De Michelle Obama a Muhammad Ali: 25 frases que abriram nossos olhos contra o racismo

O assassinato de George Floyd provocou a maior onda de protestos antirracistas dos últimos 50 anos nos EUA. Estas são algumas das figuras célebres, incluindo brasileiros, que nos fizeram refletir sobre a luta pelos direitos civis

A ex-primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama.

1) “Sempre quis saber por que Tarzan era o rei da selva na África e era branco. Um homem branco com uma tanga na África gritando: ‘Oh, oh, oh, oh!’ Ele briga com os africanos e quebra as mandíbulas dos leões. Além disso, Tarzan fala com os animais, e os africanos que estão lá durante séculos não podem falar com os animais. Só o Tarzan pode”, disse Muhammad Ali, o pugilista mais importante da história e ativista fundamental da luta pelos direitos dos negros. Uma entrevista na BBC em 1971 que viralizou após os protestos dos últimos dias.

O ex-lutador Muhammad Ali.AP

2) “Não tinha nem ideia de que estava fazendo história. Só estava cansada de me render”, afirmou Rosa Parks quando lhe perguntaram por que não cedeu seu assento a um branco num ônibus em 1.o de dezembro de 1955, acendendo assim a chama de um movimento que ainda continua vigente.

Rosa Parks em um ônibus de Montgomery.AP

3) “Em nós, até a cor é um defeito. Um imperdoável mal de nascença, o estigma de um crime. Mas nossos críticos se esquecem que essa cor, é a origem da riqueza de milhares de ladrões que nos insultam; que essa cor convencional da escravidão tão semelhante à da terra, abriga sob sua superfície escura, vulcões, onde arde o fogo sagrado da liberdade.” O poema em forma de manifesto revela a inquietude e a postura combativa contra o racismo de Luiz Gama, um dos maiores abolicionistas da história brasileira.

Luiz Gama lutou contra a escravidão no Brasil.

4) As frases de Nelson Mandela, ícone ativista por antonomásia ao acabar com o apartheid na África do Sul, ecoam com mais força desde sua morte em 2013. “Ninguém nasce odiando outra pessoa por sua cor da pele, sua origem ou sua religião. As pessoas podem aprender a odiar e, se podem aprender a odiar, pode-se ensiná-las a aprender a amar. O amor chega mais naturalmente ao coração humano que o contrário.”

Nelson Mandela, em junho de 2005.

5) “Se queremos chegar a algum lugar juntos, devemos estar dispostos a dizer quem somos. Eu sou a ex-primeira-dama dos Estados Unidos e também sou descendente de escravos. É importante ter presente essa verdade”, disse Michelle Obama sobre a importância de reconhecer e valorizar as origens de cada um.

Michelle Obama, em uma cena de seu documentário.NETFLIX (Courtesy of Netflix)

6) “Não digam que fui rebotalho, que vivi à margem da vida. Digam que eu procurava trabalho, mas fui sempre preterida. Digam ao povo brasileiro que meu sonho era ser escritora, mas eu não tinha dinheiro para pagar uma editora”, protestou Carolina de Jesus, quando ainda morava na favela Canindé, antes de se tornar uma das primeiras escritoras negras do Brasil. Também é de sua autoria a frase clássica “o negro só é livre quando morre”.

A escritora Carolina Maria de Jesus.Divulgação

7) Graças ao seu programa de TV e seu conglomerado de entretenimento, a apresentadora Oprah Winfrey conseguiu romper as barreiras de raça e se tornar a mulher mais influente do mundo durante várias décadas. Esta foi a receita de seu sucesso: “Fui criada para acreditar que a excelência é a melhor forma de dissuadir o racismo e o sexismo. E é assim que oriento a minha vida.”

Oprah Winfrey, em 2019.

8) “A mudança não chegará se esperamos outra pessoa ou outro tempo. Somos nós mesmos os que estávamos esperando. Somos a mudança que buscamos”, é a inesquecível reflexão do ex-presidente Barack Obama gravada nas paredes do Museu da Cultura Afro-Americana de Washington.

Obama foi o primeiro presidente negro dos EUA.Europa Press

9) “Você pode me disparar com suas palavras, pode me cortar com seus olhos, pode me matar com seu ódio, mas, ainda assim, como o ar, eu me levantarei.” Essa é uma das frases mais célebres e inspiradoras da poeta e eterna defensora dos direitos civis Maya Angelou.

Maya Angelou, em Washington.

10) “A ira e a frustração que vemos uma vez mais em nossas ruas são apenas uma lembrança do pouco que crescemos como país desde nosso pecado original da escravidão. Essa é a nossa pandemia. Nos infecta a todos, e em 400 anos ainda não fomos capazes de encontrar uma vacina”, disse George Clooney em plena onda de protestos antirracistas pelo assassinato de George Floyd.

O ator George Clooney.GTRES

11) A congressista mais jovem da história dos EUA e referência indiscutível da nova esquerda, Alexandria Ocasio-Cortez, colocou Washington de cabeça para baixo com frases como esta: “Se você exige o fim dos distúrbios, mas não exige o fim das condições que criaram esses distúrbios, então você é um hipócrita.”

Alexandria Ocasio-Cortez, durante a marcha do Orgulho Gay, no Bronx. DAVID DELGADO (REUTERS)

12) “Não importa quanto dinheiro você tem, não importa quão famoso você é, não importa a quantidade de gente que te admira: ser negro nos EUA é duro. E temos pela frente um longo caminho como sociedade e para que nós, os afro-americanos, possamos nos sentir iguais nos EUA”, afirma LeBron James, que, apesar de ser o jogador de basquete mais importante deste século, sentiu na carne o racismo sistêmico de seu país.

Lebron James veste camisa em protesto de jogadores da NBA contra violência policial.

13) “Negar e silenciar é confirmar o racismo”, disse o técnico Roger Machado, do Bahia, em um épico discurso no Maracanã. “Minha posição como negro na elite do futebol condiz com isso. Na faculdade que eu fiz, só tinha eu de negro. Mas, mesmo assim, rapidamente, quando a gente fala isso, ainda tentam dizer: ‘Não há racismo, está vendo? Você está aqui’. Não, eu sou a prova de que há racismo porque eu estou aqui.”

Roger Machado (à dir.) e Marcão, no Maracanã.

14) Aretha Franklin, conhecida como ‘a rainha do soul’, lutou durante toda a carreira para acabar com a segregação racial nos EUA e pelos direitos das mulheres: “Todos exigimos e queremos respeito, homem ou mulher, negro ou branco. É nosso direito humano básico.” R.E.S.P.E.C.T.

Aretha Franklin canta diante do Papa Francisco.AFP

15) “Enquanto a filosofia que sustenta a existência de uma raça superior e outra inferior não for desacreditada e abandonada de uma vez por todas, em todas as partes haverá guerra. Eu digo: guerra”, cantava Bob Marley em sua canção War, inspirando-se no discurso do imperador etíope Haile Selassie I na Assembleia Geral da ONU de 1963.

Bob Marley, em frente a sua casa em Kingston, em1976.DAVID BURNETT

16) Em sua festejada e influente trajetória, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie reflete sobre questões como raça, identidade e feminismo. “A raça não existe para você porque nunca foi uma barreira. Os homens negros não têm essa oportunidade.”

Chimamanda Ngozi Adichie.Oliver Contreras

17) Trevor Noah, apresentador do noticiário satírico The Daily Show, narrou em sua imprescindível biografia Born a Crime como a xenofobia havia moldado sua vida. Nascido na África do Sul do apartheid, sua mera existência já era um crime. “O racismo é um problema, como o alcoolismo, que é preciso curar. É hereditário, você ensina aos seus filhos. Cresce de geração em geração. Se o tratássemos como uma doença, não rejeitaríamos os demais”, afirma.

Trevor Noah, apresentador do The Daily Show.

18) O ativista afro-americano Malcolm X, assassinado há 55 anos, transformou-se em mito por ter canalizado em seu discurso os séculos de opressão e ira vivenciados por sua comunidade. “Não há nada melhor que a adversidade. Cada derrota, cada angústia, cada perda contém sua própria semente, sua própria lição sobre como melhorar sua maneira de agir da próxima vez.”

O ativista por direitos civis Malcolm X discursa em Chicago.Getty

19) O jogador de futebol americano Colin Kaepernick enfrentou a facção mais reacionária dos EUA ao se ajoelhar durante a execução do hino, em protesto contra a brutalidade e a opressão da comunidade afro-americana. Embora não tenha sido contratado depois por nenhum time, ele é hoje uma referência da luta antirracista. Assim explicou seu gesto: “Não vou me levantar e mostrar orgulho pela bandeira de um país que oprime as pessoas negras. Para mim, isso é maior que o futebol americano, e seria egoísta da minha parte olhar para o outro lado. Há cadáveres nas ruas, gente assassinada injustamente e ninguém se responsabiliza.”

O ex-quarterback Colin Kaepernick.Loren Elliott (Reuters)

20) “O imaginário brasileiro, pelo racismo, não concebe reconhecer que as mulheres negras são intelectuais”, afirmou a escritora brasileira Conceição Evaristo, que ainda explica como se inspirou para manifestar suas aflições por meio da escrita. “Eu não nasci rodeada de livros e, sim, rodeada de palavras.”

A escritora Conceição Evaristo.Joyce Fonseca (Divulgação)

21) O ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 1949, William Faulkner, também se posicionou contra o supremacismo branco: “Viver em qualquer parte do mundo hoje e estar contra a igualdade por motivos de raça ou cor é como viver no Alasca e estar contra a neve.”

O escritor norte-americano William Faulkner.Cordon Press

22) Se existe um cineasta na atualidade responsável pelo auge da cultura negra no mundo, trata-se do ganhador do Oscar Spike Lee: “Não acredito que o racismo possa ser eliminado durante o resto da minha vida… nem na vida dos meus filhos, nem na dos meus netos. Mas acredito que devemos nos esforçar para isso. Continuarei trabalhando para que este dia chegue.”

Spike Lee, com um agasalho do Boca Juniors, em Madri.BERNARDO PÉREZ

23) “O racismo nos EUA é como a poeira no ar. Parece invisível, mesmo que você esteja se asfixiando, até que você deixa entrar o sol. Então vê que está em todas as partes. Se deixarmos a luz entrar, teremos a chance de limpá-lo. Mas temos que estar atentos, porque continua no ar”, afirma Kareem Abdul-Jabbar, lenda dos Los Angeles Lakers e um dos atletas mais politicamente comprometidos de seu tempo. Assim reconheceu Barack Obama em 2016, ao condecorá-lo com a Medalha da Liberdade dos EUA.

O ex-jogador de basquete Kareem Abdul-Jabbar assiste debate presidencial nos Estados Unidos.Drew Angerer


24) A escritora Margaret Atwood, que em distopias como O Conto da Aia (Rocco) reflete problemáticas como o segregacionismo, diz esperar “que as pessoas finalmente percebam que só há uma raça, a raça humana, e que todos somos membros dela”.

A escritora canadense Margaret Atwood no lançamento do seu livro 'Testamentos', em 2019.Tolga Akmen/AFP

25) “O Brasil aplaude a miscigenação quando clareia. Quando escurece, ele condena. O táxi não para pra você, mas a viatura para. Esse é o problema urgente do Brasil”, disse Emicida antes de lançar um álbum no Dia da Consciência Negra. O rapper paulistano se converteu em uma das vozes mais contundentes na luta contra o racismo.

SAO PAULO, SP, 2019: Emicida (Foto: Julia Rodrigues)Julia Rodrigues

Colaborou Breiller Pires, de São Paulo

Mais informações

Arquivado Em