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Ofensiva judicial contra Kirchner ganha contornos de romance de espionagem

Juízes procuram delatores, e não se descarta que a ex-presidenta seja presa. Polícia localiza um homem-chave foragido no Paraguai

Carlos E. Cué

A atualidade argentina passa por um edifício enorme de aparência quase soviética localizado perto do Rio da Prata. É o Comodoro Py, onde trabalham os juízes federais que investigam a suposta corrupção praticada em torno da família Kirchner e que, depois da mudança de Governo, parecem ter bastante pressa. Causas adormecidas durante anos, enquanto os Kirchner estavam no poder e pressionavam fortemente a Justiça, agora, com Mauricio Macri na Casa Rosada, se aceleram. As notícias se sucedem com uma velocidade vertiginosa e, agora, além disso, reunindo elementos típicos de um romance de espionagem. O último episódio foi o que envolveu Jorge Oscar Chueco, um foragido que deixou a Argentina e tentou se suicidar no Paraguai, onde acabou sendo detido.

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Chueco é um advogado ligado a Lázaro Báez, o empresário mais próximo dos Kirchner, que passou de caixa de banco a responsável por todas as obras públicas em Santa Cruz, província de onde surgiu o poder do kirchnerismo. Hoje, é um multimilionário que viaja em seu avião particular e que acaba de ser preso acusado de corrupção.

Vários juízes tentam cercar o grupo próximo aos Kirchner, inclusive a própria ex-presidenta. Seu advogado, Raúl Zaffaroni, que foi juiz da Corte Suprema, afirmou ser possível que o juiz Claudio Bonadío ordene a sua prisão. Cristina Fernández de Kirchner já mostrou estar disposta a mobilizar seus apoiadores para impedir que isso ocorra. Na semana passada, ao depor, ela organizou uma grande manifestação na frente do Tribunal.

Neste momento, somente Bonadío, porém, está focado na ex-presidenta. O principal objetivo dos juízes, hoje, é obter no meio kirchnerista delatores capazes de explicar os milhões de dólares da chamada “rota do dinheiro K”, que, segundo seus opositores, seria a prova definitiva da corrupção dos Kirchner.

Cada passo parece um tenso romance de espionagem. “Tenho medo, mas aviso: nem meu pai nem minha família queremos nos ‘suicidar’”, tuitou Florencia, a filha do promotor Guillermo Marijuán, que decidiu pedir a imputação da ex-presidenta por suposta lavagem de dinheiro.

Todas as ações estão aparentemente relacionadas entre si, tendo Báez e o entorno dos Kirchner como protagonistas. A que mais preocupa os kirchneristas é o caso Hotesur, a empresa dos hotéis da ex-presidenta, que teria sido usada para lavar dinheiro de Báez.

O empresário kirchnerista Lázaro Báez ao ser preso pela polícia no aeroporto em sua chegada a Buenos Aires em 5 de abril passado.
O empresário kirchnerista Lázaro Báez ao ser preso pela polícia no aeroporto em sua chegada a Buenos Aires em 5 de abril passado.AFP

Os juízes buscam arrependidos que façam delações, e aparentemente já encontraram um: Leonardo Fariña, que passou dois anos na prisão e hoje se beneficia de um programa de proteção de testemunhas. Em seu depoimento, Fariña citou Chueco e outros. Agora, muitos esperam que Chueco, já expulso do Paraguai e monitorado pela Justiça argentina, também fale, oferecendo novos elementos.

Mas a peça que mais interessaria à Justiça seria um depoimento do próprio Báez, que num primeiro momento, antes de ser detido, ameaçou abrir a boca – chegou a dizer que Alicia Kirchner, irmã do falecido presidente e atual governadora de Santa Cruz, não tinha como “justificar sua fortuna” –, mas, diante do juiz, mudou de ideia e manteve seu silêncio.

Como se fossem poucos os problemas judiciais, o outro grande empresário kirchnerista, Cristóbal López, um homem que já era rico antes de se aproximar do casal Kirchner, mas que se tornou muito mais poderoso desde então, também está sendo acuado por vários processos. Outro promotor já pediu que ele seja intimado a depor, num momento em que suas empresas vivem uma situação bastante preocupante. López, czar do jogo na Argentina, foi o grande empresário de mídia do kirchnerismo. Comprou várias emissoras de rádio e TV que, antes críticas ao casal Kirchner, tornaram-se dóceis a eles. Agora, seus veículos de comunicação vivem uma situação muito delicada, e todo o império corre o risco de ruir enquanto seu chefe se prepara para um longo caminho pelos tribunais.

O kirchnerismo e a própria ex-presidenta tentam manter seu poder e conservam uma grande capacidade de mobilização, mas os juízes podem acabar de destruir definitivamente a sua imagem e também o seu entorno empresarial.

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