Meio Ambiente peruano, Manuel Polegar Vidal, presidirá a cúpula. “Há muitos desafios sobre a mesa, em países como o Peru, de forte abrangência amazônica, o desflorestamento é a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa, e significa um grande desafio porque é causado principalmente pelos processos migratórios da parte andina para a Amazônia, por condições de pobreza. Tudo isso levou que desenvolvesse uma mineração ilegal que é muito destrutiva”, detalha. Mas o que sem dúvida une todos os países da América Latina, também em relação à mudança climática, é a desigualdade. “ (a desigualdade) Leva a uma forte pressão sobre os recursos naturais e a processos migratórios que empurram cada vez mais as pessoas em direção às cidades, inclusive em condições ambientais pouco favoráveis. Isso faz com que se convertam nas principais fontes de emissão. Também há processos industriais obsoletos, que necessitam que uma tecnologia nos leve a uma economia verde”, acrescenta.

Em Varsóvia, o ministro espanhol de Agricultura, Alimentação e Médio Ambiente, Miguel Arias Cañete reuniu-se com os países da Rede Ibero-americana de Escritórios da Mudança Climática para propor a criação de um grupo de negociação que dê voz a todos os países que o formam face à Cúpula do Clima de Lima. “A ideia é que se abra um diálogo político construtivo com objetivos ambiciosos”, explica Cañete, que percebeu grande disposição em todos os países participantes da reunião (entre os que estavam presentes, México, Chile, Argentina, Bolívia, Colômbia, Brasil, ou Venezuela, entre outros). Costa Rica se ofereceu para ser a sede de uma próxima reunião na primavera de 2014 e o governo de El Salvador, muito consciente de que se deveria adotar uma postura comum, também desempenhará um papel determinante. Os ministros lembraram que não se trata de uma simples reunião ministerial que tenha sido atribuída uma equipe técnica. “Lima está à disposição para o que for necessário”, se ofereceu Cañete no domingo, consciente de que os acordos atingidos na Conferência de Varsóvia deixam ainda muitos cabos por atar em Lima. Do grande pacto de 2015 só se conseguiu fixar que os países apresentarão seus objetivos de redução de emissões em março de 2014.

Venezuela foi encarregada pelas Nações Unidas de organizar a reunião preparatória da Conferência do Clima de Lima. Claudia Salerno, responsável pela delegação venezuelana assegura que darão um forte caráter social a esse evento e que pensam integrar, no mesmo nível, os ministros as organizações não governamentais, a sociedade civil e os indígenas. “Embora as ONGs tenham espaço na Convenção, sua participação limita-se a só três minutos de discursos durante a reunião plenária”, sublinhou. Em Varsóvia sete das principais ONGs abandonaram a Conferência do Clima, porque, invés de avançar para maiores compromissos da redução de emissões, estavam-se anunciando políticas, sobretudo por parte da Austrália, Canadá ou Japão, que se dirigem no caminho contrário.

Lima deve servir de corrente de transmissão para que se chegue a 2015 com as propostas de redução de emissões da cada país concluídas e a tentativa de criação de um processo de avaliação que indique que estes compromissos realmente serão suficientes para frear o avanço das temperaturas, como aconselha o Painel Científico que assessora a ONU, o IPCC por suas siglas em inglês. O relatório AR5, apresentado em setembro passado, reúne as evidências científicas sobre os efeitos das mudanças climáticas dos últimos seis anos e urge a que se atue “o mais rápido possível”.

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