A partir desta terça-feira, e até o final do ano, as mulheres espanholas trabalham grátis
Elas ganham 85,1% do salário de colegas homens. Segundo vários estudos, as mulheres sempre perdem
Às 14h38 da segunda-feira, 24 de outubro, as mulheres da Islândia pararam de trabalhar. Concentraram-se em Reikiavik para denunciar que, em média, a partir dessa hora e até o final de cada dia seu trabalho não está sendo remunerado, em comparação com o de seus colegas homens, que ganham 30% mais. Se na Espanha fizessem uma ação similar, as mulheres deveriam ter parado de trabalhar nesta terça-feira às 17h (hora local) e só voltar em janeiro, segundo cálculos da empresa de visualização de dados WeDoData para a Slate France.
As estimativas anuais mostradas nesse gráfico produzido para a revista eletrônica francesa se baseiam numa jornada de 35 horas e num ano com 253 dias úteis, enquanto a das mulheres islandesas era para a jornada diária. Para a Espanha, alteramos essas duas variáveis, com uma média de 40 horas semanais e 250 dias de trabalho. O país fica na 15ª. colocação dentro da União Europeia (UE), junto com Noruega e Suíça, segundo os dados mais recentes do Eurostat (de 2014) sobre desigualdade salarial.
O órgão de estatística da UE, com dados nacionais oficiais, estima que a disparidade de gênero na Espanha seja de 14,9%, ou seja, que elas ganham apenas 85,1% do salário diário dos seus colegas homens. A média europeia é de 83,3%, segundo essa fonte.
Outros estudos pintam uma realidade ainda pior, e, apesar das divergências entre as cifras, no final as mulheres sempre perdem. A Federação de Estudos de Economia Aplicada (FEDEA) afirma que as mulheres ganham em média 20% a menos por hora do que os homens (e também têm mais dificuldades para conseguir emprego e ascender na carreira, entre outras desvantagens). Um estudo da ONG Intermón Oxfam publicado em 4 de novembro aponta que em 2015 a disparidade salarial piorou: segundo seus cálculos, as mulheres ganharam 18,8% a menos que seus colegas homens.
Segundo o Fórum Econômico Mundial, se essa situação não for combatida a igualdade econômica entre ambos os sexos no mundo todo só se dará dentro de 170 anos, em 2186. Na classificação de igualdade salarial que esse organismo faz, entre 144 países, a Espanha aparece na 29ª. posição. Uma década atrás, havia chegado ao 11º. lugar.
Na França, o coletivo feminista Les Glorieuses fez seus próprios cálculos – errôneos, como explica o Le Monde – e estimou que a partir de 7 de novembro às 16h34 as francesas começavam a trabalhar de graça. Nesta segunda-feira, a mensagem circulou nas redes sociais, com a hashtag #7novembre16h34 no Twitter e um evento no Facebook. A ministra de Famílias, Infância e Direitos das Mulheres, Laurence Rossignol, apoiou a iniciativa, porque “dá visibilidade à desigualdade salarial”, e sua homóloga do Ministério de Educação, Najat Belkacem, também respaldou o movimento, que por enquanto não se concretizou numa convocatória de greve.
Fartas da desigualdade, 90% das islandesas, com trabalhados remunerados ou domésticos, fizeram greve em 24 de outubro de 1975. Os homens levaram na brincadeira, até que viveram as consequências: precisaram levar as crianças aos seus locais de trabalho, se puseram a comprar salsichas até esgotar o produto, fecharam escolas, teatros, lojas e fábricas de beneficiamento de peixe, e as que abriram funcionaram a meia força. Hoje, a Islândia é o país mais igualitário do mundo, embora ainda não tenha eliminado a desigualdade salarial, como reivindicaram em 24 de outubro deste ano.
Women in Iceland come together to fight for equality, shouting OUT #kvennafrí #womensrights pic.twitter.com/vTPFwfSoVk
— Salka Sól Eyfeld (@salkadelasol) October 24, 2016
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