_
_
_
_

Genebra II: Uma cúpula sem objetivos nem prazos

A oposição a Assad fica ainda mais dividida depois do convite da ONU ao Irã Os participantes vão com agendas diferentes à conferência

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na chegada ao aeroporto de Genebra.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na chegada ao aeroporto de Genebra.EFE

Os objetivos da conferência de paz de Genebra II que começa na quarta-feira, após a situação criada pelo convite frustrado das Nações Unidas ao Irã, dependem do ponto de vista individual dos participantes. Os 40 governos e quatro organizações internacionais que irão à cidade suíça de Montreux amanhã carecem de um roteiro ou de prazos. Para os EUA e seus aliados, em Genebra II deve ser aberta a via de uma transição inclusiva na Síria. A Arábia Saudita e a Liga Árabe buscam a forma de facilitar o acesso ao poder da oposição moderada que apoiam. O regime de Bashar al Assad chega à cúpula, ao que parece, convencido de que será um simpósio de terrorismo internacional no qual seus enviados falarão de jihadistas na Síria. E a Rússia quer simplesmente que acabe o conflito, e, se possível, com Assad assegurado no poder.

O certo é que a oposição moderada reconhecida pelo Ocidente chega extremamente débil. Só aceitou ir a Genebra II no sábado, em um voto dividido. O convite do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ao Irã para que comparecesse também à cúpula irritou seus líderes que, de novo, ameaçaram com uma debandada, o que deixaria Assad negociando sozinho com o mundo. Agora, nesta terça-feira, o Conselho Nacional Sírio, um dos grupos cruciais na amalgama opositora que é a Coalizão Nacional Síria, anunciou em um comunicado que seus delegados não estarão em Genebra. Seu líder, George Sabra, disse de fato que se retira completamente da coalizão, por sua rejeição à possibilidade de esta ir a Genebra “aceitando qualquer condição que se lhe imponha”.

Essa falta de objetivos claros permitiu de fato que em Genebra II se sentem tantos convidados a dialogar. A partir da Arábia Saudita, que armou secretamente o opositor Exército Rebelde Sírio, passando pela Rússia, que vetou condenações no Conselho de Segurança da ONU contra o governo de Assad. A ponto, inclusive, de o Irã ter ficado perto de comparecer - o país enviou membros de sua Guarda Revolucionária para treinar soldados de Assad e participar de operações de combate em Alepo.

Apenas convidar a milícia libanesa do Hezbollah, que enviou milhares de homens para lutar na Síria, teria sido algo mais provocador frente a uma oposição que já se encontra frágil e com numerosas reservas, e com as cifras atuais de 130.000 mortos e nove milhões de deslocados em menos de três anos de guerra. Ante as pressões dos EUA e as negativas de Teerã em aceitar uma transição política na Síria, o secretário-geral da ONU retirou ontem à noite o convite ao Irã.

O Irã não tomou isso positivamente. “Fica claro que não se encontrará uma solução completa para o problema sírio se não se envolverem todas as partes que têm influência no processo”, disse o vice-ministro de Assuntos Exteriores iraniano, Abbas Arakchi, nesta terça-feira, segundo os meios de comunicação oficiais. “Todo mundo sabe que sem o Irã as possibilidades de uma solução verdadeira na Síria não são muito grandes”, acrescentou. O artífice do convite ao Irã foi Moscou, pois ambos são os principais apoiadores de Assad no cenário internacional. Depois da exclusão do Irã, o ministro russo de Exteriores, Sergey Lavrov, opinou que “é um erro, mas não é um desastre”. Acrescentou que fica claro que “toda essa história não reforçou a autoridade da ONU”.

Se tivessem que ser incluídos todos os que têm alguma coisa a ver na guerra na Síria não só teriam de ser estendidos convites ao Irã e ao Hezbollah, como também ao mosaico de milícias jihadistas, mais ou menos agrupadas em grandes brigadas, que lutam contra Assad e também contra os opositores moderados. Em apenas duas semanas, no início do ano, essas lutas entre rebeldes tiveram mil baixas como saldo. Desde já, e apesar de a ONU ter considerado brevemente a ideia de estender um convite à Frente Islâmica, o grupo menos radical deles, nenhum desses islamitas terá representação em Genebra, apesar de já contarem com o domínio em localidades cruciais.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

¿Tienes una suscripción de empresa? Accede aquí para contratar más cuentas.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_