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Médicos detectam sintomas diferentes nos casos de covid-19 mais recentes na China

Tempo de incubação e recuperação parece mais prolongado, mas deixa menos casos críticos

Los médicos detectan síntomas distintos en los casos de covid-19 más recientes en China
Um profissional sanitário faz exame de coronavírus em um morador da cidade de Shulan, no nordeste da China.Zhang Nan (AP)
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Federal hospital health workers asking for an raised wages and shorter hours, protest outside the Ministry of Health, amid the new coronavirus pandemic, in Brasilia, Brazil, Thursday, May 21, 2020. (AP Photo/Eraldo Peres)
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Demonstrators hold empty cooking pots during a protest to demand resources for the vulnerable, amid the coronavirus disease (COVID-19) lockdown, in Buenos Aires, Argentina May 21, 2020. REUTERS/Agustin Marcarian
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O surto de covid-19 detectado há duas semanas no nordeste da China surpreendeu os médicos que trataram o foco original da pandemia em Wuhan, no centro do país. A incubação da doença está mais longa, ela apresenta sintomas um tanto diferentes e afeta os órgãos internos de maneira distinta. Seus pacientes também precisam de mais tempo para se recuperar.

Assim explicou em uma entrevista à televisão estatal China CCTV o médico intensivista Qiu Haibo, da Comissão Nacional de Saúde, que se mudou para Wuhan no começo da pandemia para lutar contra o coronavírus. Qiu se encontra agora no nordeste do país, onde foram detectados quase 50 casos em três cidades (Shulan, Jilin e Shenyang) de duas províncias com 100 milhões de habitantes no total. Os novos focos, embora muito inferiores em dimensão ao que originou a pandemia, obrigaram à readoção de medidas de confinamento e limitação da mobilidade nas áreas afetadas.

Em Wuhan, os pacientes levavam no máximo duas semanas para apresentar os primeiros sintomas depois de serem infectados, mas em Heilongjiang e Jilin, as duas províncias afetadas agora, estão demorando mais, segundo o especialista. Esse maior período assintomático "criou focos de infecções dentro das famílias", afirma.

Os sintomas clínicos dos pacientes são ligeiramente diferentes do que apresentavam os de Wuhan: não há tanta febre, mas sim uma forte dor de garganta e mal-estar geral. Os efeitos sobre os órgãos internos são, portanto, diferentes. Os casos no foco original sofreram danos nos rins, intestinos e coração, além dos pulmões. Os pacientes do nordeste tendem a mostrar maior dano nos pulmões, enquanto que os demais órgãos quase não são prejudicados.

E, embora o tempo de incubação e de recuperação seja mais lento (demoram mais a dar negativo nos exames PCR de coronavírus), a virulência da enfermidade parece mais reduzida, e uma percentagem menor de pacientes alcança o estado crítico, apenas 10%. Pouco mais da metade do total dos casos no noroeste precisa de hospitalização.

A análise genética da cepa do vírus no nordeste, segundo Qiu, faz os especialistas pensarem que esses casos estão relacionados com casos importados da Rússia, um dos países mais afetados pela pandemia. Tanto Heilongjiang como Jilin têm fronteira com a nação vizinha.

Os dados oferecidos pelo especialista chinês são preliminares, parciais e não foram publicados nem revisados por pesquisadores independentes, por isso ainda não permitem tirar conclusões. Alguns especialistas na genética do vírus são céticos de que o SARS-CoV-2 ―um vírus com uma taxa de mutação baixa em comparação a outros patogênicos― possa ter mudado tanto para que o período de incubação, a virulência ou sua presença em diferentes órgãos seja diferente da observada em outras zonas. O mais provável é que o observado na China não tenha uma correlação clara com as mutações do vírus, explicou à Bloomberg Keiji Fukuda, diretor da Escola de Saúde Pública da Universidade de Hong Kong. Não se pode dizer que o vírus mudou enquanto não houver “provas muito claras”, acrescentou.

As diferenças detectadas podem se dever ao fato de os médicos terem mais tempo e meios para observar os pacientes. Em Wuhan, no início da pandemia, os hospitais estavam superlotados e com falta de material, razão pela qual apenas os casos mais graves puderam ser atendidos. Agora a China tem a epidemia praticamente sob controle e os novos surtos são muito menores.

Na quarta-feira a Comissão Nacional de Saúde registrou cinco novos casos, um a menos que no dia anterior. Quatro deles foram infectados localmente, o quinto era um viajante que chegou do exterior. No total, a China registrou 82.965 casos desde o início da pandemia, dos quais 4.634 morreram, segundo dados oficiais. A maioria dos contágios na crise foi detectada na província de Hubei, onde está localizada Wuhan e onde foram encontrados cerca de 68.000 casos.

Os surtos no nordeste da China deixaram em evidência a dificuldade de controlar totalmente a transmissão da doença, inclusive nos países mais equipados para detectar os casos. “As pessoas não devem supor que o pico passou e baixar a guarda”, disse o especialista em doenças infecciosas Wu Anhua à televisão chinesa. “É perfeitamente possível que a epidemia continue por muito tempo.”

Em uma demonstração do interesse de Pequim em conter os surtos no nordeste, a vice-primeira-ministra Sun Chunlan, que liderou o grupo de trabalho do Governo para conter o vírus em Wuhan, foi até a região na semana passada. Nessa área, as cidades de Jilin e Shulan fecharam suas entradas e somente aqueles que tiverem resultado negativo para o coronavírus não mais de 48 horas antes de sua viagem têm a permissão de sair das cidades.

Shulan, de 700.000 habitantes, foi mais longe nesta segunda-feira e impôs um estrito confinamento aos habitantes. Apenas uma pessoa por família pode sair à rua, uma vez a cada dois dias e durante apenas duas horas, para comprar provisões. Nos complexos residenciais em que casos foram confirmados, nem isso pode ser feito: são as lojas que levam os alimentos a esses blocos de edifícios e o comitê de moradores se encarrega de distribuí-los andar por andar.

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