Israel critica o acordo com Irã por considerá-lo um erro histórico
Premiê Netanyahu diz que não se sente obrigado a cumprir esse pacto Vários de seus ministros asseguram que as opções seguem sobre a mesa
O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, fracassou em sua tentativa de evitar que os Estados Unidos e o restante das potências mundiais assinassem um acordo provisório com o Irã para que reduza seu enriquecimento de urânio em troca de um alívio das sanções econômicas internacionais. Israel ficou isolado de seus aliados tradicionais, como o único país que se atreve a criticar com firmeza o que Netanyahu chamou neste domingo “não de acordo histórico, senão de erro histórico”. O Irã poderá seguir enriquecendo urânio, até 5%, e Israel mantém seu cálculo estratégico: com as instalações de que dispõe agora, e que não deverá destruir, Teerã poderia chegar a uma bomba atômica em questão de meses. “Israel não se sente obrigado a cumprir esse acordo”, acrescentou o primeiro-ministro, reforçando sua afirmação feita há dias de que está disposto a defender seu país com os meios que considere adequados.
O distanciamento entre Netanyahu e a Casa Branca atinge novamente grau máximo. Para trás ficam aqueles dias de 2012 em que Netanyahu pressionava Barack Obama para que aceitasse se unir a um ataque preventivo ao Irã, quando o primeiro-ministro israelense foi à Assembleia Geral das Nações Unidas com um esboço de uma bomba a ponto de explodir que utilizou para advertir de que Teerã poderia demorar apenas semanas ou meses para ter uma arma nuclear desde o momento em que o decidisse fazê-la. A influência de Netanyahu sobre este assunto resultou ser trivial. E embora Obama e o chefe da diplomacia norte-americana, John Kerry, tenham tentado acalmar os ânimos em Israel, assegurando que não permitirão nunca que o Irã tenha uma bomba nuclear, o primeiro-ministro enfatizou neste domingo que “Israel tem o direito e a obrigação de se defender, só, ante qualquer ameaça”.
“Hoje o mundo é um local bem mais perigoso porque o regime mais perigoso do mundo deu um passo importante para a obtenção da arma mais perigosa do mundo”, disse Netanyahu no início de seu conselho de ministros. “Pela primeira vez, as potências mundiais aceitaram que o Irã enriqueça urânio ignorando as decisões do Conselho de Segurança da ONU que eles mesmos lideraram. As sanções que demoraram anos para surtir efeito são a melhor oportunidade de se chegar a uma solução pacífica. Renunciaram a essas sanções em troca de concessões superficiais por parte do Irã que podem ser anuladas em questão de semanas. Esse acordo e o que ele significa põem em perigo muitos países, incluindo, desde já, Israel”.
Quase não há fissuras no espectro político israelense. Os líderes do governo e da oposição acham que um Irã que não destruirá seus reatores e poderá seguir enriquecendo urânio, embora em níveis reduzidos, representa uma ameaça existencial para seu país. “Isso nos deixa em uma nova realidade, a nós e aos sauditas”, disse na rádio pública o ministro de Assuntos Exteriores, Avigdor Lieberman. “O Estado de Israel vai ter que fazer uma reavaliação da situação. Precisamos de uma reavaliação. Pelo visto, vamos ter de tomar nossas próprias decisões, quando todas as opções estiverem sobre a mesa”, acrescentou. Vários funcionários de alto escalão israelenses disseram nas últimas semanas que fizeram contatos indiretos com seus colegas da Arábia Saudita, que também se opõem, de forma mais discreta, ao acordo assinado na madrugada deste domingo, apesar de os dois países não se relacionarem diplomaticamente.
“Se em cinco ou seis anos explode uma pacote nuclear em Nova York ou em Madri será pelo acordo assinado nesta manhã”, disse neste domingo o ministro da Economia e de Assuntos Religiosos Naftali Bennett. “Esse mau acordo dá ao Irã exatamente o que queria: uma redução das sanções e a possibilidade de manter as partes mais importantes de seu programa nuclear. Há muito trabalho pela frente, e vamos seguir avaliando todas as possibilidades. Mas é importante que o mundo saiba que Israel não se vê obrigado a cumprir um acordo que ameaça sua própria existência”.
Só o presidente do país, Shimon Peres, adotou um tom mais conciliador com a Casa Branca. Em um comunicado, destacou que “o sucesso ou o fracasso do acordo serão medidos pelos resultados, não pelas palavras”. “Israel, como o restante da comunidade internacional, prefere uma solução diplomática”, acrescentou. Em 2012, quando Netanyahu buscava formar uma coalizão com Estados Unidos para atacar a Irã antes de que conseguisse a capacidade de dispor de armas nucleares, Peres se distanciou dele e se converteu em seu principal e quase única fonte de oposição interna.
A inteligência ocidental estima que Israel possui armas nucleares desde o final dos anos 60. Segundo seus líderes, ao Irã não se deve permitir acesso a elas por questões ideológicas. “Os líderes iranianos exortaram repetidamente a destruição de Israel. Está em sua ideologia. Não queremos ver um novo holocausto”, disse recentemente a esse diário um funcionário de alto escalão israelense sob condição de anonimato.
Segundo várias estimativas em Israel, Teerã poderia reverter sem problemas o abrandamento de seu programa de enriquecimento de urânio e chegar a conseguir fazer testes com armas nucleares em questão de meses. “A partir do momento em que o regime iraniano decida perseguir armas nucleares, poderá tardar de quatro a seis meses para produzir um artefato explosivo nuclear e talvez efetuar uma explosão nuclear de teste”, assegura Efraim Asculai, especialista em Irã do Instituto para Estudos de Segurança Nacional de Israel, e que já trabalhou para a agência internacional de energia atômica. “Para produzir uma arma nuclear como tal, acho que tardaria um pouco mais”.
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