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Diante do ‘Brexit’, países fundadores oferecem uma Europa de várias velocidades

Ministros de Relações Exteriores pedem a Londres que se vá quanto antes e não brinque de “gato e rato”

Da esquerda para a direita, o ministro belga Didier Reynders, o de Luxemburgo Jean Asselborn, o alemão Frank-Walter Steinmeier, o italiano Paolo Gentiloni, o francês Jean-Marc Ayrault e o holandês Bert Koenders.
Da esquerda para a direita, o ministro belga Didier Reynders, o de Luxemburgo Jean Asselborn, o alemão Frank-Walter Steinmeier, o italiano Paolo Gentiloni, o francês Jean-Marc Ayrault e o holandês Bert Koenders.JOHN MACDOUGALL (AFP PHOTO)
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A Europa responde ao desejo britânico de abandonar a UE com uma dupla mensagem. Pede ao Governo britânico que, embora seja doloroso, saia quanto antes do bloco em que entrou há 43 anos. “Que não brinquem de gato e rato”, nas palavras do ministro luxemburguês de Relações Exteriores, Jean Asselborn. A mensagem interna é o reconhecimento da necessidade de reforma. Uma primeira ideia proposta neste sábado pelos ministros de Relações Exteriores dos seis países fundadores do projeto europeu é oferecer mais comodidades aos membros que desejem uma integração mais lenta. Ou seja, a Europa de várias velocidades.

“Temos de reconhecer diferentes níveis de ambição entre os Estados membros em relação ao grau de integração. Temos de encontrar caminhos mais apropriados para enfrentar essas diferenças”, afirma o comunicado assinado pelos titulares de Relações Exteriores da Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Esta Europa “flexível” que os ministros propõem já existe na prática, em uma União na qual alguns membros não participam de assuntos importantes como a moeda única ou o espaço Schengen. Mas os Governos do centro da Europa insistem em abandonar essa via.

A Villa Borsig, palácio de princípios do século XX situado ao norte de Berlim, propriedade do Ministério de Relações Exteriores da Alemanha, serviu como plataforma para a primeira resposta conjunta à crise aberta pelo Brexit. O alemão Frank-Walter Steinmeier pediu que não se caísse “na histeria nem na paralisia”, mas ao mesmo tempo demandou do Governo britânico que ative quanto antes o Artigo 50, que marcará o início do adeus, “para não acabar em um limbo e podermos nos concentrar no futuro da Europa”.

O francês Jean-Marc Ayrault falou em “urgência” para não passar um “período de incerteza que teria consequências financeiras, econômicas e políticas”. Pedimos que respeitem a decisão de seu povo. É uma questão de coerência”, acrescentou. Os ministros europeus querem acelerar ao máximo o processo para evitar que os populistas antieuropeus tirem partido da crise aberta.

Steinmeier respondeu às críticas por organizar um encontro exclusivo que deixa de fora 21 países. O ministro se defendeu com o argumento de que no dia anterior já havia ocorrido um intercâmbio entre todos os ministros de Relações Exteriores em Luxemburgo, um evento rotineiro que estava na agenda antes de se saber o resultado do referendo. E acrescentou que nos próximos dias deverão ocorrer muitas reuniões em distintos formatos para ouvir todas as opiniões.

Enquanto os países que em 1957 fundaram a então chamada Comunidade Econômica Europeia elevam a pressão sobre o ainda primeiro-ministro David Cameron, as diferentes respostas à crise do Governo alemão mostram certas fissuras. A chanceler (primeira-ministra) Angela Merkel, optou pela prudência com o argumento de que é preciso analisar bem a situação antes de dar um passo em falso. Mas seu vice-chanceler e líder social-democrata, Sigmar Gabriel, já invocou a austeridade como corresponsável pelo fracasso britânico.

“Os jovens europeus não vão encontrar um trabalho tão somente com austeridade. Espero que depois do ocorrido o Governo alemão debata como empregar nossos investimentos para melhorar, com outros na Europa, a situação das pessoas”, disse Gabriel, no que pode ser interpretado como um golpe em sua chefa de Governo. O líder social-democrata sofre uma crescente pressão em seu partido, com previsões de voto catastróficas faltando apenas um ano para as próximas eleições.

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