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Espião argentino relaciona Cristina Kirchner com a morte do promotor Nisman

Antonio Stiuso relata aos tribunais um rastro de mortes e atentados entre espiões rivais

Carlos E. Cué
Cristina Kirchner na Praça de Maio, em dezembro.
Cristina Kirchner na Praça de Maio, em dezembro.Natacha Pisarenko (AP)
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O caso Nisman conheceu uma reviravolta radical com a mudança de Governo na Argentina. O assunto, que comoveu a população e teve enorme repercussão internacional, conheceu uma virada radical, e aquilo que parecia ser um suicídio se revela agora, potencialmente, um assassinato dentro de uma disputa aberta de poder que reúne todos os elementos para compor um roteiro de ficção, com a diferença de que se trata de um caso real. Os serviços secretos argentinos, dos Estados Unidos e do Irã, além do poder executivo argentino, tornaram-se os atores principais no relato de mais de 14 horas feito por Antonio Stiuso, codinome Jaime, aos tribunais diante de um grupo de advogados, a juíza e a promotora. Dentre as muitas e graves revelações uma em especial é muito chocante: Stiuso, que foi um homem-forte da espionagem argentina durante quase 30 anos até ter caído em desgraça justamente um mês antes da morte de Nisman, envolveu no assassinato do promotor a ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner, seu braço-direito Carlos Zannini e o ex-chefe de Gabinete Aníbal Fernández.

“Stiuso afirmou que os interessados na morte de Nisman eram a doutora [Cristina] Fernández de Kirchner, Carlos Zannini e Aníbal Fernández”, afirmou à rede TN um dos advogados da filha de Nisman, Federico casal.

Stiuso é um dos homens que detém as maiores quantidades de informações da Argentina e, ao mesmo tempo, um dos mais obscuros deles, investigado por enriquecimento ilícito, com diversas empresas de origem não identificada e contatos estreitos com os serviços secretos dos EUA. Tanto que foi ali que ele se escondeu desde a morte de Nisman, diante da ofensiva lançada contra ele pelo Governo de Cristina Kirchner, que chegou a acusar os EUA de esconder o espião. Ninguém confia muito, portanto, no que este homem possa dizer, embora todos os argentinos tenham consciência de que ele sabe muitas coisas. Stiuso atuou como espião ao longo de muitos anos para todos os governos, políticos, empresários e jornalistas, com escutas ilegais, que eram a sua especialidade. Seu poder era tão grande que, quando Gustavo Béliz, primeiro ministro da Justiça de Kirchner, tentou contê-lo divulgando sua fotografia na televisão como em um ultimato para que o presidente escolhesse ficar ou com seu ministro ou com o chefe de seus espiões, Kirchner não hesitou: Béliz deixou imediatamente o Governo.

O panorama que Stiuso traça de seu país é particularmente preocupante, incluindo assassinatos entre grupos rivais dentro dos serviços secretos. Diante da juíza, dos advogados de defesa e de acusação, Stiuso afirmou, ainda de acordo com a versão do advogado da filha de Nisman, que os seus problemas com a ex-presidenta começaram quando ele não obedeceu às ordens de abandonar a vertente iraniana na investigação do caso AMIA. Naquela ocasião, Cristina operara uma virada em sua política externa e se aproximava do Irã. Stiuso afirma que ele e Nisman mantiveram a mesma linha, sem atender às determinações políticas. Segundo o espião, seguiu-se, então, uma sequência de mortes e atentados teoricamente organizados pelos próprios espiões argentinos em uma guerra interna contra a sua facção.

Inicialmente houve o assassinato do agente da SIDE Pedro Viale, “El Lauchón”, próximo de Stiuso. Depois foi a vez de Alfonso Severo, testemunha no caso do crime de Mariano Ferreyra. Mais tarde se deu o atentado sofrido por Javier Fernández, membro da Auditoria General da Nação e homem-chave dos Kirchner no mundo da justiça. E, por último, segundo esse relato, teria acontecido a morte de Nisman.

“Stiuso é um psicopata mentiroso. Tudo isso é uma operação política e midiática. Alguém poderia acreditar que a morte de Nisman tenha trazido qualquer benefício para o Governo anterior?”, retrucou, indignado, Oscar Parrilli, o último chefe de espionagem e homem de total confiança de Cristina Kirchner.

Stiuso admitiu não ter provas nem dispor de uma testemunha no caso do assassinato do promotor, mas, com toda a informação de que dispõe e o conhecimento que tem do contexto, ele se diz convencido de que o mataram e insiste em dizer que o maior interessado em sua morte era o grupo existente em torno da ex-presidenta. O caso entra, portanto, em uma nova fase. É quase certo que passará para a justiça federal. E agora, com o fator adicional de contar com o estímulo do Governo de Mauricio Macri. Logo haverá novidades.

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