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Juízes argentinos pedem medidas do governo para frear o narcotráfico

A Igreja afirma que a situação escapou do controle devido à corrupção política

Francisco Peregil

O episcopado argentino publicou na sexta-feira passada um inédito documento em que solicita medidas urgentes contra o narcotráfico. O relatório adverte que a Argentina “está correndo o risco de passar a uma situação de difícil retorno” e demonstra “preocupação” com a “desproteção” das fronteiras e com “a demora em dotar as zonas mais vulneráveis de adequados sistemas de radar”. Lamenta ainda que a Sedromar, órgão estatal dedicado a coordenar as políticas públicas contra as drogas, “esteja há tantos meses sem ter um responsável nomeado”.

Os bispos não tiveram papas na língua. “O que escutamos dizer com frequência é que se chegou a essa situação de descontrole com a cumplicidade e a corrupção de alguns dirigentes”, afirma o documento. E vai além: “A sociedade com frequência suspeita que membros das forças de segurança, funcionários da Justiça e políticos colaborem com os grupos mafiosos. Essa realidade debilita a confiança e desanima as expectativas de mudança. Mas também é funcional e cúmplice quem, podendo fazer algo, se faz de desentendido, lava as mãos e ‘olha para o outro lado’”.

Grupos estrangeiros

O governador kirchnerista da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, declarou que partilha da preocupação da Igreja. Mais tarde, a Corte Suprema pediu ao governo medidas urgentes contra o narcotráfico. Uma vez estudados os relatórios apresentados pelos juízes das províncias de Salta, Jujuy e Tucumán, no norte, em que se descreve a “instalação de grupos estrangeiros de grande magnitude”, a Corte solicitou mais recursos para essas províncias, cujos tribunais se encontram sobrecarregados por processos relacionados a drogas.

Se antes era a presidente Cristina Kirchner quem jogava o problema para uma Justiça que permitia aos delinquentes entrarem por uma porta e saírem pela outra, agora são os sete juízes da Corte Suprema que apontam o dedo para o governo. O secretário nacional de Segurança, Sergio Berni, admite que “a luta tradicional contra o narcotráfico fracassou”.

Em abril deste ano, apareceu em Buenos Aires outro colombiano assassinado com um tiro nas costas

Faz tempo que as máfias do narcotráfico começaram a corroer a estrutura do Estado. Em abril do ano passado, um pistoleiro montado em uma moto seguiu um cidadão da Colômbia por um dos bairros mais ricos de Buenos Aires e o matou em plena rua, às 19h, com três tiros nas costas e dois na cabeça. Os jornais falaram de um acerto de contas entre traficantes colombianos, e o tema não saiu das páginas policiais. Em outubro de 2012, foi detido em Buenos Aires um dos maiores chefões colombianos, Henry de Jesús López Londoño. Em abril deste ano, outro colombiano apareceu assassinado em Buenos Aires com um tiro nas costas, de mãos atadas e dentro de um saco de lixo.

Em abril de 2012 renunciava o chefe de polícia da província de Santa Fe, Hugo Tognoli, por suposta cumplicidade com o narcotráfico. O problema das máfias infiltradas nas estruturas policiais parecia se limitar a Santa Fe. Mas no ano seguinte, em setembro último, apresentaram sua demissão o secretário de Segurança e o chefe de polícia da província de Córdoba, acusados também de cumplicidade com os traficantes.

Em 13 de outubro, em plena campanha para as eleições legislativas do mês passado, quatro homens montados em duas motos dispararam 13 tiros contra a residência do governador de Santa Fe, Antonio Bonfatti.

Mas a mancha do narcotráfico não se deteve em Córdoba e Santa Fe. Em 30 de outubro, os moradores do município de José León Suárez, na província de Buenos Aires, queimaram a delegacia local depois do assassinato de um jovem de 14 anos durante um tiroteio entre quadrilhas de traficantes. Os moradores acusavam a polícia de conivência com as máfias. Cada vez mais se usa o termo “narcopoliciais”.

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