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Eleições EUA 2020
Coluna
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Derrota de Trump liberou os EUA de seus demônios. Será agora a vez do Brasil?

Os brasileiros precisarão encontrar alguém disposto a reunificar o país com suas veias abertas e entusiasmá-lo com a esperança de um novo ciclo de prosperidade econômica

Bolsonaro ao lado do vice-presidente Hamilton Mourão, no último 9 de novembro.
Bolsonaro ao lado do vice-presidente Hamilton Mourão, no último 9 de novembro.EVARISTO SA (AFP)
Juan Arias
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Os Estados Unidos estiveram à beira de uma guerra civil provocada pelo histrionismo, pelo desprezo (ou mesmo perseguição) do presidente Trump às minorias, e também por seu negacionismo da pandemia. Já o presidente Bolsonaro chegou a pôr o país à beira de um golpe de Estado que teria levado o Brasil a uma nova ditadura, no que foi curiosamente freado pelos generais que se abrigam em seu governo.

Os Estados Unidos souberam castigar nas urnas quem ameaçava desarticular o país e o mundo com um populismo perigoso e vulgar.

Bolsonaro, considerado o Trump dos trópicos, não cumprimentou até agora o vencedor das eleições nas urnas, o qual não é nenhum comunista, e sim um liberal democrático. As pessoas são conhecidas por seus gestos, e Bolsonaro, com sua falta de educação e de diplomacia, retratou-se assim mesmo.

Assim como os norte-americanos se livraram dos demônios que afligiam uma das democracias mais sólidas e antigas do mundo moderno, podemos ter a esperança de que também o Brasil conseguirá unir o país novamente para se libertar do novo caudilho amante da violência e adorador das armas, que como Trump está dividindo o país e roubando-lhe a esperança?

O ganhador das eleições nos Estados Unidos, Joe Biden, declarou já em seu primeiro discurso como vencedor das eleições que deseja ser o presidente de “todos os norte-americanos e curar as feridas”, abraçando todas as minorias para reunificar o país, hoje a maior potência bélica e econômica do planeta.

O programa de Biden está nos antípodas do populista e racista brasileiro que discrimina, divide e envenena a sociedade. Com Biden, os Estados Unidos desejam que o país saia do inferno ao qual estava sendo arrastado pela loucura de um Trump, a quem a maioria dos norte-americanos disse chega.

O Brasil ainda está a tempo de escolher o caminho do inferno, com seu desprezo pela democracia e seu rechaço às minorias, ao qual está sendo empurrado por Bolsonaro, optando ao invés disso por voltar a dar ao mundo um exemplo de convivência com todas as suas diferenças e com a riqueza de suas possibilidades de criar uma sociedade plural e rica, econômica e culturalmente, características que sempre o distinguiram e o fizeram ser apreciado e respeitado no mundo.

A notícia mais explosiva dos últimos dias no mundo foi a derrota do histriônico Trump, que estava envenenando um país que foi sempre a meca de todos os que procuravam chances de superação. Não por acaso, a maioria de seus prêmios Nobel são filhos de imigrantes que se inseriram em um país que não fazia distinção de raça.

Talvez por isso o mundo tenha recebido com alívio a notícia da derrota de Trump, que ameaçava a democracia mundial e estava atemorizando o planeta. Agora o risco que o Brasil corre é o de não encontrar um Biden capaz de unificar um país rasgado e preocupado com o seu futuro e o de seus filhos.

O Brasil precisará encontrar alguém disposto a reunificar o país com suas veias abertas e entusiasmá-lo com a esperança de um novo ciclo de prosperidade econômica sem esses milhões de abandonados à sua sorte, e onde ninguém se sinta excluído e perseguido por suas ideias, seu credo e suas preferências políticas e culturais.

Existe no Brasil de hoje um Biden capaz de enfrentar sua crise de identidade e devolver ao país as ilusões perdidas? A responsabilidade que recai sobre os políticos brasileiros de todas as cores políticas duplica-se depois que os Estados Unidos deram um exemplo ao mundo de saber escolher a liberdade sobre a barbárie.

O Brasil, por sua importância econômica e política no continente, precisa se desfazer com urgência da forma de governar histriônica e infantil que o aflige, e que seja capaz de devolver a sua gente a fé perdida na velha política, raiz de tantos desassossegos que culminaram na aventura de um presidente e de um Governo que mais parecem estar dirigindo uma república bananeira que uma potência mundial.

Como escreveu este jornal em seu editorial, “o momento é grave e muitas coisas estão em jogo: sete décadas de florescimento dos valores democrático liberais estão ameaçadas por algo mais que nuvens escuras”.

E no Brasil?

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