Jovens condenam os partidos clássicos a um futuro precário
O apoio dos votantes de 18 a 24 anos cai drasticamente Apenas 4,3% apoiariam os populares em eleições gerais
As últimas pesquisas não falam apenas do que pode acontecer com os partidos políticos neste ano de eleições na Espanha. Também falam do futuro. E este não é muito promissor para os partidos tradicionais, especialmente o Partido Popular (PP), do primeiro-ministro Mariano Rajoy, se forem observados os dados de intenção de voto dos mais jovens. No grupo de idade entre 18 e 24 anos, os populares só têm o apoio de 4,3%, segundo a última pesquisa do Centro de Investigações Sociológicas (CIS), de janeiro de 2015. Não só isso: o partido não chega a 10% das intenções de voto até ultrapassar a barreira dos 45 anos.
É verdade que a queda na intenção de voto do PP afeta todas as idades —a pesquisa chega à cifra de 12,9%—, mas as diferenças são notáveis entre as diversas faixas etárias —a média é três vezes maior do que o voto dos jovens de 18 a 24. E nenhum outro partido tem tanta distância, 22 pontos, entre os mais jovens e os com mais de 65 anos (26,4% dos votos).
A queda começou no ano passado: já em janeiro de 2014 o PP contava apenas com a intenção de voto de 3,6% dos votantes de primeira viagem. Nem sempre foi assim. Apenas dois anos antes, em 2011, os populares tinham chegado a ter o apoio de 30,2% de quem votava pela primeira vez. O apoio dos jovens ao partido não só era alto como ultrapassava a porcentagem total (28,3%).
No caso do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), a queda é menos pronunciada e semelhante à do partido em outras faixas etárias, mas o apoio dos jovens nunca foi tão pequeno: em janeiro de 2015, contava com a intenção de voto de apenas 13% dos pesquisados entre 18 e 24 anos, a uma grande distância dos 39,5% que chegou em abril de 2008. A Izquierda Unida também tem problemas: o apoio dos mais jovens, de 2,4%, é inferior à média geral (3,6%).
Apenas os acima de 65 anos dão seu voto majoritariamente aos populares
O voto jovem é canalizado sobretudo a dois partidos: Podemos (com 27,4% de apoio nessa faixa etária) e Ciudadanos. Este último ainda não tinha irrompido como força emergente quando da última pesquisa do CIS. Uma pesquisa recente da Metroscopia para EL PAÍS registrava o apoio máximo desse partido em uma faixa etária um pouco mais ampla do que o da pesquisa do CIS. Segundo esses dados, 26% dos votantes entre 18 e 34 anos tem intenção de votar no Podemos; 15% no Ciudadados; um 11% no PSOE e 10% no PP. A Metroscopia inclui também uma escala de 0 a 10 que serve para posicionar ideologicamente os votantes jovens (0 para a extrema esquerda e 10 para a extrema direita). Estes se posicionam em 4,4. Situam o PP em 7,8; o PSOE em 4,5; o Podemos em 2,5 e o Ciudadanos em 5,2.
Os partidos tradicionais, sobretudo o PP, tornaram-se redutos de pessoas mais velhas? Que impacto terá no futuro essa falta de apoio entre os jovens eleitores?
“O PSOE tem de se fazer ver, mas o que tem mais problemas é o PP”, afirma Belén Barreiro, ex-diretora do CIS e diretora do Laboratório da Fundação Alternativas, vinculada aos socialistas. “O que acontece agora é efeito da sociedade digital. A Espanha se digitalizou a uma velocidade vertiginosa. Os códigos mudaram. A sociedade em rede se comunica de imediato, amplia a informação e está mais vigilante. O PP continua na idade analógica”, opina Barreiro.
Em 2011, 30,2% dos jovens apoiava o PP. Agora são só 4,3%
A média de idade dos potenciais eleitores do Ciudadanos é de 45,4 anos (parecida, quase idêntica, à dos potenciais votantes do UPyD e IU). Os mais jovens são do Podemos (41,7 anos) e os mais velhos, do PP (53) e do PSOE (51), também segundo os dados da Metroscopia.
Em geral, os partidos evitam analisar esses dados em termos geracionais. Beatriz Jurado, presidenta das Novas Gerações do PP, diz que as pesquisas do CIS são muito variáveis. “Estudamos o levantamento de 2015 e sim, a porcentagem é baixa, mas subimos em relação a 2014” [subiram, exatamente, 0,7%]. “O voto mais difícil de conquistar é o dessa faixa”, continua. “Não acredito que isso deva ser analisado como um enfrentamento entre o novo e o velho. Não se consegue nada sendo novo, mas colocando a gestão nas mãos de alguém confiável.” Mesmo assim, Jurado mostra sua preocupação de que o PP não esteja transmitindo seu projeto aos mais jovens. As pesquisas também não parecem preocupar demais o PSOE. “O partido se renovou em termos de formas e procedimentos”, diz Meritxell Batet, secretária de estudos e programas do partido, “mas o prioritário são as políticas que oferecemos”.
O voto jovem vai, sobretudo, para o Podemos e o Ciudadanos
Os números indicam que o terremoto que abalou a política espanhola não se explica apenas pela indignação diante da corrupção e da crise, mas que há questões geracionais que não foram levadas em conta. “É um novo paradigma”, diz Ramón Luque, membro da executiva do IU. “Para os jovens, a velha política do fim do século XX não lhes diz nada, literalmente se desconectaram.”
Luque destaca o 15 de março como a data de criação desse novo paradigma construído sobre o eixo inédito do novo contra o velho. “Não se trata apenas de caras novas. Nós tomamos a decisão de colocar Alberto Garzón, jovem e valente, mas isso não é suficiente. Falamos de uma renovação profunda do pensamento. Faz parte do debate da IU, não há por que esconder. O Podemos fez com que alguns ficassem velhos, e mandou outros para o Paleolítico.”
O Podemos tornou alguns de nós velhos; outros foram mandados para o Paleolítico
Ramón Luque (IU)
É comum dizer que as pessoas se tornam mais conservadoras com a idade. Se fosse assim, o PP não teria de colocar em questão sua sobrevivência nas próximas décadas. Mas há quem acredite que essa idade é muito importante para os partidos porque é nesse momento em que se fideliza o voto. “É determinante”, afirma Belén Barreiro, ex-diretora do CIS. “Em termos empresariais poderíamos dizer que há uma nova marca no mercado, o centro liberal. E grande parte dos jovens se define como liberal. O Ciudadanos tem uma oportunidade de ouro se não fizer nada errado”, comenta Barreiro. “Estamos convencidos de que grande parte de nosso crescimento nasce de nosso saber fazer nas redes sociais”, explica Matías Alonso, secretário-geral do Ciudadanos. “Quem se sentir liberal, no Ciudadanos vai encontrar abrigo do ponto de vista ideológico.”
Carolina Bescansa, do Podemos, formação à qual as pesquisas concedem maior porcentagem de voto jovem, fala de um “esgotamento do modelo conhecido até agora”. “O que estamos discutindo é um novo país, e nisso os partidos novos têm mais credibilidade para chegar aos jovens”, opina. “PP e PSOE cruzaram a linha vermelha porque o grosso de seu eleitorado se concentra em núcleos demográficos mais conservadores.”
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