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“Se esperássemos muito mais já seria tarde”

Os cinco remanescentes do grupo humorístico britânico Monty Python – sem Graham Chapman, que morreu de câncer em 1989 – se reúnem para anunciar seu novo projeto

Los miembros de Monty Python posan con la actriz Carol Cleveland.
Los miembros de Monty Python posan con la actriz Carol Cleveland.LEON NEAL (AFP)

Cinco septuagenários em plena forma, ainda que talvez um pouco enferrujados no espírito humorístico que os transformou em ícones, conseguiram atrair hoje toda a atenção midiática no Reino Unido ao anunciarem seu retorno aos palcos, ao estilo dos velhos roqueiros que relutam em jogar a toalha. Os cinco membros sobreviventes do grupo Monty Python, pioneiros do irreverente humor do absurdo que marcou toda uma geração, voltarão a se reunir pela primeira vez em três décadas num show no West End londrino, sobre o qual revelaram o mínimo a fim de manter as expectativas.

“Por que agora? Se esperássemos muito mais já seria tarde”, reconheceram os integrantes do Monty Python, referindo-se à inexorável passagem do tempo: juntos, eles somam 357 anos. John Cleese, de 74 anos, Terry Gilliam, de 72, único norte-americano do elenco, Terry Jones, de 71, Eric Idle e Michael Palin, ambos de 70 anos, querem comprovar com sua nova aposta “se ainda podemos ser divertidos”. Sobre a nova obra, que estreará em julho e cujos ingressos serão postos a venda na próxima segunda-feira às 10h, só quiseram adiantar que “terá muita música e um pouco de sexo antigo”.

Esse tom jocoso caracterizou a entrevista coletiva que, televisionada ao vivo pela rede de TV Sky, representou um acontecimento para milhões de fãs – e não só nas ilhas britânicas – ao ter como protagonistas os Python, considerados por muitos “os Beatles da comédia” devido ao seu impacto e sua tremenda influência na cultura popular. Os Python elegeram como cenário o teatro Playhouse, no West End londrino, atual sede das apresentações do musical Spamalot, criado por Idle e claramente ancorado nesse humor surrealista e festivo que foi a marca do grupo.

Os geniais criadores do lendário programa Flying Circus (ou O Circo Voador de Monty Python), da BBC, que lhes rendeu a fama no final dos anos 1960, de filmes inesquecíveis como A Vida de Brian, Os Cavaleiros da Távola Quadrada e O Sentido da Vida (ganhador do Prêmio do Júri no Festival de Cannes) garantiram que aqueles sucessos do passado serão fonte de inspiração para o seu próximo espetáculo. “Nossos fãs assim esperam”, disse Cleese, “mas tampouco queremos rememorá-los de forma previsível, e incorporaremos material novo”. Só faltará ao encontro o sexto componente do elenco de humoristas, Graham Chapman, que faleceu em 1989, vítima de um câncer.

Desde que o grupo se dissolveu como tal, em 1993, depois da estreia de seu último filme, O Sentido da Vida, todos os seus membros permaneceram ativos no mundo da comédia, do espetáculo e do cinema. Mas nunca perderam o contato nem deixaram de colaborar em seus respectivos projetos: Palin participou de uma bem sucedida comédia cinematográfica escrita e protagonizada por Cleese, Um Peixe Chamado Wanda (1988), e colaborou em alguns dos filmes de Gilliam, que desde o desaparecimento dos Python iniciou uma interessante carreira cinematográfica solo; Jones e Palin escreveram juntos vários roteiros para a televisão; Idle participou com Cleese e Palin da adaptação que Jones fez do romance O Vento nos Salgueiros. A lista dessas colaborações pontuais é longa, mas só o novo projeto anunciado ontem volta a reunir todos pela primeira vez em mais de trinta anos – ou quase quarenta, em se tratando de um palco no Reino Unido.

A química entre os membros de um grupo que se conheceu na época da faculdade ficou evidente ao longo da entrevista coletiva, na qual as placas de identificação dos entrevistados haviam sido trocadas de propósito, provocando risos na imprensa internacional presente. Assim, Eric Idle (cuja placa o identificava como “John Cleese”) respondeu algumas das perguntas dirigidas na verdade ao seu companheiro de mesa, que durante a apresentação fez alarde do seu domínio do espanhol e do alemão. Eles pareciam felizes com esse retorno e anunciaram que os preços de seu espetáculo serão modestos, para torná-lo accessível – entre 27,50 e 95 libras (aproximadamente 100 a 350 reais). Como brincou Idle: “Só 300 libras (1.120 reais) mais barato que os shows dos Rolling Stones”.

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