Bolsonaro participa de roda de oração e expõe, novamente, conflitos com membros de seu Governo
Após jejum religioso convocado por ele e por evangélicos contra a Covid-19, presidente ajoelha, reza, tira fotos e diz não ter “medo de usar a caneta” contra “estrelas” de seu Governo
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participou no final da tarde deste domingo de uma roda de orações pelo fim da pandemia de coronavírus. Ele também anunciou o encerramento de seu “jejum religioso” contra a doença, que havia sido convocado por ele e por grupos evangélicos. Mas antes de iniciar a reza, que foi transmitida ao vivo em suas redes sociais, o presidente enviou alguns recados a membros de sua equipe, expondo, novamente, as rusgas internas de seu Governo, como fez na semana passada ao criticar diretamente o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
“Algumas pessoas no meu Governo, algo subiu a cabeça deles. Estão se achando. Eram pessoas normais, mas de repente viraram estrelas. Falam pelos cotovelos. Tem provocações”, afirmou, sem mencionar nomes. “Mas a hora deles não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles. A minha caneta funciona. Não tenho medo de usar a caneta nem pavor. E ela vai ser usada para o bem do Brasil, não é para o meu bem. Nada pessoal meu. A gente vai vencer essa”, declarou o presidente.
Nas últimas semanas, Bolsonaro vem se estranhando com o ministro da Saúde. “Está faltando um pouco mais de humildade para ele”, disse o presidente em uma entrevista à rádio Jovem Pan. No dia seguinte, Mandetta respondeu, durante entrevista coletiva diária que vem realizando, que continuaria no Governo. “Um médico não abandona o seu paciente”, afirmou. Enquanto Bolsonaro faz ameaças indiretas ao seu ministro, a popularidade de Mandetta, que segue defendendo as medidas de isolamento social impostas por governadores e prefeitos, sobe. Levantamento realizado pelo Datafolha e divulgado na semana passada mostrou que o número de brasileiros que apoiam o ministro da Saúde disparou (76%) e é mais que o dobro da de Bolsonaro (30%).
Os recados do presidente não apenas para membros de sua própria equipe. Antes das orações deste domingo, Bolsonaro voltou a criticar indiretamente os governadores que decretaram quarentena em seus Estados, afirmando que cada chefe do executivo quer dizer que “tem determinado mais medidas restritivas do que outro”. "Como se ele estivesse preocupado com a vida de alguém. A gente sabe que a preocupação não é com vidas. A preocupação é com jogadas políticas na maioria das vezes”, afirmou ele.
A semana que passou também foi marcada pela ameaça que Bolsonaro fez a governadores de acabar com a quarentena decretada por vários Estados com “uma canetada”. E defendeu que os municípios determinem a reabertura gradual do comércio. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), um dos primeiros a decretar quarentena em seu Estado, afirmou que iria à Justiça, caso o presidente a suspendesse. Neste sábado, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), renovou, neste sábado, a quarentena em seu Estado, adiando seu fim para o dia 20 de abril.
Pai Nosso e manifestações
Na cerimônia de encerramento de seu jejum, em frente ao Palácio da Alvorada, com cerca de 20 apoiadores e religiosos, o presidente e seus apoiadores rezaram um Pai Nosso. Ele ajoelhou, rezou e acompanhou o louvor proferido por um padre e um pastor para que “nenhum brasileiro morra mais dessa doença”, como afirmou o padre. A cerimônia informal durou cerca de 30 minutos. “Em nome de Jesus, eu quero declarar que no Brasil não haverá mais morte pelo coronavírus”, disse o padre. “E aqueles que estão doentes, nos hospitais, sejam curados pelo nome de Jesus”.
Contrariando as orientações do ministério da Saúde, o presidente aparece dando a mão para algumas pessoas, tirando fotos com seguidores, abraçando e conversando muito próximo a eles. Com exceção de uma senhora, nenhum dos homens, mulheres e crianças presentes, tampouco o presidente, usavam máscaras de proteção, conforme recomenda seu próprio ministério da Saúde.
O presidente também aproveitou o momento para dizer foi “massacrado pela mídia” por ter ido a Taguatinga na semana passada, onde tirou fotos e conversou muito de perto com apoiadores, que pediram pelo fim da quarentena. “Como se o general não pudesse estar no meio do soldado”, afirmou neste domingo.
Também em São Paulo, desrespeitando as orientações da área sanitária, um grupo de cerca de 200 manifestantes foi às ruas pedir o fim da quarentena, decretada no dia 24 de março, com validade até terça-feira 07, em todo o Estado.
Aglomerados, eles se reuniram em frente à sede da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), e depois seguiram para a Assembleia Legislativa para pedir a João Doria pela suspensão do isolamento social.
Neste domingo, o Ministério da Saúde divulgou que os casos confirmados de Covid-19 no Brasil subiram para 11.130, com 486 mortes notificadas em decorrência da doença.
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